terça-feira, dezembro 05, 2006

PRESENTE NO PRETÉRITO DO CONJUNTIVO

Eu estava no Ambriz. Por ali tinha havido mudanças. Um jovem brasileiro, que tinha brevet para pilotar avionetas ia-se embora. O governo do seu país tinha reconhecido o governo de Luanda, o que o «forçava» a suspender a colaboração à coligação FNLA/UNITA. Eu não via o porquê! Dias antes, o jovem, tinha efectuado um voo nocturno sobre Luanda. Acompanhado por um colega meu, o voo destinava-se a tentar deixar cair sobre a Emissora Oficial um engenho explosivo. Não faço a menor ideia onde terá caído a granada. O piloto não conhecia de Luanda o suficiente e o Renato não possuia experiência de despejar fosse o que fosse de um avião. A Emissora não silenciou, nem fez referência ao «atentado», nos noticiários nocturnos.
Já vos dei testemunho de que vi no Ambriz gente, aparentemente secreta americana. Um que outro acompanhou algumas das incursões militares zairotas. Com as mudanças na presidência dos states o envolvimento visível desapareceu. Observadores sul-africanos apareceram em cena. Assistiram ao fiasco que foi a tentativa de avançar sobre Luanda e desadaram, como eu, que subi para o Lubango.
No Ambriz costumava ouvir em onda curta os noticiários nocturnos da Emissora de Lisboa. Eram como os antigos, do tempo salazaresco, mas de sinal contrário, talvez mais ferverosos.
Em Sá da Bandeira fui, imagine-se!, ao cinema. O serviço no hotel continuava excelente. Havia, sim senhor, um contingente militar sul-africano algures junto do aeroporto, Na cidade não se viam. Os oficiais apareciam, de vez em quando, no hotel, mas discretos, à civil. No Huambo (para mim ainda era Nova Lisboa) estava um governo, tal como em Luanda estava outro. A diferença era subtil: um era popular; o outro, democrático!
Deu para ir a Whindoek fazer compras. Depois foi o regresso às origens, via Joanesburgo, onde passei a consoada do Natal com um casal amigo. O casal continua amigo, mas já não sul-africano: optou pela nacionalidade australiana.
Mal cheguei a Lisboa tinha outro casal à espera para celebrar o fim de ano. O «misterioso» 25 de Novembro já lá ia. Encontrei, portanto um PC comedido e a jogar à defesa, por assim dizer.
Em Fevereiro, Maria Armanda Falcão reaparecia com «O Diabo», onde estive algum tempo antes de ingressar no Jornal Novo. Retomei colaboração no semanário de Vera Lagoa por mór da bomba que puseram à porta. Foi, bem entendido, uma bomba escondida com rabo de fora. O militarismo exacerbado perdia as estribeiras e detestava críticas. Gostava de se sentir heroico e, sobretudo, activista.
O PC era bem entendido aquilo que o deixavam ser. Trepara demais até ao fatídico 25 de Novembro e foi-se estatelando a partir de então. Sem força não tem poder. A ideologia não dá nem para os alfinetes.
Em Abril, as chamadas forças da ordem não souberam ou não quiseram resistir. Marcelo Caetano retirara-lhes alguma visibilidade. A DGS sentia-se como mera burocracite.
Em Novembro estava tudo confuso. O vanguardismo de esquerda acreditou mas não estava preparado para enfrentar resistência. Mas os comandos eram de outro filme. Com eles podia-se resistir. Eles quiseram, puderam e souberam. Spínola não sabia, Costa Gomes tirou o curso.
Esbate-se a memória quando se debate o marxismo ou o fascismo. Na Itália e em França, por exemplo, foram fortes e poderosos. O partido comunista francês foi durante anos o mais sólido. Só com coligações à direita se chegava ao poder. Os sindicatos eram poderosos e essa mistura permitia aos trabalhadores franceses um nível de vida impar na Europa. Mas lá está: era preciso que o governo de direita cedesse e ele sabia ceder.
Na Itália ensaiava-se o euro comunismo. A experiência, como se sabe, deu para o azar. Os regismes marxistas foram enfraquecendo e na própria União Soviética estoirou. Mas estes inflectiram depressa e ensaiam agora sistema que teria decerto a simpatia do mais celebrado nacionalista de Santa Comba. E parece que vão andando, não sei se cantando e rindo, levados. Levados, isso sim!
Pinochet e Fidel, um de cada lado, chegam ao fim da vida intactos. Já antes, Salazar morreu na paz do Senhor, que o terá(quem sabe?) empurrado da cadeira. Franco expirou de morte natural. Só o pobre do Adolfo optou pelo suicídio...
O sobrinho do tio esfalfa-se a demonstrar que não há dúvidas. Era tudo comuna, eram todos comunas.

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