terça-feira, dezembro 26, 2006

Os Livros

De há uns tempos a esta parte têm aparecido alguns livros curiosos relatando experiências de vidas vividas nas antigas colónias, hoje países independentes.
Muitos deles falam das coisas extraordinárias presenciadas por gente longe das suas terras e descrevem acontecimentos da sua vida que, por terem sido vividos longe do seu habitat, lhes parecem dignos de letra de forma, de livro.
Por este Natal um amigo ofereceu-me um livro intitulado " A Última Jóia", que o autor, Luís Rodrigues, classifica como " a história de Angola que ainda ninguém escreveu".
A classificação é atrevida, já que o livro é a narrativa das venturas e desventuras da sua família por vários cantos de Angola e também por Moçambique. Por sinal, o autor viveu no Lubango em anos durante os quais por lá andei. E fala de alguns personagens e acontecimentos que são do meu conhecimento. O Machado Cruz era, de facto um malfadado informador da PIDE, um miserável, capaz de matar a própria mãe para obter o que quisesse. E o Amâncio da Mobil também era informador, embora não fosse tão mau como o Machado Cruz
Todavia, o Leonel Cosme, sendo um dos donos da ideia das "Publicações Inbondeiro" não era professor primário - e não é . O Garibaldino de Andrade, sim, esse era professor primário.
Hortênsio de Sousa, a quem chamavam "a garganta do Império", foi Governador da Huíla.
Não é verdade que o clima do Lubango fosse, ou seja, tão difícil. As pessoas não desmaiavam na rua por causa da altitude e os homens não andavam sempre de casaco. O Lubango só era frio de madrugada, nos meses de Maio Junho e Julho. Em Agosto, de vez em quando, já chovia. Tinha e suponho que aina tenha uma temperatura média anual na ordem dos 25 graus centígrados.
E, oh! senhor dr. Luís Rodrigues, os bosquímanes não tiveram nada a ver com os "flechas", uma tropa de elite formada pela PIDE para operações especiais no Norte e no Leste. Os Bosquímanes foram utilizados pelo exército sul-africano como pisteiros durante a invasão de Angola, iniciada a 23 de Outubro de 1975.
Não me consigo lembrar da pessoa e também não consegui acabar de ler o livro, embora lhe reconheça o mérito que atribuo a todas estas narrativas pessoais: a História também se faz com as pequenas estórias, mas é preciso ter cuidado: o Cosme não vai saber que lhe atribuem a função de professor primário e as pessoas que trabalharam com o Mário Saraiva de Oliveira também não vão apreciar que ele possa ter sido considerado um notável da Rádio.
Também não apreciei certas "intimidades" com gente da PIDE e sobretudo que num livro de 350 páginas não haja uma referência às gentes das terras por onde passou. Era tudo só paisagem e viagens por terrenos difíceis, onde deixava enterrar os jeeps com demasiada facilidade. Aquela, a caminho do Cuchi, com o Zé Peyroteu, aconteceu, seguramente porque não era ele que ia a conduzir...

4 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

Prezado Leston Bandeira, a propósito da sua afirmação «os bosquímanes não tiveram nada a ver com os "flechas"», atrevo-me a dizer que sim, que tiveram, mesmo não tendo sido guerrilheiros anteriormente.

Lembro-me de uma reportagem de Fernando Farinha publicada na revista Notícia, que relatava uma sua participação falhada numa operação feita por "flechas" que eram kamussekeles, isto é, bochimanes ou bosquímanos habitantes das terras situadas a Leste do Cunene.

Segundo a reportagem, Fernando Farinha teve que ser evacuado de helicóptero no terceiro dia da operação com os pés feitos num bolo, porque não aguentou a passada dos bochimanes. Se não me engano, FF ficou uma semana sem conseguir andar...

Anónimo disse...

bosquimanes, mucancalas,camussequeles, talvez outros nomes, foram guerreiros (flechas) comandados pela PIDE, tanto eles como imensos angolanos, moçambicanos e guineenses estiveram ao lado dos portugueses, daí Portugal aguentar 13 anos uma luta contra USA,CUBA;U.SOVIÉTICA, e ONU, porque sabiam que os movimentos das Independências eram o que têm sido. Portugal sem esses povos a apoiar, nem 1 ano aguentavam aquela guerra do ultramar.

Anónimo disse...

Garibaldino de Andrade -» Escritor alentejano de relativo interesse que por Angola passou, ficando-se-lhe a dever a sua participação nas Edições Imbondeiro e organização imoral da farsa que foi o 1º encontro dos escritores de Angola em 1963 no Lubango.

Anónimo disse...

Se o Garibaldino de Andrade é um escritor de "relativo interesse" então não conheço ninguém com interesse.
Gostaria de saber o que o anónimo escreveu melhor do que o dito autor. Talvez assim se conheça os seus interesses...
É bom não turvar a história (que para mim ainda se escreve com "h") com comentários ideológicos.