De há uns tempos a esta parte têm aparecido alguns livros curiosos relatando experiências de vidas vividas nas antigas colónias, hoje países independentes.
Muitos deles falam das coisas extraordinárias presenciadas por gente longe das suas terras e descrevem acontecimentos da sua vida que, por terem sido vividos longe do seu habitat, lhes parecem dignos de letra de forma, de livro.
Por este Natal um amigo ofereceu-me um livro intitulado " A Última Jóia", que o autor, Luís Rodrigues, classifica como " a história de Angola que ainda ninguém escreveu".
A classificação é atrevida, já que o livro é a narrativa das venturas e desventuras da sua família por vários cantos de Angola e também por Moçambique. Por sinal, o autor viveu no Lubango em anos durante os quais por lá andei. E fala de alguns personagens e acontecimentos que são do meu conhecimento. O Machado Cruz era, de facto um malfadado informador da PIDE, um miserável, capaz de matar a própria mãe para obter o que quisesse. E o Amâncio da Mobil também era informador, embora não fosse tão mau como o Machado Cruz
Todavia, o Leonel Cosme, sendo um dos donos da ideia das "Publicações Inbondeiro" não era professor primário - e não é . O Garibaldino de Andrade, sim, esse era professor primário.
Hortênsio de Sousa, a quem chamavam "a garganta do Império", foi Governador da Huíla.
Não é verdade que o clima do Lubango fosse, ou seja, tão difícil. As pessoas não desmaiavam na rua por causa da altitude e os homens não andavam sempre de casaco. O Lubango só era frio de madrugada, nos meses de Maio Junho e Julho. Em Agosto, de vez em quando, já chovia. Tinha e suponho que aina tenha uma temperatura média anual na ordem dos 25 graus centígrados.
E, oh! senhor dr. Luís Rodrigues, os bosquímanes não tiveram nada a ver com os "flechas", uma tropa de elite formada pela PIDE para operações especiais no Norte e no Leste. Os Bosquímanes foram utilizados pelo exército sul-africano como pisteiros durante a invasão de Angola, iniciada a 23 de Outubro de 1975.
Não me consigo lembrar da pessoa e também não consegui acabar de ler o livro, embora lhe reconheça o mérito que atribuo a todas estas narrativas pessoais: a História também se faz com as pequenas estórias, mas é preciso ter cuidado: o Cosme não vai saber que lhe atribuem a função de professor primário e as pessoas que trabalharam com o Mário Saraiva de Oliveira também não vão apreciar que ele possa ter sido considerado um notável da Rádio.
Também não apreciei certas "intimidades" com gente da PIDE e sobretudo que num livro de 350 páginas não haja uma referência às gentes das terras por onde passou. Era tudo só paisagem e viagens por terrenos difíceis, onde deixava enterrar os jeeps com demasiada facilidade. Aquela, a caminho do Cuchi, com o Zé Peyroteu, aconteceu, seguramente porque não era ele que ia a conduzir...