domingo, novembro 14, 2010

14 de Novembro na Guiné Bissau

A 14 de Novembro de 1980, há trinta anos, pela madrugada, uma força militar saiu à rua, os seus chefes meteram Nino Vieira, que era o Primeiro Ministro do Governo de Luís Cabral, num carro blindado e foram ao palácio presidencial dar um golpe de estado; mataram José (?) Buscardini, o chefe da segurança, prenderam Luís Cabral e ditaram uma nova era para o país onde se desenvolveu uma luta de libertação vitoriosa.

Libertaram alguns presos políticos, entre os quais Rafael Barbosa, que foi imediatamente à Rádio Nacional e, apresentado como um " dos melhores filhos da nossa terra", fez um discurso violento contra os soviéticos, mas, sobretudo, contra os cabo-verdianos, que, na verdade, tinham dirigido a luta de libertação e, na prática, governavam o país.

Luis Cabral, irmão de Amílcar, era cabo-verdiano, o secretário geral do PAIGC, que controlava a Guiné Bissau e Cabo Verde, era cabo-verdiano, o mesmo acontecia ao secretário geral-adjunto, Pedro Pires.

Era aqui que estava a verdadeira questão do golpe, a mesma que tinha estado por detrás da morte de Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973.

Era, afinal, uma razão previsível para quem estava suficientemente afastado do processo.

Era também a razão que justifica o facto de a Guiné Bissau ser hoje um estado falhado.

Amílcar foi, de facto, um sonhador de um sonho impossível. Basta constatar a diferença entre os dois estados que o "seu" partido governava há trinta anos

sábado, outubro 16, 2010

A" Morte" de um Blogue

Hoje, um leitor deste blogue deixou um comentário sob a forma de pergunta: "este blogue morreu?". Confesso que a pergunta me perturbou embora entenda as suas razões: de facto, nem eu nem os outros dois autores deste artefacto temos aparecido muito. Nos últimos tempos, diria mesmo que é raro. O tempo não é muito para lhe dedicar algumas horas livres e, para além disso, para um jornalista há sempre a questão do "feed-back" e ele não muito entusiasmante. Mesmo assim , aqui fica a afrimação de que o "Africandar" não está morto e de que eu, pelo menos, aqui voltarei mais vezes. Nem que seja para dar a conhecer textos que publiquei noutras alturas e noutros órgfãos, nomeadamente no semanário "África", tal como que se segue, escrito ainda nos anos oitenta, mas que, embora com algumas diferenças ainda se pode considerar actual.


Pensar África em África


O papel das superpotências em todo o processo de Independência em África ainda não foi completamente analisado e, certamente, só muito mais tarde o será de forma exaustiva e sistematizada, uma vez que tal tarefa competirá aos historiadores africanos. Ora, a verdade é que, actualmente, tal iniciativa parece estar longe das suas preocupações, sobretudo porque o factor ideológico ainda está demasiado vivo.

Não é difícil, contudo, perspectivar já um novo caminho para África, cada vez mais interessada nos seus próprios problemas e no modo como descobrir uma maneira africana para os resolver.

Assiste-se, presentemente, a uma certa euforia quanto à evolução política de África,vaticinando-se a concretização de um objectivo: a institucionalização de democracias representativas na grande maioria dos Estados africanos.

Se atentarmos mais detalhadamente nas reacções africanas a esta perspectiva poderemos facilmente constatar que a euforia é de fora para dentro. Não há grande entusiasmo no interior de África quanto a esta evolução.Também não é indiferença. Há, isso sim, um olhar mais atento sobre a realidade sócio-política do Continente.

Cada vez aparecem mais vozes a clamar pela institucionalização de regimes políticos que traduzam as preocupações mais profundas das populações e que correspondam às suas formas de organização social, nunca destruídas pela colonização europeia.

A prática democrática da gestão dos negócios dos vários grupos africanos é de há séculos, mas não assenta nos mesmos princípios que orientam as formações políticas europeias. È essa a verdade que está a vir ao de cima no actual debate sobre a democracia. Um debate, que, mais uma vez, está a ser conduzido de fora para dentro.

Um debate que, sobretudo, está a ser pressionado de fora para dentro. De facto, o processo de Independência de África criou, à partida e de maneira quase indestrutível, dependências inultrapassáveis, gerou alianças políticas manietadoras e aprisionou a imaginação dos intelectuais africanos, submetidos à pressão de análises e padrões industrializados e, por isso mesmo, incapacitados de analisar as realidades dos seus povos.

Esta circunstância ampliou as análises rácicas, à sombra de falsos conceitos de igualdade, delimitou campos de actuação política ee conómica, marginalizou, numa palavra, a verdadeira África.

Como consequênica imediata desta influência das superpotências no processo de Independência de África, temos todo um continente a respirar por um pulmão intelectual artificial.

Com a perspectiva de este vir ser desligado – o que está a acontecer agora – verifica-se o atrofiamento do pulmão natural e o resultado é um pouco o pânico, a desorientação, a procura de caminhos às apalpadelas. O Continente está, de certo modo, a ser telecomandado, com a aparência de estar a executar movimentos próprios.

Um dos exemplos mais flagrantes desta situação diz respeito ao ensino, à preparação de quadros, até agora dependente, em grande parte, das bolsas de estudo fornecidas pelo estrangeiro.

Estas bolsas serviram para formar milhares de quadros africanos à luz de princípios e de uma realidade perfeitamente desajustados dos enquadramentos profissionais dos educandos logo após a conclusão dos seus cursos, que, em última analise, serviam apenas de suporte a reivindicações de estatuto social e consequente aumento dos aparelhos administrativos dos Estados, transformados, na maior parte dos casos, em olimpos de reconhecimento para os militantes mais fiéis.

É evidente que o desajustamento é agora mais do que visível e a verificação de que, pelo menos uma geração de quadros está praticamente queimada, conduz a uma maior perturbação, para além de colocar problemas graves ao nível da formação das gerações seguintes.

Como consequência, em África procura-se uma alternativa, que passa pelos esforços de muitos dos Estados em criarem os seus próprios sistemas de formação, que, naturalmente conduzirá a definições e escolhas que leve a Juventude Africana a aprender ao mesmo tempo o saber e a cultura universais e a realidade das suas terras.

A concretizar-se, este objectivo ajudará a que os africanos se reencontrem e possam, no futuro, juntar às actuais concepções de vida, uma outra, a africana, sem que ela signifique xenofobia, racismo, à mistura com o culto dos valores estrangeiros.



quinta-feira, setembro 02, 2010

As Organizações Internacionais

Hoje apareceram-me duas jovens voluntárias da UNICEF a convidarem-me para aderir à campanha "AMIGO DA UNICEF". Simpáticas, convictas, ouviram com alguma surpresa a ideia que eu tenho das organizações internacionais, a começar pela ONU: que os dinheiros angariados desta e doutras maneiras vão, na sua grande parte, para pagar altos salários a funcionários da ONU, da UNICEF, da FAO, Do Alto Comissariado para os Refugiados e toda a sorte de outras pequenas e grandes organizações.

Expliquei-lhes que, por exemplo, o que está a acontecer em Moçambique e que, seguramente, virá acontecer noutras latitudes, também é responsabilidade de todas estas organizações internacionais, completamente desligadas das realidades que dizem querer proteger.

Estas organizações exploram de forma miserável a boa vontade dos jovens voluntários, muitos dos quais têm que pagar as suas próprias passagens para viajar para os países onde vão prestar todos os serviços que os "funcionários" efectivos não fazem, que têm de pagara a sua própria alimentação, etc. , etc.

Todavia, para premiar o esforço e a boa vontade destas duas jovens que, em vez de estarem encostadas numa esplanada qualquer a fumar e a beber, dedicam o seu tempo livre a uma causa que entendem justa, resolvi aderir à causa. A partir de hoje sou, portanto, "AMIGO DA UNICEF". Era bom que as notícias começassem a dizer alguma coisa diferente sobre a actuação oficial e oficiosa dos agentes responsáveis por esta orgenização.

Vou acompanhar com mais interesse e também com maior sentido crítico. Afinal, o Mundo está como está porque todos nós cruzamos os braços perante os engravatados poderosos,  que passam pelos miseráveis e pela miséria de nariz tapado e olhos baços. 

terça-feira, agosto 17, 2010

Notícia, a Referência angolana de uma imprensa activa

Publicamos a seguir uma série de textos que, mais do que recordações, representam um trabalho( a investigação possível) de António Gonçalves, o Chefe de Redacção mais activo e criativo dos bons tempos do "Notícia"., uma revista angolana que começou a ser publicada nos anos 50 e acabou com o 25 de Abril.

O António é colaborador deste blogue. Alguns dos textos mais interessantes, pelo humor pela crítica certeira, pera referência atempada, são dele.

Um dia sugeriu a ideia de fazer um trabalho de investigação sobre a Revista "Notícia", o jornal do Charula, depois do Fernado Fernades - " A Chuva e o Bom tempo" - mas, seguramenmte a paixão do António Gonçalves.

Um dia, trabalhava ela na RDP, convidei-o para chefe de Redacção do Jornal África - depois de ambos termos feito uma viagem a Angola e em que lhe vi correr lágrimas grossas pelo rosto, quando o avião bateu na pista do aeroporto de Luanda,

Ficou ele surpreendido e todo o pessal que então trabahava no Semanário África. Houve mesmo algumas "revoltas na Bounty", mas ele, com a minha confiança total, assumiu a chefia da redacção com a mesma dedicação com  que o tinha feito no "Notícia",

Tivemos problemas ?  Alguns! Mas nunca de confiança.

Convidei-o depois para fazer parte deste blogue e a sua colaboração é saborosa, sábia, o testemunho e alguém que  viveu vidas e vidas...e vidas.

Os textos devem ser lidos com dois cuidados: primeiro: o António não os reviu; segundo, inverti-lhes a ordem, o que, para quem lê blogues quer dizer que o fim da história não está no primeiro texto, mas no último.

Um outro apontamento: tentámos tudo para ter imagens que falassem das várias fases aqui retratadas do "Notícia", a "televisão angolana dos anos sesssenta". Não o conseguimos, pelo que a leittura dos textos, a " seco" pode parecer maçadora, mas eu, pessoalmente, peço aos leitores que não desistam: vão ficar a conhecer episódios interessantes de um verdadeiro fenómeno de comunicação nos tempos da " antiga senhora".

+N+ Era e Foi-se

O «notícia» foi sempre,desde o início, um semanário ilustrado. Saía, sim senhor, enquanto eu lá estive, aos sábados. Pois sim, mas...Era impresso à quinta-feira, ao fim da tarde. Nessa mesma noite seguia de maximbombo para o Lobito. Pelo caminho ia despejando, aqui e ali, o jornal, como sempre lhe chamámos. Até à Cela era pão com manteiga, mas quando se começava a descer o morrro da Gabela, já não era brinquedo!
Eu sei porque fiz uma vez a viagem no camion!
Do Lobito, o jornal prosseguia a viagem para o Leste, de combóio. Não me lembro exactamente até onde, até onde durasse a sexta-feira, porque ao sábado estaria disponível em toda Angola.
Em Luanda procurava-se retê-lo de modo a ser exposto para venda ao sábado. Mas nas noites de sexta-feira já se via gente a folhear o «jornal», como nós, os que lá trabalhávamos, sempre dissemos.
O nosso «jornal» saiu do nada, por iniciativa do proprietário de uma oficina gráfica, da qual se fez ele próprio cliente. Angola não parecia dizer muito ao entusiasmado Simões. Era um sítio de portugueses. E «estes» careciam de saber melhor o que fazia o Benfica ou o Sporting e evidentemente o Porto, sem perder de vista as idas e vindas do senhor governador ou até dos ministros e secretários de estado que fossem aparecendo.
Vou rever a matéria, aprender o «Jornal» que só conheci quando desembarquei em luanda nos idos de 64. Antes de chegar ao +N+ estagiei no «Comércio». Era um diário, um daqueles que «saía» todos os dias. O director estava doente, em Lisboa.

