- "Sabe, venho muito poucas vezes ao Porto... movimento-me mal ... só de Taxi..." - digo eu.
- " Como todos os lisboetas...raramente vêm ao Porto..." responde o meu interlocutor.
E assim começa uma reunião, que, para mim, era importante. Fiquei sem saber o que dizer porque a verdade é que estas questões muito portuguesas continuam a passar-me ao lado.
Todavia, esta minha ida ao Porto teve dois momentos que valem a pena ser partilhados. O primeiro tem a ver com a minha dificuldade em me movimentar na capital nortenha - só de Táxi.
À saída de uma primeira reunião, em Matosinhos, numa praça de Táxis estava estacionado apenas um. Eu e os meus companheiros entrámos, demos o endereço para onde queríamos seguir e o senhor, de setenta anos, (disse-nos depois) e com ar enxuto começou por nos explicar que, "nesta altura, o serviço que os senhores me estão a dar é ouro...mas eu não o posso fazer porque..." e explicou-nos que tinha um compromisso a que não podia faltar: tinha que levar uma senhora para fazer hemodiálise. Mas nós não deixaríamos de ficar servidos porque ele ia já telefonar a um amigo, para marcar encontro connosco. O seu amigo concluiria o serviço e nós não lhe pagaríamos nada a ele.
Ainda tentei protestar, mas o senhor, com um olhar de falcão, sem pestanejar, não hesitou na recusa. E foi falando: que tinha começado um curso de relações humanas em África e o estava a concluir. Todas as manhãs saía de casa por volta das cinco da manhã com um projecto e quando regressava o tinha completado.
- " E então, onde é que iniciou esse tal curso de relações humanas?..." - perguntei.
- "Em Angola - em Benguela, no Lobito, em Nova Lisboa, no Lubango..."
- "Então e como é que o senhor se chama?"
- "Fernando Marta..."
-"Irmão do Emílio Marta" - disparei eu.
- "Como é que o senhor sabe?"
Lá lhe expliquei que tinha trabalhado na Rádio e que, naquele tempo fazíamos tudo, incluindo relatos de corridas de automóveis e que o nome Emílio Marta era dos mais sonoros, que me lembrava de ter relatado algumas vitórias dele e alguns desaires também.
O Emílio já eu conhecia, das corridas, dos banquetes para entrega dos prémios, no Casino da Senhora do Monte, no Grande Hotel da Huíla e no Hotel Mombaka. O Outro irmão dos "Irmãos Unidos" - assim se chamava a firma de automóveis que eles tinham em Benguela - conheci-o numa praça de Táxis, em Matosinhos, a bendizer da sua vida passada e presente. Com alguma saudade pelo meio, mas quem é que aos setenta não tem saudade?
1 comentário:
É uma história muito saborosa.
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