O pós-25 de Abril em Angola, para quem ansiava pelo fim do sistema não foi fácil. O território vivia sob o mais forte obscurantismo. Ninguém esclarecia nada nem ninguém. As conversas de que os programas radiofónicos dos movimentos de libertação tinham grandes audiências no interior, é pura fantasia. Para a população que vivia em Angola não havia guerra. Os seus efeitos estavam contidos em parcelas diminutas do território.
Para quem, como eu, tinha feito quase quatro anos de tropa em diversas circunstâncias, aquela guerra não passava de uma indústria. Estou convencido de que mais de 60 por cento do orçamento contabilizado como para custear a guerra era pura e simplesmente roubado. O roubo começava no cabo do rancho e continuava por aí fora até chegar às altas instâncias, aquelas que controlavam as grandes compras de material de guerra, material auto, fardamentos, logística, etc.
A notícia do 25 de Abril foi recebida no Lubango, onde me encontrava na altura, com grande alegria por meia dúzia de pessoas e com grande ansiedade pela grande maioria. O nome do general Spínola preocupou a meia dúzia e alegrou a maioria.
Eu era o director da Rádio Comercial de Angola (ainda estou para saber onde é que o Emídio Rangel foi arranjar aquela ideia de que foi ele que mandou dar a notícia do golpe em Lisboa...). Tinha o privilégio de ter a trabalhar comigo o Fernando Alves, então um jovem e talentoso jornalista que tinha a minha total confiança. O Leonel Cosme era o administrador delegado.
Nesse mesmo dia, aquela Rádio (Comercial) se transformou na primeira voz livre de Angola. Olhando para trás sou capaz de admitir que cometemos alguns erros. Mas pagámo-los, porque, entretanto, o Comandante Venâncio Guimarães Sobrinho, mandatário de todos os accionistas da Rádio Comercial, na prática a única Rádio privada de Angola, nos despediu com um argumento de substância: "eu não lhes pago para dizerem bem de mim, mas, seguramente, também não lhes pago para dizerem mal de mim..."
O pior foi receber a indemnização a que tínhamos direito. O nosso (meu) interlocutor foi o engº. Cardoso e Cunha, genro de Venâncio Guimarães e o administrador de todos os seus empreendimentos. O diálogo entre mim e ele não foi simpático, mas pagou. A Rádio Comercial foi, de novo, entregue a um senhor chamado Carlos Alberto - que esqueceu o que estava a acontecer no país.
Eu e o Fernando Alves ficámos desempregados. A Zi, que era professora, além de trabalhar na Rádio Comercial, ficou triste mas tinha emprego, o Saraiva Coutinho fez um jogo de cintura e lá continuou, o Carlos Carvalho, um dos frutos da nossa "Rádio Escola" embarcou para Lisboa...
Eu concorri para dar aulas no Liceu Diogo Cão. Fomos despedidos em Setembro de 1974, depois de ainda termos tido o prazer de silenciar a Rádio Comercial por três minutos para assinalar o assassínio de Salvador Allende. Antes disso citámos tudo, desde Nietchze a Mao Tsetung e apoiámos todas as lutas, desde que contra patrões retrógrados.
Para quem, como eu, tinha feito quase quatro anos de tropa em diversas circunstâncias, aquela guerra não passava de uma indústria. Estou convencido de que mais de 60 por cento do orçamento contabilizado como para custear a guerra era pura e simplesmente roubado. O roubo começava no cabo do rancho e continuava por aí fora até chegar às altas instâncias, aquelas que controlavam as grandes compras de material de guerra, material auto, fardamentos, logística, etc.
A notícia do 25 de Abril foi recebida no Lubango, onde me encontrava na altura, com grande alegria por meia dúzia de pessoas e com grande ansiedade pela grande maioria. O nome do general Spínola preocupou a meia dúzia e alegrou a maioria.
Eu era o director da Rádio Comercial de Angola (ainda estou para saber onde é que o Emídio Rangel foi arranjar aquela ideia de que foi ele que mandou dar a notícia do golpe em Lisboa...). Tinha o privilégio de ter a trabalhar comigo o Fernando Alves, então um jovem e talentoso jornalista que tinha a minha total confiança. O Leonel Cosme era o administrador delegado.
Nesse mesmo dia, aquela Rádio (Comercial) se transformou na primeira voz livre de Angola. Olhando para trás sou capaz de admitir que cometemos alguns erros. Mas pagámo-los, porque, entretanto, o Comandante Venâncio Guimarães Sobrinho, mandatário de todos os accionistas da Rádio Comercial, na prática a única Rádio privada de Angola, nos despediu com um argumento de substância: "eu não lhes pago para dizerem bem de mim, mas, seguramente, também não lhes pago para dizerem mal de mim..."
O pior foi receber a indemnização a que tínhamos direito. O nosso (meu) interlocutor foi o engº. Cardoso e Cunha, genro de Venâncio Guimarães e o administrador de todos os seus empreendimentos. O diálogo entre mim e ele não foi simpático, mas pagou. A Rádio Comercial foi, de novo, entregue a um senhor chamado Carlos Alberto - que esqueceu o que estava a acontecer no país.
Eu e o Fernando Alves ficámos desempregados. A Zi, que era professora, além de trabalhar na Rádio Comercial, ficou triste mas tinha emprego, o Saraiva Coutinho fez um jogo de cintura e lá continuou, o Carlos Carvalho, um dos frutos da nossa "Rádio Escola" embarcou para Lisboa...
Eu concorri para dar aulas no Liceu Diogo Cão. Fomos despedidos em Setembro de 1974, depois de ainda termos tido o prazer de silenciar a Rádio Comercial por três minutos para assinalar o assassínio de Salvador Allende. Antes disso citámos tudo, desde Nietchze a Mao Tsetung e apoiámos todas as lutas, desde que contra patrões retrógrados.
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