«Fumar pode ser funesto para o bébé», manchete de l959! Bom, era já de Dezembro,19 mais exactamente,mas quase que podia ser de hoje!, Outra, garantia que Costa Pereira se evidenciara no Sporting-Benfica! Na pág. 14, uma formidável interrogação: «O que é afinal o Mercado Comum?. Na pág. 22 repete-se a pergunta. Pequena gaffe?
Devo salientar que o Hotal Mombaka, de Benguela, aparece evidenciado como terceiro
hotel portugês!
No número seguinte, Costa Pereira volta à evidência: «Nós, os ultramarinos somos tão acarinhados como se tivessemos nascido nos Restauradores. O campeonato português de Portugal fez parte da notícia, como se calcula: «Benfica, à frente, seguido do Sporting. Depois o Guimarães e a seguir o Belenenses. Depois, ainda, o Covilhã e a Académica e só então (7º) o Porto! Aquilo é que eram tempos!...
É no terceiro número, já em 1960, que encontro Angola, com o título: «Morreu o "Cunha" da Quibala». Ergueu um hotel famoso, que espantou o governador de então:Um tal hotel, numa terra que não tinha nem cem habitantes!!! (O que é que o governador entenderia por habitantes?!). Passei por cima «Do Minho ao Algarve»; mirei duas colunas sobre futebol angolano, mas as duas fotos eram jogo Porto-First de Viena...
Finalmente o núnero 4 tem um destaque «nacionalista»: +Angola de Lés a Lés+. Duas páginas inteiras, duas!Logo seguido de uma entrevista com Santos e Sousa - «é antes demais um profissional da Rádio».
Lá isso era e continuou a ser.
Deliciosa a capa do nº5, com a posse do novo governador-geral, dr.Silva Tavares, distinguindo-se entre os assistentes à posse diversos militares de alta patente, o ministro Rui Ulrich, que tutelava as Corporações, a Justiça e o Interior. Coube, claro, ao ministro do Ultramar, Lopes Alves, dar posse.
Na edição seguinte: «sua excelência o Senhor Governador-Geral cumprimenta o representante do +N+, com o sorriso que a imprensa angolana lhe merece!
Mas, no interior, o primeiro choque emocional: Carlos Fernandes, «o moço artista» ganhava o 1º Prémio da «Cultural». Natércia Freire iniciava a sua colaboração no semanário angolano.
No fim de Janeiro anunciava-se o «circuito da Fortaleza». Era bem a mania das corridas de automóveis a impôr-se. E como antologia de grandes reportagens optou-se pelo ataque japonês a Pearl-Harbour!
O «Pica-Pau» fez aparição a 20 de Fev., com uma história infantil e uma foto nos «amigos do». Ocorreu-me que quando entrei no +N+ o chefe me ter dito, com um sorriso de gozo: «...e tens de fazer o pica-porrra»!»
Ainda reli o anúncio a avisar a malta que o +N+ se vendia em Lisboa nas livrarias Bertrand, Portugal e Barata, bem como na delegação, à rua Edison, que não faço a mínima ideia onde seja ou tenha sido.

+N+ ERA E FOI-SE (2)

Faço uma pausa para sublinhar o meu apego ao «jornal» onde cresci como jornalista.
O +N+ apareceu e marcou o seu espaço. Reflectia o meio ambiente onde evoluia. Improvisava, claro, mas buscava colaboração dos melhores. E sem querer aferir da qualidade dos leitores luandinos, talvez que nos finais de 59 se desse preferência ao Baile Trapalhão, no Estoril; ou aos filhos princeses, Carlos e Anne, de Isabel fascinassem mais as jovens senhoras!Os olhos, hoje, são outros. Em Abril de 60 o dr. Salazar irá completar 72 anos e ainda lhe sobravam uma data deles por fazer. As notícias eram essas e eram assim. E como «Eles» não eram muito bons, as notícias reflectiam: «Chinos e portugueses vivem amigos nas ruas apertadas e populosas de Macau. E, vejam lá, o Tribunal de Haia reconhecia o direito de Portugal na Índia!
Por essas e outras é que aconteciam as notícias.
«Vamos ou não perpectuar em Angola a memória do Infante»? - perguntava Jerónimo Ramos
nesse Abril.
Sei lá! Teria eu dito se lá estivesse...
E o décimo (número) saiu (ainda) branco. Sem fulgor, quero dizer. O regresso do governador-mór a Luanda ocupa a capa, deixando um niquinho para o nascimento do terceiro filho de Isabel II.
O número seguinte surge visivelmente melhor arrumado, mas sem assumir-se como jornal angolano ou luandino. No entanto, Agnelo Paiva comenta: «Produzimos azeitonas...mas importamos azeite!» Claro que importavam! Mas de onde?. Ora, os de «onde» não queriam saber de desgraças. A mesma questão voltaria a ser colocada, uns anos depois, por mór das uvas e do vinho que poderia fazer-se, mas não se fez porque, de Lisboa, não deixavam...
E duas páginas inteiras (ou quase) ao Carnaval no Muceque. Devem ter «gamado» um pouco de espaço, uma coluna, para referir a visita do ministro Teotónio Pereira à Índia (lusitana), a que se seguiria um pulo a Luanda!
O nº 13 deu azar e estragou um pouco a pintura. Um desenho sombrio improvisa o terramoto de Agadir e o texto de Couto Rodrigues um desalento de impotência por falta de Informação. Com horários, as oficinas eram implacáveis! Pior ainda o insulto da agência que fornecia a notícia: «apenas alguns milhares de mortos»!
Mas também (e finalmente) uma imagem africana, angolense e luandona,os pescadores da Ilha e o título: «Enquanto a cidade dormia»...
No fim de Março a capa não aparece a preto e branco. Não é ainda a cores, mas com um fundo avermelhado, já sobressai... Abril ressurge a preto e branco, com duas misses europeias, em bikini, no Mussulo. A reportagem sobre elas parece um tudo nada saloia, mas como Salazar aparece também a fazer os já citados 72 anos, fica tudo a condizer... E um texto giro sobre crise que não era crise ou de crise escondida com rabo de fora, com graça e bem feito não é assinado. Cautela e caldos de galinha são precauções como outras quaisquer...Mas era, vamos lá o princípio de usar o jornal (semanário) angolano para falar preferencialmente de Angola, ainda que para insinuar uns tropeções! Angola ganha espaço, desperta! Ainda sobra muito pr'os portugas e a cohabitação parece possível.No fim de Abril, Ernesto Lara aparece a asinar um delicioso texto, onde se vislumbra bem o que ele quis dizer com o seu azulejo para Brasília...
A 14 de Maio, finalmente um africano, pequenino é certo, mas escuro que baste, sentado num alguidar,olha em frente, como se olhasse para mim, sereno. Na altura, as notícias davam conta de que Portugal venceu a Jugosláviapor 2-0.Também se podia ler o Ernesto (Lara, claro!) a relembrar o «Canivete» e a fazer do +N+ o que sempre quisemos que fosse, mas ainda não era...
E, em Maio, o destaque à estrondosa vitória portuguesa no mundial de Madrid, em hoquei patinado tinha razão de ser:o peso ultramarino: Moreira, Adrião, Velasco e Bouçós! Foi obra!
(continua)

+N+ (3)

A monotonia não era muito insistente,mas mesmo se o clima convidava à sonolência, África trepidava e os africanos viam-se incentivados a exigir a libertação, muito mais que geográfica - a condição humana. Não era dos europeus o culto da generosidade, especialmente os europeus de posses colonizadas. Surdos ao troar do vento acabaram por ouvir da pior maneira.
O Congo, deixado de ser belga, mas pouco pacificado, ainda mexia. Em Angola, a administração portuguesa cuidava de baixar o som. A expressão popular «...não disse nada, só falou...» assentava como uma luva.
A morte rondou quando a automotora de Malange descarrilou e tombou.Temeu-se o pior. A tragédia rondou, rondou, lá isso rondou, mas disse nada. Não houve mortes. Só material para a sucata,acabou o +N+ por reconhecer.
A atenção às coisas mais ou menos sérias advertianos em Junho de 60.Uma delas dava conta que o campeão de Angola conquistou o direito de representar o Ultramar na Taça de Portugal! Estava em crer, juro mesmo, que tal «honraria» se ficara a dever a causas que chegariam no ano seguinte. Lapsos, eu sei, o mau carácter das criaturas revela-se nos mais reconditos pormenores.Que me desculpem os ofendidos...
Outra capa de Quim Cabral, do Cita (o palácio Foz lá do sítio),e uma reportagem sobre Luanda à noite comprovavam que Angola ia ganhando espaço. Um espaço onde,por vezes, se intrometiam supresas, como quando o governador de Macau teve uma calorosa recpção. Fui espreitar (ler) para saber onde.Ora, a recepção calorosa foi, imaginem, em Macau! E vindo de onde? Ora! De Lisboa, pois claro...
Mas não demorou a surgir uma reportagem da casa:A caça ao crocodilo. Animada, bem disposta e com bonecos sugestivos!
Problema novo gera reportagem curiosa: «A gorgeta chegou a Luanda». Um engraxador (não sei se fica bem dizer preto?) mais para o escurinho que o dr. Obama, a receber cinco tostões de gorja! Mas também o servidor de cafés, o taxista,o barbeiro, e o arrumador no cinema, todos brancos, lembro-me.
Ocorre-me uma tirada,creio que de Lopo do Nascimento, muito posterior, mas muito
apropósito, numa animada discussão:(...Porra, meninos! Agora, em Luanda, até o gajo do cemitério que nos vai enterrar é branco!»...
Não só por ser branco, digo eu, agora. Era por se estar em Angola, naquela altura. Angola ficava a meio do caminho, quer dizer metado do preço, da viagem até Moçambique. Isso por si, já constituia uma selecção natural entre os que emigravam...
Luanda foi crescendo. E as fotos do Quim iam disso dando conta. Mas outra capa
do +N+ com miudas giras e loiras dá conta de problema vizinho, no ex-Congo Belga.
Refugiados chegados do inferno!O assunto foi tratado, evidentemente, como se nada daquilo estivesse no nosso horizonte...
As capas da revista perdem-se por vezes nos tons escuros, até letras a vermelho ficam baças e obscurecidas e o +N+ vai perdendo nesses dias um pouco de vivacidade.
Lina Vaz (?) surge na capa, fotografada no Mussulo, ao lado de um senhor aparentemente idoso e muito escuro, tanto que o rosto nem se vislumbra...
Pelos fins de Agosto surge uma capa algo previsível: um desfile militar, na magnífica Marginal de Luanda. Comemorou-se o 15 de Agosto...
Em Setembro,o Quim volta a ilustrar uma reportagem, aparentente a Marginal de Luanda,
mas na realidade a reportagem é sobre ele mesmo, a brincar com a noite ea sua maquineta mágica!
E uma extraordinária sequência de fotos sobre piranhas.O sacrifício ao vivo, do «velho» da manada, para que os «seus» atravessem em paz o rio! Nem fotos, nem texto aparecem assinados,na reportagem, com pena minha...
Já em Outubro, uma reportagem engraçada: «Turismo em Macau» permite notar que em Hong Kong tudo é novo e reluzente, mas,em Macau, com 400 anos de História,está repleto de cativantes encantos de outros tempos...
Já em Novembro eis que a Palanca Negra restou paciente todos estes anos, na capa,
à minha espera, para que a mirasse a olhar na minha direcção,na capa triste,já em Novembro.
E, de novo, Joaquim Cabral com fotos a preto e branco de uma luta tremenda entre rinocerontes. Para luta tão empolgante deviam ser rinocerontes profissionais. Pelo menos tanto quanto o fotógrafo! O texto da reportagem,tornado ilegível por
paginação infeliz, mas as fotos dispensam a leitura de texto.

+N+4

Grande farra é o assunto do primeiro +N+ de 61.Uma hábil montagem de Joaquim Cabral,
ainda a reflectir o lado colonial do território, apesar de já promovido a «província ultramarina».
Rui Romano, desagradado com o rumo, comenta: «Nesta Luanda das bunganvílias e das palmeiras cresce, com a própria cidade, o mau costume da prosápia»...
Não era ainda o tempo das mulatinhas acontecerem no Jornal,onde lá estavam as do costume, como a Margarida inglesa, triste e de vago sorriso principesco; Farah Diba, a patinhar a gravidez insuficiente; Marylin Monroe, ainda por morrer e sem marido à ilharga; vivo ainda Kennedy, um que sabia como fazer as coisas, coisas que o marido da activa, e provavelmente vencida,candidata não parece ter tido jeito!
ASR Albuquerque continuava a figurar como director da publicação, na qual o manda-chuva é descrito como administrador. Malhas que o Império tecia...
Aparece o Minho, mas por mór da Casa Regional, em Angola; Sarita Montiel aparece sentada, mas de modo a exibir aliciantes pedaços de coxa, no intervalo de filmagens
algures na Europa. Nada, pois, a ver com Angola ou cercanias.
Cabinda, ainda sem petróleo surge como milagroso pedaço de terra portuguesa, como outrora terá sido Olivença! Cruz Leal não sabia, ou não quis dizer, que Cabinda, quando aceitou o domínio português, não desejava ser integrada em Angola. Provavelmente Angola desse tempo quereria lá saber de Cabinda para alguma coisa. Mas, depois apareceu o petróleo!
Miss Holanda tinha rabo bonito. É dos fotógrafos o segredo dos ângulos fotogénicos!
Finalmente uma reportagem sobre faina de pesca, em Luanda, com texto de Brandão Lucas.
E, como se fosse pouco, duas páginas com a crónica de Ernesto Lara: «O Salalé da tristeza», sobre jornalismo e jornalistas angolanos; da passagem dele pelo «Comércio», onde estavam Charulla de Azevedo e Leston Martins. Evocava outros mais antigos. «Que vocês sejam o que desejei sempre ser e talvez não tenha conseguido
-jornalistas honestos e exemplares e devotos à sua terra».
Silva Tavares, governador-geral, perfazia um ano de governo.Foi capa da revista (agora apeteceu-me mais este termo), com 14 páginas de texto e fotos do governador, esposa e secretários. Uma festa!

