domingo, setembro 04, 2005

A estória dos que as não contam

Era 1974/75. A jovem, nascida em Angola, donde nunca tinha saído, de 18 anos, chegou a Portugal em função de uma decisão que não era sua. Os pais tinha decidido. Tinha acabado o sétimo ano, que, naquela altura, dava acesso à Universidade, com exame de aptidão ou não - dependia das médias.
A vida, todavia, deu uma cambalhota e a Universidade ficou longe. O problema era a sobrevivência. Viver, dormir em cama lavada, tomar banho, comer. Vestir era o menos, desde que tivesse sabão para lavar à noite e vestir de dia.
Tempos difíceis. Foi ao Serviço de emprego e disse: "só ainda não estou preparada psicologicamentre para servir a dias. De resto, aceito tudo."
Conseguiu um emprego numa fábrica de conservas como operária, no turno das 11 da noite às 6 da manhã. Trabalho didícil, descascar legumes, ágia fria, mesmo no Inverno, bata e lenço na cabeça. Mesmo assim matriculou-se na Universidade e arranjava maneira de ir assistir às aulas. Fez a licenciatura que queria .
Um dia, o director do Serviço de Emprego, que, na altura lhe arranjou aquele emprego, foi a sua casa pedir-lhe desculpa. "não havia mais nada, não era possível... ele bem sabia que não era compatível, mas face à sua determinação..."
Anda por aí. Não faz o seu "mujimbo" com toda a gente, mas sente uma alegria interior particular. Cumpriu o que o pai - homem severo e exigente - sempre quis. Se é para estudar, estuda-se.
Conto eu por ela. Estamos juntos, miúda!

1 comentário:

Rita disse...

Eu conheço?????? Ai, odeio ser curiosa!!! Como gosto de ler este blog, heheheh!!