Pedro Pires está em Lisboa e tudo indica que irá anunciar a sua recandidatura à Presidência da República de Cabo Verde, numa próxima ocasião, naturalmente em Cabo Verde.
Ainda sem ter a certeza de tal recandidatura, aqui estou a exprimir o meu total apoio, a minha inteira solidariedade.
Pedro Pires é um dos fundadores da Pátria Cabo-verdiana, um dos homens que mais trabalhou para viabilizar um país em que poucos acreditavam. Mesmo uma grande parte dos cabo-verdianos não cria na possibilidade de a sua terra se transformar num Estado respeitado.
As carências eram de tal ordem que o desespero era a resposta mais pronta, mais compreensível.
Todavia, o grupo que liderou a independência de Cabo Verde ( e durante um certo tempo, em simultâneo, a da Guiné Bissau) era proveniente de uma "nata" especial de homens: eram filhos de gente que apostou tudo na educação dos filhos; eles próprios eram conhecedores das dificuldades dos pais.
Para estudar tiveram que sacrificar os melhores anos das suas vidas; abandonaram as famílias, a sua terra. Só lhes restava estudar e intreressar-se pela envolvente que determinava a segregação em que a sua gente vivia.
O contacto com outros jovens, provenientes de outras terras, mas sujeitos, afinal, aos mesmos condicionalismos, abriu horizontes, criou solidariedades, ajudou a definir estratégias, a procurar apoios.
Pedro Pires é um dos impulsionadores de todo o movimento de luta anti-colonial verificado em Portugal e nas suas colónias. Fugido de Portgal em 1961, juntamente com um grupo de angolanos, que fez a rota de Marrocos/Argélia, depressa se juntou a Amilcar Cabral em Konackry.
Desempenhou todas as tarefas de militante empenhado na luta armada, dirigiu frentes de combate e, quando, finalmente, a possibilidade da Independência se colocou, ele foi o homem que encabeçou as negociações. Rodeado de um grupo de jovens - alguns dos quais ainda estudavam, nomeadamente na Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa - conduziu as negociações que levaram à Declaração de Independeência da República de Cabo Verde, em 5 de Julho de 1975.
Durante 15 anos foi primeiro-ministro de um governo verdadeiramente heróico, já que, ao contrário de outros países, potencialmente muito ricos, Cabo Verde, muito pobre, foi crescendo, graças à tenacidade de políticas independentes, que não aceitavam transformar o povo cabo-verdiano num povo de assistidos, miseráveis, pendurados na caridade internacional.
No princípio dos anos 80 Cabo Verde crescia entre sete e oito por cento. E foi resolvendo os seus problemas. Por essa mesma altura, Aristides Pereira anunciava que "já não se morria de fome em Cabo Verde".
Foi Pedro Pires que, antecipando-se ao movimento da Perestroika, introduziu em Cabo Verde a discussão da liberdade política e pôs em causa o mono-partidarismo.
Quando, nos finais da década de oitenta, se iniciou a luta política, tendo já em mira um sistema multipartidário, Pedro Pires e os seus ministros foram insultados, vilipendiados por panfletos anónimos em que eram acusados de todo o tipo de corrupção. Todos eles "tinham contas no estrangeiro e privilégios sem conta".
Este movimento de panfletos anónimos foi claramente apoiado pelas principais figuras que entretanto se consideraram da oposição, sendo que algumas delas, como, por exemplo, Carlos Veiga, tinham enriquecido à custa de chorudos salários, pagos pelas tabelas internacionais das Nações Unidas, para elaborarem projectos de lei - tarefas que cabiam perfeitamente no seu estatuto de cidadãos (juristas) nacionais.
A Igreja Católica, comandada pelo bispo, D. Paulino Évora também teve o seu papel. Alguns dos panfletos anónimos sairam das suas tipografias.
Em 1991 o PAICV perdeu as eleições para o MpD, comandado por Carlos Veiga e durante dez anos desbaratou o capital acumulado pelo PAIGC/PAICV nos primeiros 15 anos de Independência do país.
Pedro Pires teve que voltar a viver na casa da mãe. Afinal, as acusações de que fora alvo e que contribuiram para a sua derrota eleitoral revelaram-se totalmente falsas.
Os seus conterrâneos da Ilha do Fogo, emigrantes nos Estados Unidos, cotizaram-se para lhe comprar um carro.
Voltou ao começo. Tinha que pôr de pé o PAICV. Encontrei-me várias vezes com ele durante esse período difícil. Viajava sózinho, tomava conta da agenda, das viagens, mas nunca desistiu. Disputou a liderança do partido em diversas circunstâncias e em 2001, depois de o PAICV, contrariando todas as sondagens, ter ganho a maioria absoluta nas eleições legislativas, Pedro Pires foi eleito, a seguir, por sufrágio universal e directo, como Presidente da República de Cabo Verde.
Já passou os setenta anos, Pedro Pires, mas continua com a mesma energia do primeiro-ministro que montou gabinete nas antigas instalações da Câmara Municipal da Praia e trabalhava desde as oito da manhã até altas horas da noite.
Mais do que um chefe político, Pedro Pires é, hoje, um pai de todos os cabo-verdianos, capaz da palavra certa, do conselho correcto e da acção decidida pela defesa da sua terra e da Pátria que ajudou a construir.
A sua recandidatura, mais do que um acto de justiça é uma acção de prevenção, porque a alternativa é, de novo Carlos Veiga, um verdadeiro compressor da política que tudo sacrifica em nome dos interesses dos seus familiares e dos seus amigos.
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