Mas os tempos estavam prestes a mudar...Entretanto, teatro francês passou por Angola e Brandão Lucas para explicar, procurou entrevistar Ariane,que nada sabia de teatro português e não tinha paciência para aturar repórteres. Depois dessa reportagem, Brandão Lucas aprendeu bastante!
Mas Angola já ocupava o seu espaço no Jornal.Isso é verdade e notório. As Pedras Negras de Pungo Andongo, com uma página inteira de texto (não assinado) e a praia de Moçamedes no mesmo número, é obra!
MATADI-expulsão das forças da ONU -um barril de pólvora em perspectiva!
Joaquim Cabral, do CITA, Couto Rodrigues,do «Comércio», com o cineasta Perdigão Queiroga,do SNI, vão ao Congo e contam no semanário,juntamente com as fotos.
Depois,na Cela, o magnífico mundo novo da Cela, um imenso celeiro, um desafio ao futuro (ganho, aliás).
A25 de Março,uma capa sugestivamente montada empresta à Revista um toque de creatividade que despontava e não era ainda acompanhado pela paginação.
E a um de Abril passo pela notícia sem dar por ela.Um título vago,numa página
entre outras e sem despertar atenção: «Luanda Protesta». Não se depreende nada.Um edifício discreto é suposto ter vidros partidos. Nada que suporte com curiosidade
a «dor do povo».Depois percebo. Era aquilo. E aquilo era a contestação. Mais. Era o princípio do fim da província ultramarina e o princípio de outra nação. Mas ainda
não o aceitamos. Precisamos,os dois lados, de treze longos anos para entender que os caminhos da História são determinados e implacáveis.
A notícia saiu como foi possível, como a Censura permitia e ela não era muito dada a permitir.
Em Lisboa Salazar ergueu a voz: «Para Angola/Depressa e em força»!
Outro clima se instalava.Barcos e soldados chegavam uns atrás de outros. Tornou-se trivial. Depois serenou.A vida retomou o seu curso com outra vivacidade.
A nove de Abril a capa do +N+ tem menina com mamas salientes. Uma tal Jane Mansfield.
Aconselham-se férias na Africa do Sul.
Em Maio, finalmente uma jovem angolana que nem deixava por isso de ser portuguesa,à beira-rio,na capa. Na semana seguinte é um desfile militar a militarizar a Marginal que surge na capa do Notícia. A guerra já não estava escondida, mas, no interior do jornal «falou-se da guerra em Cuba»!
Em Junho um garoto negro é capa e a foto do Quim não podia ser mais expressiva sobre a guerra, qualquer guerra! No interior a reportagem com soldados e civis e vítimas...
A guerra assume espaço no +N+.Em Julho o governador-geral tenta confortar uma cidadã
angolana.Não sei hoje se tal conceitojá era assumido,mas a senhora de luto era bem um sinal de mudança, respeitado pelo militar governador-geral. E pelo +Notícia+, bem
entendido, que andara um longo ano a deixar África e os africanos guardados na gaveta!
Mas Ernesto Lara,esse,nunca os esquecia e não ignorou, não os esqueceu, como se viu e leu no +N+...
Na Baixa de Luanda começava uma nova actividade bolsista,quer dizer:cambista. Trocar angolares por escudos ou vice versa. Um cambio formalmente clandestino,mas efectuado
às claras. Eram os militares os grandes animadores do novo mercado e por serem militares havia que moderar a fiscalidade. Deixou de ser negro. A par da tragédia,
de soldados que vão chegando, de novo governador, as mais belas pernas de Hollyood. Espanto-me de ver Shirley McLaine entre vamps. Bom! Espanto-me agora, na altura nem daria por isso, se já lá estivesse! É ainda Lara (filho), de Nova Lisboa, a dar conta da «colecção Bailundo», albergue de poetas e de plásticos, de que reuniu na primeira edição alguns poemas de Alexandre Dáskalos, que além de poeta era médico veterinário.
Tão importante como incentivar os militares a combater o «terrorismo» aparece o espantoso novo ciclo no Ensino.A vaga de populações deslocadas para Luanda e outras cidades mais seguras e tranquilas. Escolas existentes e outras adaptadas encheram-se de alunos e alunas. Todos juntos e misturados, sem politiquice, sem grama de separatismo.Só isso. Crianças juntas naturalmente. O preconceito de facto não nasce com a criança. Mesmo com adultos, pode ruir com a guerra de proximidade.Isso mesmo foi acontecendo com os jornalistas,com os jornais e na Rádio (TV não havia e não houve até ao fim).Talvez por isso a Imprensa e a Rádio mantiveram a sua influência.O Notícia tornava-se definitivamente angolano, bem notório a preto-e-branco!
A 19 de Agosto aprendo que Salvador Correia de Sá e Benevides era brasileiro e que a 15 de Agosto, 313 anos antes, reconquistou Angola aos holandeses.(continua).

+N+5-

Em Setembro,Joaquim Cabral surge comuma espectacular reportagem sobre um festival de paraquedismo. O repórter estava, como sempre, onde os reporteres são precisos...
Três atletas de atletismo idos de Benguela à «Metrópole» ganham provas, regressam a Luanda, e são recebidos pelo governador-geral.Mas os seus, deles, nomes ficaram no tinteiro... Coisas que acontecem...
Aconteceu, de resto, na semana seguinte:a foto de uma jovem angolana a cavalo com a legenda a assegurar que se trata de moça da nossa sociedade. Mas nome não. Nem dela nem do cavalo. Uma simples referência assevera que a foto é de Brandão Lucas!
O mesmo Brandão Lucas assina depois uma reportagem bem disposta com artistas brasileiros, de teatro de revista, no Mussulo.E Cruz Leal assina reportagem sobre o Cacuaco o dito Cacuaco estava para Luanda, como o Ginjal de Cacilhas estava para Lisboa!
Talvez!Conheço mal o Ginjal, mas para lá chegar ia-se de barco... Depois Ruth Soares alguém, sim senhor, que "mexia" no Rádio Clube. Pobre dela, paginada, com legendas e foto mutiladas pela dobra da página. Não era de Simões, boss da Neográfica, consumir
dinheiro com paginadores experimentados!

N+6...

A 30 de Setembro um alegre bando de catraios enche a capa do nº 84: « Serão talves estes, e outros garotos como estes a julgar amanhã os nossos actos de hoje!» Ah! Como
eu, hoje,gostava de conhecer a sentença!...
Brandão Lucas assina outra reportagem repleta de mulherio a jogar foot. Adorava ter lido a reportagem. É uma das que não se pode por mór da coluna colocada no meio das
duas páginas, mas o Brandão Lucas sabia escolher o trabalho. De resto ele conclui que o lugar mais apetecido num jogo como aquele era o de massagista
Em Outubro a capa sai mal, apesar de muito bonita. Demasiado escura e baça, deixa o ballet na sombra. No interior a reportagem sobre a estadia, em Luanda, de 4 estrelas do Ballet de Paris é um bom trabalho, com boas imagens. E foi justamente no princípio
de Outubro que se voltou a ver correr o Circuito da Fortaleza, a festa dos velozes automóveis. Em Lisboa, Juca substituia Otto Glória, com a mesma facilidade que usava o senhor Oliveira para substituir governadores gerais ou afins...

E fotos dolorosas, ainda assim as possíveis sobre a guerra e o absurdo dos alvos, gente humilde, sem qualquer comprometimento político, como duas plácidas crianças.
Chocante!Por mais comum que começasse a ser...
Em Novembro, um avião sinistrado é capa da revista. Foi no Chitado. Dezoito vítimas no acidente.
Marisol ilustra a capa seguinte.A jovem actriz cantou e encantou Luanda. Nem custa crer que sim...

+N+ 7

Para 62,o +N+ anuncia-se mais desenvolto. Fico a saber que Rebelo Carvalheira é coordenador. Desconheço se já seria bancário ou até se já existiria o BCA. Presumo que ainda, o que em angolano se deveria entender por não.Não se entende bem que género de coordenação.Sabia-o mais ligado ao desporto!
Na revisão do ano findo descortinou-se que «Luanda protestou» anunciara efectivamente o início das hostilidades em Angola.Com aparente indignação acusaram-se algumas potências estrangeiras (nossas aliadas em diversos interesses ou em outros
conflitos) de apoiarem a «acção criminosa» dos nossos inimigos.
A edição seguinte inclui uma página assinada Bettencourt Faria, o teimoso,persistente e fabuloso criador do Observatório da Mulemba. O assunto versava, imagine-se!, poesia popular:«O Antão era pastor»!!!
O 62 não arrancou grande coisa, no que toca a temas, e a imagem do +N+ não agarrava. A 20 de Janeiro esbarro com uma graçola de nível: Júlio Castro Lopo assina uma crónica soberba sobre Afonso Costa, cuja memória, entendia o cronista, devia ser melhor preservada e que seria de premente justiça ligar o seu nome à toponímia da cidade de Luanda.
Mas o assunto quente era já a curiosidade em saber onde iria ficar instalada a mui desejada Universidade de Angola!
Foi Charulla de Azevedo, aliás, o primeiro jornalista a farejar a iniciativa do governo e a pô-la em letra de forma, no «Diário de Luanda». Ele próprio defendeu no
jornal a opção por Nova Lisboa,capital do Huambo, onde Sebastião Coelho, chefe
de produção do Rádio Clube tentava, debalde, montar uma cadeia de televisão.
No que toca à Universidade a localização continuou indefenida e cada vez mais sujeita a pressões. Avançou-se apenas com uma data provável: Outubro.
Uma reportagem da época, ainda em Janeiro, mostra a pacificação agrária, no Uige.
Destaque ainda para interessante crónica de Virginia Redinha sobre a visita ao Museu do Dundo, acompanhada pelo Soba Sakamanda, para avaliar o culto dos ancestrais, no Museu, verdadeira pérola diamantífera...
Entretanto confirmou-se que o Banco de Angola mudava a sede para Luanda. E onde pensam que era antes? Não se matem a adivinhar. Era em Lisboa, evidentemente!
Menos de um ano, após o início das hostilidades,surge uma questão:soldados querem ficar!João Azevedo assina a reportagem,aliás magnífica sobre o Uige. Repovoamento e sementeiras; a enxada a passar para a mão que empunhou a espingarda,apesar de, na serra do Cananga ainda haver indícios guerrilheiros. Uma terra bendita, promissora...
A 24 de Março,uma reportagem caseira e bem esgalhada,com três páginas acaloradas com praias de Luanda, visitadas pelos repórteres Alberto Santos(?) e Ricardo Mesquita, fotógrafo do Cita.
E uma interrogação pasmática:«Teria sido Cristo um insurrepto político?- perguntava Jerónimo Ramos,um mui desconfiado cronista do Cita. Investigou, comentou e concluiu
que sim!
Outro problema, complicado de aceitar surgiu em Abril: os condenados a penas de reclusão recusam-se a sair da Cadeia de S. Nicolau, no final da pena!
Nada de conflito prisional ou judicial. Querem ficar em S. Nicolau,ponto final parágrafo!. Bom clima. Chão generoso. E tranquilidade.E continuaram a trabalhar o chão, em barracas pitorescas, com as mulheres e filhos, obtida licença ficaram.
Júlio Castro Lopo merece estudo à parte. As suas crónicas com tipo de letra minúscula, por mór do espaço, que é sempre curto e escasso.São lições de História, de humanismo, lições políticas ou actos de ternura e de coragem, um tudo nada perdido nas páginas folclóricas da revista.É premente recuperá-las!
Tremenda zanga entre o +N+ e o «DL» (Diário de Luanda).A falta de clarificação sobre quem é quem nos jornais deu pano para mangas, dava, de vez em quando. O +N+ entendia
defender um indefeso ex-colaborador;os do diário (orgão do Estado) tinham prosápia
e, bem entendido, uma polícia política por trás...
De repende dou por Carmo Veiga a coordenar o desporto.Foi sempre um excelente camarada.
Sobre a morte do prof. Egas Moniz, nem por isso benquisto entre os salazareiros,escreveu Júlio Castro Lopo, a relembrar o notável cientista e prémio Nóbel.Um texto de admiração e simpatia. Um texto corajoso, considerando os antecedentes!
Nas edições seguintes surgem controversos textos, de diferentes personalidades,
sobre como e onde situar a futura Universidade. Eu,por acaso já sei, mas não digo...
A morte de Alda Lara chocou-me hoje, tanto ou mais,do que há 40 e picos anos:

«À prostituta mais nova
do bairro mais velho e escuro
deixo os meus brincos lavrados
em cristal límpido e puro...

