sábado, outubro 16, 2010

A" Morte" de um Blogue

Hoje, um leitor deste blogue deixou um comentário sob a forma de pergunta: "este blogue morreu?". Confesso que a pergunta me perturbou embora entenda as suas razões: de facto, nem eu nem os outros dois autores deste artefacto temos aparecido muito. Nos últimos tempos, diria mesmo que é raro. O tempo não é muito para lhe dedicar algumas horas livres e, para além disso, para um jornalista há sempre a questão do "feed-back" e ele não muito entusiasmante. Mesmo assim , aqui fica a afrimação de que o "Africandar" não está morto e de que eu, pelo menos, aqui voltarei mais vezes. Nem que seja para dar a conhecer textos que publiquei noutras alturas e noutros órgfãos, nomeadamente no semanário "África", tal como que se segue, escrito ainda nos anos oitenta, mas que, embora com algumas diferenças ainda se pode considerar actual.


Pensar África em África


O papel das superpotências em todo o processo de Independência em África ainda não foi completamente analisado e, certamente, só muito mais tarde o será de forma exaustiva e sistematizada, uma vez que tal tarefa competirá aos historiadores africanos. Ora, a verdade é que, actualmente, tal iniciativa parece estar longe das suas preocupações, sobretudo porque o factor ideológico ainda está demasiado vivo.

Não é difícil, contudo, perspectivar já um novo caminho para África, cada vez mais interessada nos seus próprios problemas e no modo como descobrir uma maneira africana para os resolver.

Assiste-se, presentemente, a uma certa euforia quanto à evolução política de África,vaticinando-se a concretização de um objectivo: a institucionalização de democracias representativas na grande maioria dos Estados africanos.

Se atentarmos mais detalhadamente nas reacções africanas a esta perspectiva poderemos facilmente constatar que a euforia é de fora para dentro. Não há grande entusiasmo no interior de África quanto a esta evolução.Também não é indiferença. Há, isso sim, um olhar mais atento sobre a realidade sócio-política do Continente.

Cada vez aparecem mais vozes a clamar pela institucionalização de regimes políticos que traduzam as preocupações mais profundas das populações e que correspondam às suas formas de organização social, nunca destruídas pela colonização europeia.

A prática democrática da gestão dos negócios dos vários grupos africanos é de há séculos, mas não assenta nos mesmos princípios que orientam as formações políticas europeias. È essa a verdade que está a vir ao de cima no actual debate sobre a democracia. Um debate, que, mais uma vez, está a ser conduzido de fora para dentro.

Um debate que, sobretudo, está a ser pressionado de fora para dentro. De facto, o processo de Independência de África criou, à partida e de maneira quase indestrutível, dependências inultrapassáveis, gerou alianças políticas manietadoras e aprisionou a imaginação dos intelectuais africanos, submetidos à pressão de análises e padrões industrializados e, por isso mesmo, incapacitados de analisar as realidades dos seus povos.

Esta circunstância ampliou as análises rácicas, à sombra de falsos conceitos de igualdade, delimitou campos de actuação política ee conómica, marginalizou, numa palavra, a verdadeira África.

Como consequênica imediata desta influência das superpotências no processo de Independência de África, temos todo um continente a respirar por um pulmão intelectual artificial.

Com a perspectiva de este vir ser desligado – o que está a acontecer agora – verifica-se o atrofiamento do pulmão natural e o resultado é um pouco o pânico, a desorientação, a procura de caminhos às apalpadelas. O Continente está, de certo modo, a ser telecomandado, com a aparência de estar a executar movimentos próprios.

Um dos exemplos mais flagrantes desta situação diz respeito ao ensino, à preparação de quadros, até agora dependente, em grande parte, das bolsas de estudo fornecidas pelo estrangeiro.

Estas bolsas serviram para formar milhares de quadros africanos à luz de princípios e de uma realidade perfeitamente desajustados dos enquadramentos profissionais dos educandos logo após a conclusão dos seus cursos, que, em última analise, serviam apenas de suporte a reivindicações de estatuto social e consequente aumento dos aparelhos administrativos dos Estados, transformados, na maior parte dos casos, em olimpos de reconhecimento para os militantes mais fiéis.

É evidente que o desajustamento é agora mais do que visível e a verificação de que, pelo menos uma geração de quadros está praticamente queimada, conduz a uma maior perturbação, para além de colocar problemas graves ao nível da formação das gerações seguintes.

Como consequência, em África procura-se uma alternativa, que passa pelos esforços de muitos dos Estados em criarem os seus próprios sistemas de formação, que, naturalmente conduzirá a definições e escolhas que leve a Juventude Africana a aprender ao mesmo tempo o saber e a cultura universais e a realidade das suas terras.

A concretizar-se, este objectivo ajudará a que os africanos se reencontrem e possam, no futuro, juntar às actuais concepções de vida, uma outra, a africana, sem que ela signifique xenofobia, racismo, à mistura com o culto dos valores estrangeiros.