Tinha a intenção de contar, a seguir, o segundo episódio deste retiro que o meu irmão, muito votado ao serviço do senhor na época, montou para nós, pobres pecadores. Não deixem de ler que vai ser, pelo menos, divertido...
Acontece, entretanto, que o António Gonçalves resolveu contar a sua estória da Casa Amarela, narrando episódios curiosos da passagem dele pelos palcos da chamada guerra civil angolana.
Só para dizer que nos cruzámos em alguns itinerários. Eu estava do outro lado e tenho estórias divertidas, dramáticas, de vida e de morte, que hei-de contar.
Agora, só assinalo este facto: nós os dois, aparentemente, e na prática, em lados opostos de uma guerra, acabámos amigos, camaradas de trabalho num jornal com uma linha editorial que nos cobria a ambos e , agora, companheiros de escrita de um blog, onde as diferenças, podendo existir, são, afinal, motivo para o fortalecimento de uma amizade de que me orgulho.
A certa altura, o António diz que ele e o Renato Ramos, que eu conheci no Alvor, foram para o Lubango, a fim de tomar conta da Rádio. A Rádio, por aquelas paragens, entretanto, tinha uma história diferente da colonial: já se chamava Rádio Popular, tinha sido organizada por mim e além do português, transmitia em mais quatro línguas nacionais.
A FNLA dele e a UNITA do Savimbi nunca a conseguiram pôr a funcionar esta estrutura aperentemente complexa.
Nesse mesma Rádio, quando os soldados sul-africanos entraram, de armas apontadas à procura de um loiro, que era eu, encontraram o Caldeira. Encostaram-no à parede, mas por sorte dele, apareceu alguém que me conhecia e disse : "não é esse!"
Coitado do Caldeira, um óptimo técnico de Rádio, acabou por morrer num desastre de viação, provocado por um fapla doido, na esquina do Rádio Clube com a Pensão Lubango, então transformada em prisão da DISA e já depois de a UNITA e FNLA, mais os sul-africanos que os acompanhavam, terem sido corridos para além da fronteira do Cunene
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