E cito apenas a frase do irmão Ernesto: «...creio que foi por ela ser muito boa e muita pura, que Deus ma tirou»...

O petróleo de rompante na capa.E lá dentro o próprio Charulla a pegar no assunto, quatro páginas!
Sem cor o +N+ não é ainda o Semanário que conheci, mas neste segundo semestre melhorou a olhos vistos.A ficha técnica, vista agora, à distância, é obscura, quase ridícula.O director não dirige;o editor não edita;Espera-se melhor perfomance
em 63...

+N+ - 8 (1963)

No começo de 63 a ficha técnica repete: director A.S.R. Albuquerque. O dito Albuquerque dirigia tanto como um conhecido engenheiro desta praça engenhava projectos covilhanenses! Era director de cruz, mas por exigência burocrática
do regime político.Na ficha constava igualmente o sr. Simões. como fundador, editor
e administrador. A malta da escrita, ou da reportagem não tinha lugar na ficha. Nada da daquilo era invulgar. Os jornais e revistas da época não se davam muito ao trabalho de divulgar as bases, as redacções. Mais do que um reparo é um amuo por não saber quem era quem nas Redacções
Podia presumir-se que alguns dos textos fossem de colaboradores eventuais, tal como as fotos, mas haveria decerto escrevinhadores efectivos.
Uma crónica enorme,mas com tipo de letra minúsculo, de Manuel Galhós, uma rubrica aberta, segundo parece.E extensa,lá isso era. Dizia pouco, mas ler que o Papa, de então, estivesse em fim de carreira deve ter causado alguma perplexidade...
Logo a seguir apareceu algo que me interessou mais: João Azevedo a argumentar que «os chineses não têm o exclusivo das coisas bem feitas»! E dito isso revela: «Temos em Luanda o único Preventório Anti-tuberculose de toda esta parte de África»! Não é (foi) um mero comentário. Era sobretudo uma notícia. Ficou a saber-se que Luanda dispunha de um valioso instrumento para travar a tuberculose infantil. É preciso hoje ter-se muitos anos para recordar o doloroso pesadelo daqueles tempos! Não se tratava de mera obra de fachada e talvez por isso estivesse obscurecida!
A rúbrica «Semana vai/semana vem» continua a não ser assinada, mas tem sumo e o tom não engana. Há alguém no escuro a fazer o trabalho de casa...
Um tal Alberto Santos aparece com o Observatório da Mulemba e, por acréscimo, com Betencourt Faria. O assunto tinha que se lhe diga e teve pano para mangas, como se diz por cá, que mangas lá tinham outro sabor!
Ainda na primeira quinzena, um «assalto» às estações de Rádio. A reportagem confraterniza com os homens (e senhoras) da Rádio. Brandão Lucas, ele próprio um radialistae Raul Moreira, fotógrafo, encarregam-se datarefa, facilitada para o repórter, que bem conhecia os cantos das casas... Bem como quantos por lá falavam ou moldavam o som. Tem graça, «ver» à distância, sobretudo alguns dos que das leis da vida se foram borrifando. E lembro que nessa parte do Globo, onde se falava português não havia TV, daí que os «radiosos» colegas atraissem alguma curiosidade, entre os quais contei mais tarde alguns bons amigos...
Alguèm no Jornal o esteve a pôr por ordem. Gente interessante foi aparecendo com textos giros. A reportagem rebuscava. Mas os comentários críticos ou culturais revelavam também uma Luanda a mexer. Pena que o +N+ se perdesse um pouco nas
limitações tipográficas.
Em Fevereiro, o semanário aparece apertado no mal da época: excesso de Pub...
Não resisto a relembrar uma delas: três páginas, três, com fotos de pessoas mais ou menos popularizadas, nas diferentes artes e ofícios e identificadas como fumadores ou fumadoras, para destacar a chegada ao mercado de nova marca...
E, finalmente, a 9 de Fevereiro, a ficha indica que João Charulla de Azevedo ingressou no +N+, como redactor principal; Brandão Lucas fica como adjunto e Raul Moreira, fotógrafo principal. Curioso é que não era indicado o Chefe de Redacção!Charulla assume a liderança e determina a orientação:«Concordamos,mais ou menos,
com a política do governo, todos e cada um de nós tem a obrigação de opor a vida, por amor de Angola»...
Tornam-se mais frequentes reportagens com imagens de guerra e de soldados nela empenhados, a puxar o jornal para um natural populismo.E, por acréscimo verbera-se asperamente a intervenção da ONU no Katanga, acusam-se os soldados do «sr. Uthant» de excesso de violência sobre populações indefesas e de violação de mulheres...
Na semana seguinte, a crónica de Charulla é um completo blá-blá-blá,suficientemente explícito sobre prepotências da Censura.
«Os últimos defensores do Katanga» foi uma reportagem expressiva sobre o rumo que a História ia tomando. Mostrou Denard, frustrado, a entregar, na fronteira, as armas a Fialho Prego, oficial português.Denard, como qualquer outro militar francês batido na Indochina, na Argélia ou corrido do Congo! O jornalista comentou, crente de existir alternativa à submissão da ONU! A lição estava dada.Quem não quis,ou não soube sair a tempo, fê-lo empurrado,expulso, derrotado!
Mas isso levou o seu tempo a ser entendido, de forma dramática e, claro, sem alternativa!
E havia as praias de Luanda e os domingos nas praias de lazer,onde o que não fosse festa ficava para trás...O aniversário do Rádio Clube festejado naturalmente.Desde agora(de então!), Angola e os angolanos não faltam no semanário. Brandão Lucas brinca a sério com os meninos engraxadores,novidade importada do «puto». Mas, atenção, há um angolano escuro a ser devidamente engraxado!
E foi penas que as fotos de J.V. não possuirem grande expressão nem impressão suficiente para a nocturna reportagem de um aparatoso abate de quatro toiros tresmalhados, género de ocorrência que em Luanda se pensava só ser possível em Vila Franca. Dois dos animais foram abatidos a tiro.Um dos quais acabou por morrer no mar, junto à praia!
Em Março, Brandão Lucas desaparece da ficha técnica, presumivelmente assoberbado por afazeres de radialista.Na ficha aparece uma inovação: Manuela Carregado, maquetista!
A seguir uma capa,pelo menos inesperada: três rapazotes nus lavam os rostos, num enorme lavatório. Dentro,percebe-se: «homens de amanhã», na reportagem sobre a Casa Pia de Luanda!
Se Alberto Santos é quem eu penso, duas páginas para o lutador Carlos Rocha e companheira foi excessivo. Menos foi o incidente no muro de Berlim, que ainda separava os alemães, como separava o Ocidente do Leste. Também lá não se colocava a questão de saber quem era o bom, qual o mau. O problema estava na força. Cada parte exibia o seu apoio.Quando um deles fraquejou, o muro caiu. Mas para isso ainda faltavam alguns anos.E enquanto isso, os incidentes que ocorriam eram ocidentalmente explorados, como a reportagem evidenciou!
Mais preocupante a fuga de civis africanos, naturais do Katanga. Fugiam à chegada dos militares africanos da ONU! Mulheres, com crianças de colo (nas costas)e cestos à cabeça fugiam deles alucinadas, procurando abrigo em Angola. Eram os novos e pragmáticos sinais do tempo, incompreendidos até pelo autor do texto-legenda! Noutro comentário, o comentarista, o já citado Galhós, avisava que «estavamos como os espanhois estiveram até 1640! Ou, depois, quando das invasões francesas: tivemos de os expulsar»!
Surge nova seccão, que vai perdurar:«Isto tornou-se Notícia».
A 23 de Março comenta-se a Reunião promovida pelo Movimento Panafricano Central, Ocidental e do Sul de ameaçar invadir Angola, caso Portugal não acatasse as deliberações de Leopoldville, até ao fim de 1963.
O efeito Charulla ia dando resultados. A 30 de Março,uma página dá curso ao Correio dos leitores. E a seguir um fait-divers permitiu-lhe um texto soberbo sobre violência policial, nos Coqueiros, que passou pela Censura, mercê de argúcia, muito necessária naqueles tempos: começa porlembrar que o jornal tem divulgado repetidas vezes factos demonstrativos do bom nível a que guindou a PSP...
...Mas o comportamento dos agentes da PSP, em serviço no Estádio dos Coqueiros, testemunhado por milhares de pessoas; «e estes milhares de pessoas pensariam que a Imprensa está sob coacção se, nos jornais, não vissem o incidente devidamente verberado!»
Censor nem sempre tinha tomates...desta não cortou, não senhor, o arraial de porrada
aos assistentes, bem como aos fotógrafos, um dos quais foi detido; obrigado a revelar as fotos e a ficar sem algumas. Foram frequentes, naturalmente os choques
com a severidade do regime imposta pelos censores e, em África, muitos desses censores eram militares no activo!

+N+ 1963/2

De Lisboa, Rola da Silva comenta futebol.Admite que contra o Milão o Benfica vai sentir dificuldades, na final de Londres, mas... se marcar primeiro...
Lá marcar primeiro,marcou,mas ganhar não ganhou...
De guerra se falava cada vez menos, mas aparecia com frequência no +N+.Tornou-se tradição e respeito pelos militares.
Raul Aires -Indipo - escreve no +N+. Faz de repórter dele próprio, com caracter, com limpeza, com História...
Teresa Gama,jovem e desinibida, aparece a 6 de Julho a dar conta do seu desembaraço, em plena mata, ao serviço do Instituto de Investigação Científica de Angola. Colocada na Huila, não parou de escrever, nem de pintar, nem, claro, de confraternizar com amigos das tintas e das letras, pelo que, no Jornal, aparece num assomo de graciosidade desenhada por Neves e Sousa...
O caso Profumo também apareceu badalado no +N+. Em tom sarcástico, é bom de ver, mas um tudo nada assaloiado. Há sempre alguém que desdenha as quecas dos outros...
O Povoamento foi seguramente uma das políticas que depois de 61 mais e melhor foi promovida e apoiada e com reconhecimento das populações rurais.O primeiro e mais significativo reconhecimento e elogio que ecoou pelo país todo, tardou dez anos e foi formulado por Francisco Balsemão. Lá chegaremos. Nunca mais aprendo a fechar a boca! Em 63, as fotos de Teles Tavares pouco reflectiam o que começava a acontecer e foi continuando, enquanto posssível...
E a 20 de Julho Artur Peres é capa do +N+.Ele fazia tanta coisa que é difícil imaginar o porquê na capa.Fazia Rádio e apresentava um programa de variadades num cinema de Luanda,nas tardes de sábado.Mas o motivo foi outro:integrou-se numa coluna militar para incluir a operaçãp numa reportagem para a Rádio. A operação correu mal. A colunafoi atacada com rara violência.Houve baixas de ambosos lados. Peres esteve à altura e fez o seu trabalho. E passou a ir todos os anos juntoda campa dos que caíram e a jantar com os que escaparam.
Quem aparece também é Acácio Barradas. Não no genérico, mas num bem divertido remoque de Neves e Sousa, artista plástico de renome, ao modo como os jornalistas olham os artistas...
Crocodilos caçados.Crocodilos mortos.Crocodilos magníficos,impressionantes. Mortos. Era tempo.Hoje fez-me pena olhar os pobres bichos abatidos. Se ainda os houver porlá
guardem alguns ou guardem todos. De preferência no rio,nos rios...
Interessante trabalho reportado sobre as estradas que começavam a desbravar Angola, «alargando» o país (desculpem não dizer colónia!), tornando possível viajar, visitar, conhecer para melhor reconhecer e acompanhar o desenvolvimento que se...
desenvolveu!É bom lembrar, neste domínio,o muito que se fez por Angola e que por lá se deixou...
Uma história demoníaca chega ao +N+: um aluno interno numa escola de Nova Lisboa
(Huambo) foi remetido para casa dos pais, na Cela, três meses depois das férias;com menos 25 quilos de peso e manifestamente doente.Morreu dois dias depois, no hospital.
A única pessoa não referenciada foi justamente o director do colégio. Um pormenor curioso e que de algum modo parecia, então, prática corrente: mostrar a vítima e esconder o vilão.
Outra do género, semanas depois, envolve uma quadrilha de garotos, desmantelada pela PJ. Não seria muito anormal se não tivesse uma página com fotos: o chefe Fonseca, de costas,e o director da PJ, tão de lado, tão que mal dava para ver os óculos! Quem eram os miudos não se disse, o que era natural. Estranho é que sendo «miudos» ficassem dependentes do Tribunal Militar!

