sábado, dezembro 23, 2006

UM BELO PASSEIO...

... ao Porto, do Leston, deu no que deu e que com sabor nos descreveu. E eu, que descia do Camões, afinal com algum a propósito, de telemóvel ao ouvido, fui ouvindo deliciado. Atravessei o Rossio e fui à ginja, às Portas de Santo Antão. Depois de cuspir, discretamente os caroços, abeirei-me da livralhada, mesmo em frente. E não é que estavam, bem à vista, cinco livros, cinco
de Luandino Vieira!
Comprei-os todos e, imaginem, ao abrir «velhas estórias» esbarro logo com: «capa de João da Câmara Leme»! Nem fazia ideia que eles se tivessem conhecido. O João, casado com uma finlandesa, personagem de que já vos vendi alguma coisa, quando o apresentei, em Luanda, ao Troufa Real, a propósito de um ser descendente de Gungunhana e outro de Mouzinho. Afinal o Natal existe e mexe.
Lembrei-me de ser novato em Luanda e estar sentado, na redacção do «Comércio», a mexericar qualquer coisa, quando um sujeito entra, acompanhado de uma jovem senhora. Meio torcido, como calculam, Ferreira da Costa recebeu-os no meio da Redacção. Luandino tinha sido politicamente preso porque em Lisboa que lhe deram o prémio pelo livro e a polícia política não brincava em serviço, mas havia gente que discordava e o assumia. Ali estava um desses, que acompanhava a esposa de Luandino, tornado maldito não pelo livro que escrevera, mas pelo prémio que grangeara.
Tudo isto em cima de umas notas que o Manuel Ricardo me mandara sobre a guerra em Angola vista de Moscovo. As dúvidas do escritor sobre perdas e danos de militares soviéticos em Angola, designadamente no Cuito Quanavale. Eu já lá não morava aquando dessa guerra. Mas estive lá. Um pequeno grupo de jornalistas que descrevera a resistência aos ataques da Unita e de forças militares sul-africanas fora alvo de chacota da propaganda de Savimbi, que alegava que ps jornalistas tinham sido enganados e levados para outros locais. O Cuito tinha sido tomado pela Unita.
Fui eu, lá, que confirmei aos colegas que estavamos efectivamente no Cuito, que eu bem conhecia a confluência dos dois rios. Lá estava quando os bombardeamentos nos convenceram a retornar ao blindado e sair de lá. Mas soldados angolanos e cubanos lá estavam e por lá ficaram.
E fora na viagem, que nos levou a Nova Lisboa, Silva Porto (morto, como dizíamos no nosso tempo) e Serpa Pinto (Pó, idem). No aeroporto de Silva Porto não só vimos militares soviéticos, como tivemos oportunidade de falar com um dos oficais. Por essa altura não se escondiam. Mas também, verdade se diga que, não consta que se tenham envolvido em operações militares na região. Viajei em aviões soviéticos, de diferentes tamanhos e alguns casos com tripulações angolanas.
Antes de sair de Angola, no Ambriz e em Sá da Bandeira, vi diferentes intervenientes. Vi norte-americanos, da Cia ou coisa que o valha, mas nenhum soldado, além dos zairotas e de portu-
gueses, participaram na guerra ao lado de Holden Roberto. Com a Unita, de Savimbi, a participação sul-africana foi mais intensa, ainda que eles não comungassem. Era mais cada um do seu lado, em Pretória o apharteid ainda vigorava!
Não, não me parece que o escritor russo tenha motivos para crer que tenham morrido em Angola mais russos do que se diz. Os cubanos sim, esses foram bem mais carne para canhão. mas russos não.
Logo que passe o Natal vou-me ao Leston e onde estiver vou-lhe às garrafas. Vamos beber e rir
agarrados ao passado que nos passou, mas que está sempre por aí a espreitar...

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