+N+ -1963 (3)

No mês seguinte, em Agosto,o director do Colério João de Castro, de Nova Lisboa, escreve ao +N+ a dizer que era um director do caraças, sempre muito preocupado com os alunos, e que o aluno que morreu era um aluno detestável, bera como tudo.E que toda a gente que disse mal dele, director,se havia de lixar, no tribunal. Claro que disse o que quis dizer por outras palavras, presumivelmente adocicadas pelo senhor seu advogado.
Marilyn Monroe ilustrou a capa da semana seginte. A sujeita,mesmo em capa a preto e branco iluminou a página. Fabulosa criatura!
Charulla de Azevedo é de facto o redactor principal. Conta ou zurze no que vê e ouve. De algum modo carrega o Jornal e torna-o uma referência em Angola.
Em Setembro tudo na mesma. Os mesmos nomes de topo.
Os mercados de café em Bula Atumba é uma reportagem, de Charulla, tipo estaladão. Só com texto.Palavras escritas,palavras duras,escritas a sorrir.Um belo texto...
Américo Tomás veio a Angola reconhecer. Muita gente antes, e alguma depois, também. Em Angola,porém, reconhecia-se melhor o Presidente do Conselho de Ministros! Mas as reportagens da visita de Tomás são, sobretudo, um magnífico registo, não apenas da estadia mas também a imagem da realidade de Angola. Essas imagens, no princípio de Outubro mostravam, a quantos quisessem ver,um tipo de vida bem melhor do que o que se vivia na Metrópole! E não era, nunca foi, por condescendência de Lisboa.
Ainda com Tomás nas páginas do +N+, Charulla de Azevedo escreveu: «... sempre arranjamos,nestes três abençoados anos,maneira de melhorarum pouco a nossa vida e, principalmente, de garantir a dos nossos filhos!» As coisas não acabariam assim. Mas isso ele nunca soube...
Charulla vai à Alemanha e Acácio Barradas fica a substituí-lo,na ausência.É anunciado o «Café da Noite»,o programa de rádio, que se tornaria o mais popular em Luanda, com Sebastião Coelho.E um texto fabuloso, a servir de título:
«ÀS 7 DA MANHÃ MORREU a PIAF.
ÀS 8 OS PARISIENSES ESCUTARAM NA RADIO
O ELOGIO FÚNEBRE,ESCRITO E LIDO POR JEAN COCTEAU.
ÀS 13 MORRIA JEAN COCTEAU...
Fez-me impressão, confesso.E,agora,talvez mais. A 26 de Outubro leio que a «consagrada» Comissão de Censura resolvera punir com suspensão o NOTÍCIA. «A pena aplica-se a uma única semana».Logo não haveria +N+a 2 de Novembro.Entretanto dava-se conta da entrada de Tavares da Silva.Mas a 16 não lhe vi, nem na ficha técnica.
A 23 João Charulla de Azevedo passa a figurar como Director-adjunto e Acácio Barradas entra no genérico como Chefe de Redacção, que efectivamente já devia ser.
O Quim Cabral, esse, ia aparecendo de vez em quando,continuando «amarrado» no CITA.
Duas páginasinteiras, sem pub, com fotos de Sophia Loren a fazer strip tease,bem até certo ponto. O que apetecia ver não se viu.
Via-se, isso sim, Jack Ruby disparar sobre Lee Oswald, e o adeus dos Kennedy ao irmão defunto...
Capa, capa mesmo, a 7 de Dezembro, a bébé às costas da mãe.Um estilo de vida, com título saboro:
«Mãe:a mulher que toda a gente adora». Claro está que a mãe negra é um trabalho excelente de Joaquim Cabral...
Segue-se outra capa das arábias: cinco fotos, cinco, de lata amolgada. Carros tramados, mesmo os de luxo, por um cilindro tractorizado...

+N+ - 64/1

O primeiro de 64 sai a 4 de Janeiro, ainda a festejar o novo ano.Na capa uma menina
(onde andará,ela, agora?) com duas bonecas.
Um texto violento, como aliás o assunto merecia,perde força e razão por não estar assinado, ainda que tal responsabilizasse o director, que, como sabem, nem era quadro activo no semanário.Mas voltemos ao assunto:o despedimento do enfermeiro-chefe da Casa de Saúde de Luanda terá sido manifesta prepotência do «alguém» da Direcção sindical.Mas o texto também não aponta o responsável. Foi pena.
A ficha técnica mantém-se: Charulla como director-adjunto e Acácio Barradas,na chefia da redacção.No sumário descortina-se que Rola da Silva colabora a partir
da «Metrópole» (o termo sugere «colonialismo», não sugere?) com informação desportiva.
E não é que descortino Sócrates (?) a brincar, numa secção futurista!... E duas páginas, duas, para o casamenteiro Porfírio Rubirosa a dar o nó com uma jovem bem interessante! Entre as cinco que ficaram contavam-se, prestem atenção: Danielle Darrieux, Zsa Zsa Gabor e a multimilionária Bárbara Hutton...
Festa Brava em Luanda contou com cobertura séria: Joaquim Cabral e António Sequeira, mas com deficientepaginação.
Uma nota solta dava conta que o jovem Fernando Farinha, que cumpria serviço militar em Silva Porto,era citado como colaborador do semanário, estava de passagem por Luanda.
Na semana seguinte, João Charulla de Azevedo foi assistir à Assembleia do Snecipa dado o estranho silêncio dos directores do organismo sindical, a propósito do abusivo despedimento, acima citado. Como seria de prever o assunto ficou esbatido sob «o manto diáfano da fantasia». Ao jornalista não restou senão recomentar o abuso e por aí se quedar...
Mas na página do sumário e ficha técnica,Tavares da Silva é apresentado como redactor principal. Acácio continuava a chefiar a Redacção...

+N+ 64/2

Um caso de bigamia enche quatro páginas da revista. Muito texto e pouca uva. Uma
foto apenas: a da primeira esposa. Os restantes personagens citados não aparecem nas imagens. Nem sombra do vilão. O Acácio Barradas,que virei a conhecer uns anitos mais tarde, ter-me-ia dado cabo do caneco, se eu apresentasse a caldeirada semjindungo...
Quiminha:a água da sede deLuanda mostra o outro Acácio Barradas: o que arruma o jornal eo empurra para a rua,para o campo, para junto das pessoas, à procura de Angola, estivesse onde estivesse...
E já pode chover em Luanda.É o título mais desejado na cidade, menos de um ano após o dilúvio, que arrasou uma parte de Luanda.Esta excelente notícia, em forma de reportagem, não aparece assinada. Injusto! Era uma grande notícia, de um assunto caro aos luandinos, como mostraram as fotos de Raul Moreira, sobre um passado, então recente, de triste memória.
E foi um Tavares da Silva, pronto a disparar, que irrompeu no +N+ e deve ter provocado alguns temores.
Xico Orta, desenhador, ilustrador, entra no Semanário. Com Charulla, o jornal cresce e ganha força. Melhora emqualidade e grafismo. Um tal Palácios vilipendia a Câmara de maneira planfetária, mas bem disposta.Valia o que valia. Fazia sorrir de coisas tristes.
TavaresdaSilva acompanhou o G.G. à Lunda e depressa concluiu que lá, na Lunda «não há homens ao de cimo da terra»! Pois, pois, demasiado rica nas entranhas!...
Quem quisesse ser artista podia vir a sê-lo ou não, mas foto no +N+, ah! isso sim,
era só pedir!
Tavares da Silva brinca, a brincar com coisas ditas sérias; Xico Orta baba-se de gozo! Que posso eu, ainda hoje, senão rir?
«Falta ao Benfica uma mão forte e competente para guiar a nau»! Não resmunguem comigo. Foi o que Rola da Silva escreveu. Ele não era visionário. Deve ter sido mera coincidência. Além de que só tinha a ver com o Serafim ou com o Pedras; com o Zé Augusto ou o Simões! E nem o Eusébio escapou.
Aquitandeira era bem a capa que faltgava e deixou de faltar!
Nem faltaram títulos marginais como:
«Luanda está errada como capital de Angola» -Água
- Charula a defender a tese de Lisboa-a-nova... vai para sanzala
-também por lá faria falta

Uma jovem senhora, Alieta Cotovio surge como colaboradora, com temas destinados a estudantes. Charulla, esse, queria mudar-sepra Nova Lisboia, levando com ele a capital.Foi persistente tal tese. Já depois de ser país,Angola haveria de ouvir Troufa Real a perfilhar a mesma teses, mais tesa ainda: queria a capital geodésica algures no centro.
Afinal, a água tem ido tranquilamente para as sanzalas e em diferentes distritos. Fotos dessa realidade foram exibidas.
Um título inusitado assusta-me:«O Plano Financeiro» - por Sócrates»!!! À cautela
não leio, apesar de ilustrado a vermelho!
O nº 217 calhou no primeiro de Fev. e anuncia na capa que o «Caso Bolou ainda não foi resolvido», capa esta que insere o bonito rosto de Jane Fonda! -porquê?
O caso Bolou de facto não foi resolvido. Não havia da parte do manda-chuva da direcção do Sindicato vontade de abordar o assunto,diante dos sócios sindicalistas, que incluiam, vejam lá, os jornalistas!. Um excesso de autoridade que assentava na convicção que as bases não podiam exercer qualquer pressão democrática, cuja dita não era, então, reconhecida, nem tolerada, pelo poder político.
Dada a época que então se vivia, o artigo de Bettencourt Faria teria que fazer, como fez, natural furor:«Mensagens de Marte são recebidas na Terra há mais de três anos»... Em foto, um texto de gatafunhos indecifráveis teria chegado de Marte de Eustaquio Zagorsky.
Desde então nãomais li nada sobre o dito Zagorsky, nem sobre as tagarelices marcianas, , mas tinha piada na altura.
Rola da Silva nãoparava de escrever sobre o futebol do «puto», um tipo de foot que Rola não parecia apreciar muito...

+N+ 64/3

Uma fadista em Luanda,mas à moda alfacinha, fotografada à noite, em vielas mouriscas ou se preferirem, passeava por Luanda, como se o faria em Lisboa.Só que «o faria» nãp foi para aquichamado. Foi usado como verbo de encher...
O arranha-céus de Luanda estava prestes a elevar-se. Manuel Vinhas prometia um «monumento da nossa fé inabalável nos destinos da Pátria». E fez-se. Dele se fez banco. Haveríamos de aprender que a «Pátria» não dependia da fé,mais oumenos teimosa, dependia dos militares e, eles, optaram por uma pátria mais acanhada, é verdade, mas também mais de acordo com a moral vigente...
O carnaval irrompeu vistoso e alegre, em Lourenço Marques. Ao dito assistiu Acácio Barradas.Descreveu a alegria a rodos e a notória «falta de preconceitos»...
Mais do lado de chefe de família, Joaquim Cabral fez imagens expressivas do austero museu do Dondo...
E a poucos quilómetros do Chinguar uma locomotiva e um comboio de mercadorias chocaram de madrugada.O maquinista da locomotiva sossobrou, aparentemente de propósito...
Mais apelativo à curiosidade dos leitores,o «dossier divisas» foi caso que valeu página realçada a vermelho. Após ler-se uma explicação difusa percebe-se logo um caso de fuga ao Fisco. Pronto: já sabemos quando começaram!...
Marisol passou por aqui... quer dizer passou,passeou e cantou. Cantou e depois de encantar, abalou...Duas páginas adiante assevera-se haver ballet em Luanda. Parecia um daqueles, sim, pois, há de tudo como na farmácia. Chega de bocejar e de fazer o chato. O ballet, mais do que um espectáculo «cabaretero» era uma escola e uma escola notável de modernidade. Com alunos de todos os tamanhos (quero dizer: idades!). Bastante promissora.
E um fenómeno no Cacuaco(?)! O dito merece, e tem (teve) o adjectivo de estranho. Não discuto fenómenos. Sou um descrente benévolo. Não discuto,já disse, mas estou mais pronto a acreditar que se tratou deum estratagema do Quim Cabral para aparecer, ele, nas páginas do jornal...

+N+ 64/4

O Rola insiste em confundir-me. Diz que o Benfica é (era)como o Porto!!! Ganhava que se fartava e já era campeão, mesmo sem ter vencido um grande! Oh!Pá! «esse» Benfica devia ser outro...
Peyroteo voltou a Angola como monitor desportivo, ainda rotelado de «maior goleador português e o mais implacável dos cinco violinos».
Cruzeiro Seixas doou à Cuca a sua colecção de Arte Humilde. Uma colecção extraordinária, cuja dita, espero eu, tenha sido preservada!
Rola da Silva continuava visionário e mandou para Luanda crónica intitulada: «Um Real Madrid, que ressurge das cinzas e um Benfica cuja vantagem é ter extremos. Vamos lá explicar ao Rola: o único extremo do Benfica joga em Espanha;e o Real de Madrid ser posto fora da Europa!...
A morte de Kennedy em forma de folhetim.Ainda assim faz impressão, quase meio Século
dpois...
Francisco Relógio esteve em Luanda, a caminha de Moçambique,onde ia terminar um mural para o novo edifício do BNU. E a responder ao +N+, decerto inquirido por Tavares da Silva, dada a familiaridade do tom da entrevista. Os pintores grosso modo pintam. Raramente escrevem. Mas falam! É pena! Relógio disse que em Angola não havia pintura. Disparate.
A meio de Março era o Cubal a justificar a capa militarizada. A reportagem com os militares é de Emílio Filipe e devem ter sido dele também as imagens distribuidas por oito páginas de excelente reportagem. Na mesma edição o «Diabo» defendia o direito de não estar personalizado e divertia-se com algumas alusões que poderiam ser ou não do criativo criador...
Mas a 24 de Março, Tavares da Silva some-se da ficha técnica. Charulla de Azevedo mantinha-se como director-adjunto e Acácio Barradas, como chefe de redacção.O mesmo Acácio haveria de assistir à queda do avião que deveria tê-lo transportado se...
Há sempre um destes «ses», mais ou menos milagrosos! E o Acácio foi capaz de contar, quero crer que com lágrimas nos olhos, o trágico acidente e guardar na memória as vítimas que ele esteve prestes a acompanhar...
Uma página com título sobre Malangatana não era, na realidade, sobre o pintor moçambicano, mas uma forma atrazada e atabalhoada de retorquir às asneiras do "Xico das Horas" (Francisco Relógio) sobre não haver pintura em Angola.
A 28 de Março, e num texto não assinado, especulava-se sobre se Jacqueline Kennedy poderia, ou não, vir a ser presidente ou,no mínimo, vice-presidente, dos states. Era cedo ainda. Blá-blá puro e simples. Seguiu a vida dela. Voltou a casar, viu-se grega, por assim dizer. Voltou a enviuvar e ficou bem na vida, até perecder...
Três páginas com Brigitte Bardot, quase vestida, de férias no Brasil! Já em Abril.Por cá (lá) José Trincheira assegurava a «Festa Brava» em Luanda. Um +N/Juvenil+, com duas páginas, surgia como uma aposta.
A transportadora francesa U.T.A. trouxe (levou) a Luanda um grupo de turistas.Podia, então,entender-se como o reconhecimento externo da segurança, o suficiente para usufruir férias tropicais.Os turistas diveriram-se e abalaram satisfeitos. Outros estavam na calha...
...E Mocâmedes esteve em foco durante três semanas de festejos.Fogo de artifício iluminou a noite de S. Pedro. O enorme Fernando Chaves entregou ao +N+ «bonecos» bem esgalhados. E uma história que de cor de rosa nada teve.Uma menina de 4 anos, vendida pelo pai, africano, devia ser entregue ao «cliente» aos 14.Educada num convento, escreveu cartas. E por ela se escreveram outras cartas. Deus sabe para onde. De Espanha veio resposta. Foi pago o «resgate» (uns vinte contos!) e uma bolsa de estudo,oferecidos pelo genro de Franco! Que merda de Censura era aquela, que deixou publicar tal vergonha? Oh! É como dar carta a quem atropele crianças! Censor e juiz torna-se uma correlecção!
Capa alegre, com Sylvie Vartan a iluminar o tom escuro à sua volta...
E, afinal, Diamantino Viseu e José Trincheira viram-se aflitos para sair da Praça, onde não tourearam, porque o empresário nãolhes oagou a tempo e horas. E horas tristes se seguiram! O empresário não cumpriu;nem os toureiros.Uma vergonha para todos...

+N+ 64/5

Crime tinha quase sempre reportagem especial no +N+. Robi Amorim, que me surpreende no semanário,descreve um crime, aparentemente sem castigo, como tantos outros, que hoje em dia vão ocorrendo por aí...
No melhor pano tombam nódoas. Quatro páginas do namoro desfeito de Johnny Halliday com Sylvie Vartan cheira a saloiada...
As capas, essas, melhoram substancialmente, ainda a preto e branco. Carol Backer aparece deslumbrante.
E choveu. E da chuva se fez notícia. Se pôs em causa a segurança apregoada e as medidas em curso.Sem motivo.
Aconteceu uma revolução no Brasil. Pois, mas não me lembrava. Li e gostei.Pena que a reportagem não fosse de casa.Muita as fotos (reproduzidas) e texto amorfo.
Na edição de 25 de Abril (dez anos antes!) dá-se conta. «O primeiro Oscar para um negro», o cujo dito era (acho que ainda é) Sidney Potier. Verdade se diga (e o +N+ disse ) que já antes, em 39, uma actriz escurinha,Haltie Mac Donald, tinha arrecadado uma estatueta, mas para o melhor papel secundário.
Em Maio, Sarita Montiel foi capa. O semanário estava a perder embalagem. Muita agência e pouco trabalho de casa. O segundo trismestre adormece na forma e no conteudo. São as meninas do cinema, os Beatles, mais cinema, algum teatro. Johnny Halliday verus Sylvie, relido hoje faz bocejar. Carol Backer com cabelos loiros na capa. Se tinha mais alguma coisa, não se vê na foto!
Choveu e da chuva se fez inundações e a dúvida: "...com que então já pode chover!?"
Por acaso já, já podia chover.A cidade inundou aqui e além, mas não ruiu, como antes...
Num Portugal-Inglaterra perderam os melhores e ganharam os que jogaram melhor(!?) - título, com chamada na primeira página! Traduzindo a versão patriótica de Rola da Silva: os melhores eram, como todo o mundo sabia, Portugal, dos portugueses! Os estúpidos que jogaram melhor eram ingleses... Que saudades!

+N+ 64/6

No fim de Maio, Charulla «matou» Neru, sem só nem piedade. Goa magoava o orgulho nacional. A pátria inamovível perdia-se. Excessos de patriotismo toldavam o espírito.
A inevitável história com final feliz de um caçador das Terras do Fim do Mundo, «caçado» por uma bonita jovem britânica, com a qual deu o nó, serviu para «Isto tornou-se Notícia», mesmo ao lado de «uma jovem pianista angolana» a
triunfar em Paris. A jovem dava pelo nome de Maria Emília Leite Velho e se é quem eu penso, fez carreira notável, com mais um apelido chegado do matrimónio.
Chegados a Junho, duas páginas para evocar Max Jacob e aconchegar o «bando de Picasso». É giro, mas um tudo nada a despropósito. Jacob morreu em Março de 44. Nem o texto está assinado, nem a proveniência da foto. Coisas que aconteciam nos toques eruditos.
Grande baile da Imprensa e da Rádio. Muito concorrido. Foi imensa a multidão de «ouvintes» ou de «leitores». Gente da Informação propriamente dita não se deu muito por ela, mas com fotos encheram-se duas páginas.
Rebocho Vaz, então governador do Uige, gozava de bastante popularidade entre os jornalistas angolanos, particularmente os do Notícia.
A Missão Católica do Vouga possuia um dos mais míticos hospitais de Angola. E se alguém quiser fazer o favor de explicar o fenómeno, que só conheci de ouvir falar, bem que lhe agradeço. Da Missão só retenho a devoção (e gratidão) exibida por quantos
por lá passaram. Se fora hoje já estaria encerrada e os deficientes visuais ou outros que tais, teriam de desviar-se e caminhar até Barcelona ou mais para cima, um tudo nada...
+N+ Manteve sempre respeito e admiração pelos militares que defendiam o princípio unilateral do Portugal indivisível. Lá mais para o fim, problemas laborais, de carreira, de promoções e outras questões, haveriam de pesar mais...
A angiografia cerebral de Egas Moniz foi realizada pela primeira vez portuguesa em Angola.Os médicos militarizados eram jovens e de formação recente. Deixaram de lado a pouca simpatia do governo salazareiro e avançaram com a técnica revolucionária do ilustre cientista e prémio Nóbel, mas já rotineira nos centros científicos de quase todo o mundo.
Já em Julho, inseriu o +N+ uma reportagem excepcional, desaconselhável às almas sensíveis, efectuada por jornalistas franceses, Da sua publicação traduziu-se para o português de então (sujeito a limites políticos ou patrióticos) o texto que relatava casos de escravatura execrável,medonha ou simplesmente reles, em diferentes regiões de países africanos.
Estavamos limpos,naquela altura mas...
A África foi desde sempre um mercado de escravatura. Toda a África. Presumivelmente ainda não encerrou esse capítulo triste da humanidade.Fora de África também existiu
e subsiste em sultanatos orientais ou na reeducação dos deslocados dos novos países do Leste. Melhor será não pensar nisso e dormir descansado.
Castro Lopo evoca uma das figuras míticas de Angola: Alves da Cunha.Ainda hoje vale a pena ler.Eu li,mas não conto...
Angola vem a Lisboa representar-se na Feira das Industrias. A Cuca fez sensação e uma fábrica de malas também...
Depois «crescemos» e Angola criou a sua Feira de Industias e quem quisesse que fosse lá. E foram. E ainda assim bastantes!
Tornou-se hábito, com a propósito ou sem ele, inserir imagens de Angola turística, para o caso de por lá chegar o turismo. O Duque (as quedas do) e outras paisagens deslumbrantes. Pequenos recantos, como o de Salazar, explicado como Dala Tando, fez-me lembrar as velhas piadas, no bar do Felix, que nos levavam, sempre a explicar melhor: António Oliveira Dalatando ou Oscar de Fragoso Uige!...
Refeitório no Bungo (Luanda) fez furor. Pudera! Refeições a cinco paus, caramba!Uma festa e muitas bichas. Conclusão do repórter: «É preciso espalhar por Luanda inteira
outros refeitórios iguais»!

A pantera negra da Broadway à solta na Quiçama...
Mas onde mais podia ser? Louise Michelle chegou de Paris, onde não nasceu, nem cresceu o bastante.Fê-lo nos «stats», onde aprendeu a cantar o suficiente para singrar na vida. E chegou para actuar num clube nocturno, vulgo cabaret, onde fez enorme sucesso e apareceu no «Chá» E haveria de ir espreitar as feras, lá, onde as feras faziam o seu programa...

Um texto imenso sobre Cruzeiro Seixas espantou-me(evitei escrever «comoveu-me» cá por coisas), e o seu riso, definido com tocante requinte por Cesariny.
Divertido mesmo foi ler um apontamento sobre a vinda de jovens estudantes do Sudoeste (africano), de Windhoek,mais exactamente. Sorridentes e bem dispostos, apesar da viagem em camiões de carga, mais usado no transporte de gado! Percorreram as principais cidades angolanas e divertiram-se à fartazana. Regressaram satisfeitos. A reportagem deu conta da manifesta boa disposição dos alunos e alunas, criteriosamente brancos,é bom de ver! Mas é bom saber que as coisas já não são assim, já não são como eram...

Paulo Cardoso era novidade.Recém chegado, estava na Emissora Católica.Depressa se impôs e grangeou prestígio.Havemos de cruzar algumas vezes como seu trabalho recheado de profissionalismo brilhante.

+N+64/7

Ir a Carmona (no Uige, meus senhores) de carro dava gozo. Estradas era na altura uma consequência do conflito armado. O governo da Província respondeu a essa carência com invulgar celeridade. No entanto, a estrada mais directa ao Uige tinha de atravessar os Dembos, zona pouco segura e só possível, com coluna militar. A safa era ir por Salazar.Fez-se um rali por aquelas bandas e o +N+ foi reportar. Uma das fotos apanha Rebocho Vaz, então governador do Distrito, mas que haveria de assumir a chefia da Província, no seu todo.
Um crime! Contado e desvendado por Castro Lopo. Sem foto de inspector ou de viuva.Uma intrigalhada, minuciosamente descrita.Um crime sem castigo ou uma história
de aventais...
Duas imagens paradisíacas, fascinosas, porra, giras pra caraças, Kalunga?, Katunga?,
gaita,Kalunga, pois, Kalunga! Mas onde era (é) isso?... Quem souber faça o favor de me dizer. Mas que é lindo, lá isso é!
Emílio Filipe foi ao Quiçama, mas disse pouco. A mim nada me disse. Mas eu sei, eu
fui lá, depois dele. Também dormi em cubatas redondinhas. Devia ser proíbido estar ali e dizer «apartamentos» ou coisas do género. Naquele ambiente do mato fica melhor soprar cubata, barraca ou similar. Claro que é de pedra, que tem cama com lençois e cadeiras e casa de banho. Talvez tenha dito bem, o Emílio, mas eu não gosto. A Quiçama era de sonho, mas ia-se lá, sobretudo para ver os bichos, elefantes,leões e quejandos. Era isso que nos levava à Quiçama. Terá graça recordar aprimeira vez que lá estive. Fui na comitiva do senhor aqui de cima, o de Carmona, esse mesmo, Rebocho Vaz, o cujo dito foi o único governador-geral a visitar o Distrito que habitava: Luanda!
A 18 de Julho, o +N+ exibe uma capa fabulosa.Não sou crítico de arte, nem sei se o autor do desenho vingou na arte. O pintor Avelino Rocha saltou das Escola de Belas Artes, do Porto, para a linha da frente, em Angola, como alferes.Por esses tempos, muitos jovens estudantes, do «puto» exilavam-se para evitar a guerra. Anos mais tarde,seriam as famílias a mandar os filhos para as Faculdades da Universidade
de Angola, de maneira a cumprir o serviço militar, onde a guerra era menos intensa,
menos perigosa...

Nas «Notas Várias» Charulla comenta de Moçambique uma situação já conhecida.O regime racista sul africano.O regime de Pretória era assumidamente racista, mas os sul-africanos brancos não era todos racistas. Pelo menos uma parte significativa deles não o era. Charulla viu-os em Lourenço Marques, especialmente na Rua Araujo,onde a noite era, como eram as noites do antigamente no Bairro Alto ou na Mouraria e sei lá mais onde.
Viu-os, dizia, por ali com meninas de cor.As mulheres, esposas, deixadas no Hotel, também não se perdiam e, algumas,as mais afoitas, pescavam especialidades escuras mesmo no no Bar do Hotel ou pelas cercanias...
A noite laurentina comos turistas sul-africanos era bem divertida e a reportagem oportuna, até para separar as águas
Voltamos a «casa».Benguela festejava o aerodromo novinho em folha. A teimosia
da sua gente, que deu material e suor para ter a sua «estação» dos aviões. E sobretudo para deixar de se sujeitar a ter de ir ao Lobito (ali tão perto) apanhar
o avião. Rivalidade é rivalidade. Até com o comboio eles discutiram. Para o Leste, o comboio passou a arrancar de duas estações. Metade de Benguela e a outra meia, do Lobito. E entroncavam uma na outra, na Catumbela e seguiam rumo ao Moxico, no Leste. Era bem um comboio do antigamente. Mas era manifico. Um serviço de restauração excelente...

E Castro Lopo retoma «Angola no passado» dele, o seu tema preferido, que descreve com discreta ironia, envolta em comovente ternura, personagens,os mais diversos e, frequentemente inesperados como este, que só o título faz arrebitar as orelhas: «Estatística dos burros do concelho de Luanda»... Simplesmente magnífico

+N+8

«Ameaça» logo no início de Setembro:o Governador Geral propunha-se governar a Província de Angola apartir de Nova Lisboa, capital do Huambo,mas...duante duas semanas! No entretanto, as«organizações Almeida Campos» escolheram o momento para inaugurar, na mesma Nova Lisboa,o primeiro super mercado angolano.O facto levou o +N+ a sugerir: «talvez fosse boa ideia ir lá alguèm da capital (Luanda!),para contar que coisa estranha é essa! Portuguesmente falando,o supermercado era novidade. Se a memória não me trai, o primeiro que apareceu em Lisboa foi um "minúsculo"na rua Primeiro de Dezembro, e ainda lá mora, alargado e com outro nome. Em Luanda, e decerto noutras cidades angolanas, o sistema já funcionava, em circuito fechado, digamos assim. Na Cuca, por exemplo, a cantina era um super tal e qual, ainda que destinado apenas aos trabalhadores da empresa. Mas havia habilidades:o pessoal do BCA, banco privado, cuja administração era maioritáriamente a mesma da Cuca, usava a cantina sem limitações. Outras grandes empresas dispunham, estou em crer,de recursos semelhantes...
Tshombé sublinhava por si só a qualidadedo organismo africano, que superentendia nos asuntos dos países do continente.Começaram por recusar acento a Moisés Tshombé, ao qual dariam pouco depois importância desmedida,para espanto dos jornalistas e seu respectivos orgãos de informação. Resolveram o dilemam com o senso habitual africano: eliminaram o político de vez!A África não melhorou, bem entendido, nem ficou pior. Tranquilamente na mesma! Nos dias de hoje, no que foi a Rodésia, há quem espere e não falta quem desespere...
A morte de Craveiro Lopes, que tinha saído pelo seu pé e pela vontade expressa pelo então primeirisssimo ministro, foi assunto da imprensa em geral e de três páginas do +N+, na particular.
Júlio Castro Lopo é quase demoníaco a falar de bananas para zurzir, sem se dar por isso, a administraçao pública da Província!A não perder, diriam hoje os colegas da TV...
Do alto do Café Paladium alguém caiu e Saint Maurice logo perguntou: acidente ou crime? Não respondeu. Preferiu que cada leitor tirasse conclusões...
Joaquim Cabral patinhou por Lisboa. Descobriu a Feira da Ladra, as fontes do Rossio e as flores ornamentais.O Quim era meio introvertido, falava pouco ou nada, mas a máquina fotográfica gritava pelos dois e só não «ouvia» quem não estivesse para isso...
Franco Nogueira passou por Luanda, de esposa à vista. Eram poucos, então,os políticos
que possuiam caras metades dignas de expor à curiosidade popular.
Saint Maurice volta ao caso do morto tombado do alto do prédio do café Paladium, interpelando um presumível suspeito, o qual, como qualquer presumível suspeito seja do que for, se declara inocente, absolutamente inocente, e muito desejoso que a verdade venha à tona. Não raro, as verdades pesam como chumbo e apodrecem submersas...
Em Setembro, a ficha técnica repetia os nomes do administrador,queria dizer: patrão, o director,que significava doutor ou equivalente, director-adjunto, director, o autêntico, o que superentendia na feitura do jornal, e o chefe de Redacção, cujos artifícies, mais ou menos anónimos, não constavam da ficha, cuja dita mostrava António Sequeira, fotógrafo do CITA e colaborador eventual!
Um artigo inédito de André Maurois,por acaso interessante, só não se compreende bem porque diabo é inédito?! O artigo disserta sobre o «Novo Romance» na perspectiva temporal, lembrando que Balsac e Stendhal desconcertaram tanto os seus contemporâneos
que a maioria dos críticos optou por ignorá-los!
O citado António Sequeira apresenta uma porção de fotos sobre o Mosteiro da Batalha.
Angerino de Sousa improvisa um texto mais ou menos épico, algo histórico e basto patriótico...
André Maurois volta às páginas do+N+, mas desta feita o «exclusivo» é só para Angola!

Em Outubro os Beatles estão na capa, com Tomás Ribas,à esquerda, o «Orfeu Negro», em baixo.Espaço ainda, em cima, para o maximbombo de gente pobre! Quem foi que disse
que não se misturam alhos com bugalhos? Mas a reportagem sobre o maximbombo sem travões, sem portas, sem letreiro e sem lotação tem piada. O chão do caminho é de areia. Na foto distinguem-se três maximbombos e gente à espera. Num improvisado banco de pedra vêm-se cinco mulheres sentadas, duas delas, pelo menos, tão brancas como eu.
Hoje, no metro,vim ao lado de uma jovem escurinha.Um tipo também escuro,de olho nela, ia de pé. Só não havia fotógrafo...
Mas o texto de Emílio Filipe mostrava o repórter zangado com a descriminação. Um desses autocarros espatifou-se uma semana depois, em pleno musseque. Levava três passageiros. Nenhum morreu...
Um monumento fabuloso chega-me a 17 de Outubro. Imagens extraordinárias de arte mabali: as maravilhosas estelas do cemitério de S. Nicolau, no sul de Angola. É fantástico imaginar que «aquilo» ainda lá esteja e possa (e deva) ser admirado e
sentido. Oxalá tenha sido (e seja ainda)conservado e uma qualquer TV pudesse por lá passar, um dia destes e dar-nos imagens de sonho e de todo inesquecíveis!
Picasso chegava aos 83 anos! Surge no +N+ fotografado ao lado da mulher, bem mais nova mas absolutamente digna de um génio.A foto é estranha:Picasso austero, rosto de perfil, como o da esposa, vestida de negro, com a cebeça tapada por um lenço preto. Não sugere aniversário, antes um luto antecipado. Seja dito, contudo, que os dois são bonitos de ver!
Novo exclusivo de Maurois, este sobre Camus e dele lembra o «Homem Revoltado» que se explicava: «Creio que não creio em nada»...
Acácio Barradas sofre aparatoso acidente de viacção, quando se dirigia de Catete para Luanda. Foi conduzido prontamente para Luanda e, no jornal, substituido interinamente por Emílio Filipe, o persistente cronista.
Saint Maurice assina reportagem sobre o comboio de Malange. Fala pouco do comboio e da viagem, comove-se e tenta comover os leitores com as agruras dos passageiros da 3ªclasse; dos assentos de pau e na bicha para comprar bilhete:um guichet apenas! Nada sobre os passageiros da 2ª ou da 1ª...
Divertido é tropeçar amiude com Eduardo Nascimento nas páginas do «N»,frequentemente meio despido,mas é (era!) natural: em Angola faz calor que não é graça. Quem trabalha à noite desfruta o dia. E nada melhor do que na praia! Nesta altura integrava um quinteto: «Rocks» à boa vida. Tinham sucesso ali, e também no «Puto» ou em Moçambique. Foi giro, depois, muito depois,encontrá-lo a dirigir em Lisboa, a transportadora aérea do seu País,como mesmo espírito alegre e a mesma simpatia!.

+N+ 64/9

Em Novembro o assunto em destaque foi Stanleyville: entre sangue, confusão e ruina. Assunto que nos tocava de perto, mas que evitavamos extrapolar, mas a foto da capa, com três cadáveres belgas, na caixa do camion pareceu excessiva, e igualmente impróprio destacar na mesma primeiro página o patrocínio da Cuca à reportagem.
No interior três páginas soberbas com bicharada:uma foca enorme a patinhar por Moçâmedes e dois elefantes, tamanho família,a cirandar na Quiçama, acalmam o crítico.
Koblet morre num desastre de automóvel. Não foi em Lisboa, nem nos arredores. Koblet além de pedalar muito e bem tinha estilo. Ganhou a Volta à França e umas quantas à Suiça, além de outro tipo de provas.Esperou por Fausto Coppi para abandonar o ciclismo.
A situação em Stanleyville durou algumas semanas mas sangue e barbárie eram uma constante nos quatro anos de independência que já levava o Congo ex-belga.
Sofia Loren com espaço no +N+ beija Carlo Ponti e explica que foi ele que dela fez gente!
Em Dezembro,o +N+ completava seis anos.A Feira (das indústrias) como sempre deixou para o fim os arrumos e perdeu a noite a arrumar. Mas, na hora, tudo bem.
Boa reportagem sobre a outra Leopoldville, «agora» Kinshasa.Cidade grande,mas tranquila.
Das meninas do cinema foi a vez de Carrol Baker, mas sem nada especialmente especial...
Moxico encantava e apresentou-se ao +N+ como «Turismo à espera de turistas».Que se havia de fazer? Portuga,portuga mesmo só ia à terra dele no «puto» E ir ao Luso não era o mesmo que apanhar o barco do Barreiro, muito embora o comboio do Lobito por lá passasse. E havia tanto, tanto para desfrutar em Angola!
Um caso claro de abuso de autoridade abriu o ano novo, ainda que em boa verdade tenha ocorrido no final do ano de 64.Um acidente de automóvel,à noite, na estrada Lobito-Benguela, provocou um morto. O corpo da vítima ficou no local do sinistro,
«como a Lei prescrevia»,sublinhou o +N+.
No dia seguinte, ao meio-dia, o Rádio Clube do Lobito comentou o caso, criticando as autoridades por ainda não terem recolhido o cadáver. O delegado da Procuradoria da República deve ter amuado. Exigiu a gravação do comentário. Requisitou uma força policial e cercou o Rádio Clube. Prendeu Carmo Veiga,porque este solicitou autorização para nommear um advogado! Por alguma razão se dizia do regime, que vigorava, que era fascista,o regime e alguns bastantes dos magistrados que à sua sombra se acoitavam.
Paulo Cardoso, responsável, pelo Radio Clube garantiu ao +N+ que Carmo Veiga não se excedeu, ao falar com o Delegado do M.P.
Era assim a vida. Delegado podia ser estúpido,grosso ou parvo, que nada nem ninguém lhe diminuia a autoridade.
Valha-nos Deus, que hoje dispõem de menos autoritarismo e oxalá não seja, como parece, só isso...

+N+ 65 - 10

Remodelação intestina é anunciada. Acácio Barradas deixa de figurar na ficha. Não é indicado quem assumirá a chefia da Redacção.Inesperada, também, a nota sobre o escudo angolano: a segunda moeda mais valorizada no Mundo. Ena pá!Mesmo assim precisava-se de uma porção deles para adquirir os escuditos de Lisboa e cercanias que se remetiam às famílias dependentes...
J.Castro Lopo termina a evocação de José Pereira do Nascimento, o «dr.Maravilhas», asseverando que «a memória será sempre abançoada entre os portugueses que têm consciência dos verdadeiros e mais legítimos interesses da Nação».
Em Lisboa o «DN» completava cem anos e Charula deu relevo no +N+ mostrando Américo Tomás em três fotos, um busto da Augusto de Castro, director, e dois chefes de redacção: João Coito e Pereira da Costa. E uma imagem soberba da oficina, com uma fila enorme de linostipistas. Coisa de fazer saudades!
Janeiro ia ainda a meio quando o +N+ anuncia que Rebordão Correia assumirá interinamente a chefia da Redacção. Informava-se também que a anunciada delegação em Lourenço Marques era adiada.
A pouco cuidada paginação volta a dificultar a leitura de algumas reportagens, mesmo se uma delas é publicitária...
A23 de Janeiro "tropeço" numa capa com imagem estreita, mas a cor! O resto da página é uma coisa inóspita sobre um vago concurso.
Mukanda é suposta ser uma reportagem sobre a cerimónia secreta da circuncisão dos quiocos jovens. É mais uma da reportagens pouco conseguidas, poucos reveladora e, azares dos azares, difíceis de ler, devido à tal paginação com texto na dobra das págínas!
O Maiombe encerrava a magia da floresta "cerrada"! O grande jardim devassado pelos madeireiros inebriados pelo odor de madeira requintada. E valiosa!
Se para tudo há leis, que mais ou menos toleram abates, para lá chegar, mesmo em 65, ainda escasseavam os acessos.É bem verdade que muitas estradas estavam a romper muitos quilómetros de acessos,por Angola fora. Talvez menos em Cabinda, àquele tempo. O Estado temia pela segurança dos madeireiros, mas estes borrifavam-se, queriam a madeira e iam em busca dela, impondo a «sinfonia dos machados, serrões e traçadeiras», como definiu Emílio Filipe, que lá foi ver, com o Chaves, que tratou das imagens. E o reporter acabou por concluir existir risco de exploração excessiva da riqueza florestal. O que não se sabe hoje é se o Maiombe ainda é rico ou apenas remediado...
Saint Maurice encontrou mais um crime na Ilha de Luanda.Um crime comum, como são os homicídios enciumados. Disso disse pouco. Espantou-se mais com «um agente policial e vários motoristas de taxis que negaram assistência humanitária a uma das vítimas que, semi-nua, gravemente ferida e ensanguentada pedia auxílio, em vão...
Duas páginas com duas fotos,sim, mas... São fotos do Quim Cabral, a mostrar a regata, ao largo de Luanda, e os dois vencedores: Orlando Sena Rodrigues e Adriano Silva, angolanos de gema e campeões do todo nacional!
Afinal, Acácio Barradas foi (tinha sido) despedido. António A.Simões, proprietário da Neográfica e nessa condiçâo editor do -+N+, assina uma nota, que não deve ter escrito, mas para se despedir alguém era preciso ser patrão.
O petróleo de Angola estava a aquecer mas «era nosso» assumia o +N+ a propósito de um
artigo do «Star» sul-africano levantar algumas questões! Cabindo, por seu turno, festejava o 80º aniversário do Tratado de Simulambuco, o qual atribuia a Portugal a administração do território.Portugal entendeu furar o acordo e integrar Cabinda em Angola e não ganhou muito com isso e acabou por não deixar os cabindas satisfeitos...
A Barra do Cuanza ficava a uns oitenta quilómetros de Luanda. Por ali 80 km é pão com manteiga.Ia-se na calma e voltava-se satisfeito. +N+ foi algumas vezes e disso deu conta, com imagens soberbas, um pouquinho de cada vez, o suficiente...
Para fevereiro anuncia-se a primeira reportagem a cores, na imprensa angolana.
Emílio Filipe volta com Cabinda, desta vez a cores e não apenas a cidade, maso enclave, mostrando vilórias à beira-rio, em plena floresta. Bonito de ver...
A cor na capa não resultou muito bem e o +N+ do Notícia tina um fundo de cor maricas!
Júlio Castro Lopo,para a História, «caçou» António Sérgio e o próprio confirmou, por escrito, ser filho de António Sérgio de Sousa Junior, cujo pai, António Sérgio de Sousa, Visconde, tinha sido preceptor militar do infante D.Luís, depois Rei. O avô do escritor foi o primeiro governador do distrito de Moçamedes. O fraco pela História tinha, no entanto, um ponto comum: Angola!
Ernesto Lara, Xico Orta e Angerino de Sousa, o bando dos duros ouviu um menino chorar.Na esplanada da Marginal habitualmente não se chorava. O miudo, aí de uns três anos e picos, chorava, sim senhor, sentando num carrinho, à beira da mesa da esplanada. Na mesa sem alguém, vazia, desoladoramente vazia. E o menino chorava.Mas, de repente, pareciam quatro meninos a brincar, quatro meninos a rir...
Uma hora depois o trio voltava o ser duro, quando o pai da criança voltou. Não lhe bateram; só lhe chamaram nomes; e mostraram o garoto no +N+.Quem contou tudo foi o Ernesto, com a caneta dele, muito especial. Duas magnificas páginas!

Finalmente a capa a cor aparece arrumada, com o +N+ já com cor decente. A senhora de óculos, mesmo assim fascinante era Soraya.Fora esposa de Rezha Pallevi, Xá da Pérsia.Era bonita,lá isso era,mas não fazia criança, não adoçava o Xá como o Xá precisava! Soraya abalou triste. O Xá, esse, arranjou açucar adequado, mas de nada lhe valeu a descendência. Os americanos tiraram-lhe o tapete. E ele caiu. O Irão optou por não aturar mais Sorayas e outras que tais e muito provavelmente, aqui que ninguém nos ouve, mandou os americanos à merda! Mas, nesse 65 o grande mau era Nasser. Uns malandros alemães tinham fabricado para gáudio do Egipto Bombas «V-2», susceptíveis de arrazar Israel!...
O assunto mudou,porque anunciava-se que Saint Maurice iria assistir aos dois Benfica-Real,para a Taça dos Campeões. Começava uma nova era e a imprensa angolana ia começar a adiantar-se à congénere metropolitana, tal como a Emisssora que dava o salto:reforçava-se de profissionais e mudava de residência.
Emílio Filipe insistia com Cabinda e a sua fabulosa mata.«Há laivos de sangue sob o verniz do polimento da mais bela mobília de mogno»!
«Sabe-o», acrescenta «quem vive em Cabinda». Também nós, os que lemos o +N+,ficamos
a conhecer e recordar a floresta do Maiombe...

O Benfica, de Coluna e Eusébio venceu o Real de Madrid por 5-1. Naquele tempo era
difícil. Telefonar vá que não vá,mas mandar fotos tá quieto. Havia sempre meio de chatear passageiro amigo ou conhecido,para levar envelope. Tivemos durante muito tempo grande apoio da TAP,que nos facilitou a vida. A reportagem do jogo saiu,pois, em suplemento, com sucesso. Por lá só havia Imprensa e Rádio. Mas outro suplemento tornou-se tragicamente necessário e indispensável:narrava um terrível pesadelo. A morte de 28 crianças de um asilo.Pelo simples facto de lavar a cabeça. Foi quase absurdo encontrar explicação: um jovem analfabeto,empregado de drogaria, trocou os tambores e retirou de um deles, sem saber, um produto altamente venenoso.

Uma coluna de texto destaca a morte de um antigo professor primário, Máximo Conde. Intelectual admirado, foi iguamente jornalista no «Comércio» e fundador da «Tribuna». periódico que seria suprimido pelo cap.Agapito da Silva Carvalho, ao tempo Governador-Geral. O +N+ previne que dedicará uma crónica especial à figura invulgar de Máximo Conde, e laborada por um categorizado colaborador permanente!
E fica-se a saber que a suspensão de «O Mundo Desportivo» terminava e o trisemanário deveria reaparecer na segunda-feira. No entretanto, o chefe de redacção foi demitido ew esperavam-se outras alterações no quadro do pessoal. Os da minha idade devem lembrar-se: foi por mór do «Vale dos Caídos», a propósito dos 5-1 do Benfica ao Real,e porque Franco não achou graça. O dr. Salazar concordou é bom de ver. Os ditadores eram todos assim: muito respeito pelos mortos e os vivos que se lixassem!...

Olhar imagens da Missão do Vouga comove sempre que aparecem, e apareciam muitas vezes.Hoje, poderá parecer uma lenda, mas aMissão era, pode dizer-se, um santuário pelo menos tão humanista como religioso. A tese do fazer bem sem olhar a quem praticava-seali. Não seria um paraíso divino, mas era um sinal de esperança manifesto!
«São aos milhares - vêm de todos os pontos de Angola
em busca de uma assistência, que lhes é prestada
com amor e carinho» - lia-se sob o título da notícia...
Duas fotos, o dr. Miguel (?), director do Hospital Missionário, e o padre Artur Silva
um dos fundadores do Vouga,
O Vouga, senhores, que pena não ter vindo connosco, quando saímos. Que falta faz
por aqui uma instituição assim, um género de humanismo que se sumiu...

Choveu em Março e choveu bem. Não era novidade. Mas dava fotos e lamútias
Farinha casou em Silva Porto (Silva Morto era mais popular, tal como com Serpa Pinto, que virava Serpa Pó)!Era um aviso de que se estava à espera dele...E não demorou. Ocupou na redacção o seu lugar, que foi seu até ao encerramento, em 75, imposto pela tropa, que virara de rumo, como iremos ver...
Vinte anos haviam decorrido desde o termo da guerra na Europa, (39-45). Reapareceram fotos da tomada de Berlim, de campos de concentração, e do massacre de prisioneiros.
Pior só depois, quando tocou a vez aos japoneses de pagar a factura: duas bombas atómicas, duas. Deve ter morrido muita gente, deve, mas fez-se por esquecer muito depressa...
Estudantes de Nova Lisboa visitaram a Neográfica, editora do +N+ e tiveram direito a foto de família,para recordar...
Um menino que morreu. Um horror de história. Morrer aos oito anos! Atropelado por uma motoreta, que se despistou, Em Sá da Bandeira.
As mortes dessas não servem para nada. Cada vez há mais veículos que dizimam vidas. Cada vez andam mais depressa ou com menos cuidado e menos respeito. Tó Zé tinha oito anos.Enlutou uma cidade. Em vão!
Saint Maurice foi assistir à derrota do Benfica, em Madrid, mas a eliminatória
foi ultrapassada. Muita parra e pouca uva, como era comum com o jóvem repórter, mas já não deu para suplemento extra.
Em Abril BB surge na capa, só, sem chamada de crónica, ou reportagens, no interior.Mas foi uma bela capa, lá isso foi...
Em Lisboa, Saint Maurice foi ver a Ponte, que seria Salazar durante alguns anos. A cuja dita ainda não estava pronta, mas já impressionava e as boas imagens ajudam sempre a reportagem!
Também impressionou (e ainda me impressiona), ler hoje, a carta de Camilo ao médico.O escritor acabava de cegar e ditou o grito mais lancinante que se pode escutar...
Chuva e engenharia não pareciam cohabitar em Luanda e as imagens não ajudavam à reconciliação...
Mas não era verdade, como tanto se disse,que o +N+ tivesse sempre gajas na capa. A
24 de Abril o «oo7»encheu a capa de uma edição «reservada às senhoras!»...