terça-feira, agosto 17, 2010

+N+ 64/6

No fim de Maio, Charulla «matou» Neru, sem só nem piedade. Goa magoava o orgulho nacional. A pátria inamovível perdia-se. Excessos de patriotismo toldavam o espírito.
A inevitável história com final feliz de um caçador das Terras do Fim do Mundo, «caçado» por uma bonita jovem britânica, com a qual deu o nó, serviu para «Isto tornou-se Notícia», mesmo ao lado de «uma jovem pianista angolana» a
triunfar em Paris. A jovem dava pelo nome de Maria Emília Leite Velho e se é quem eu penso, fez carreira notável, com mais um apelido chegado do matrimónio.
Chegados a Junho, duas páginas para evocar Max Jacob e aconchegar o «bando de Picasso». É giro, mas um tudo nada a despropósito. Jacob morreu em Março de 44. Nem o texto está assinado, nem a proveniência da foto. Coisas que aconteciam nos toques eruditos.
Grande baile da Imprensa e da Rádio. Muito concorrido. Foi imensa a multidão de «ouvintes» ou de «leitores». Gente da Informação propriamente dita não se deu muito por ela, mas com fotos encheram-se duas páginas.
Rebocho Vaz, então governador do Uige, gozava de bastante popularidade entre os jornalistas angolanos, particularmente os do Notícia.
A Missão Católica do Vouga possuia um dos mais míticos hospitais de Angola. E se alguém quiser fazer o favor de explicar o fenómeno, que só conheci de ouvir falar, bem que lhe agradeço. Da Missão só retenho a devoção (e gratidão) exibida por quantos
por lá passaram. Se fora hoje já estaria encerrada e os deficientes visuais ou outros que tais, teriam de desviar-se e caminhar até Barcelona ou mais para cima, um tudo nada...
+N+ Manteve sempre respeito e admiração pelos militares que defendiam o princípio unilateral do Portugal indivisível. Lá mais para o fim, problemas laborais, de carreira, de promoções e outras questões, haveriam de pesar mais...
A angiografia cerebral de Egas Moniz foi realizada pela primeira vez portuguesa em Angola.Os médicos militarizados eram jovens e de formação recente. Deixaram de lado a pouca simpatia do governo salazareiro e avançaram com a técnica revolucionária do ilustre cientista e prémio Nóbel, mas já rotineira nos centros científicos de quase todo o mundo.
Já em Julho, inseriu o +N+ uma reportagem excepcional, desaconselhável às almas sensíveis, efectuada por jornalistas franceses, Da sua publicação traduziu-se para o português de então (sujeito a limites políticos ou patrióticos) o texto que relatava casos de escravatura execrável,medonha ou simplesmente reles, em diferentes regiões de países africanos.
Estavamos limpos,naquela altura mas...
A África foi desde sempre um mercado de escravatura. Toda a África. Presumivelmente ainda não encerrou esse capítulo triste da humanidade.Fora de África também existiu
e subsiste em sultanatos orientais ou na reeducação dos deslocados dos novos países do Leste. Melhor será não pensar nisso e dormir descansado.
Castro Lopo evoca uma das figuras míticas de Angola: Alves da Cunha.Ainda hoje vale a pena ler.Eu li,mas não conto...
Angola vem a Lisboa representar-se na Feira das Industrias. A Cuca fez sensação e uma fábrica de malas também...
Depois «crescemos» e Angola criou a sua Feira de Industias e quem quisesse que fosse lá. E foram. E ainda assim bastantes!
Tornou-se hábito, com a propósito ou sem ele, inserir imagens de Angola turística, para o caso de por lá chegar o turismo. O Duque (as quedas do) e outras paisagens deslumbrantes. Pequenos recantos, como o de Salazar, explicado como Dala Tando, fez-me lembrar as velhas piadas, no bar do Felix, que nos levavam, sempre a explicar melhor: António Oliveira Dalatando ou Oscar de Fragoso Uige!...
Refeitório no Bungo (Luanda) fez furor. Pudera! Refeições a cinco paus, caramba!Uma festa e muitas bichas. Conclusão do repórter: «É preciso espalhar por Luanda inteira
outros refeitórios iguais»!

A pantera negra da Broadway à solta na Quiçama...
Mas onde mais podia ser? Louise Michelle chegou de Paris, onde não nasceu, nem cresceu o bastante.Fê-lo nos «stats», onde aprendeu a cantar o suficiente para singrar na vida. E chegou para actuar num clube nocturno, vulgo cabaret, onde fez enorme sucesso e apareceu no «Chá» E haveria de ir espreitar as feras, lá, onde as feras faziam o seu programa...

Um texto imenso sobre Cruzeiro Seixas espantou-me(evitei escrever «comoveu-me» cá por coisas), e o seu riso, definido com tocante requinte por Cesariny.
Divertido mesmo foi ler um apontamento sobre a vinda de jovens estudantes do Sudoeste (africano), de Windhoek,mais exactamente. Sorridentes e bem dispostos, apesar da viagem em camiões de carga, mais usado no transporte de gado! Percorreram as principais cidades angolanas e divertiram-se à fartazana. Regressaram satisfeitos. A reportagem deu conta da manifesta boa disposição dos alunos e alunas, criteriosamente brancos,é bom de ver! Mas é bom saber que as coisas já não são assim, já não são como eram...

Paulo Cardoso era novidade.Recém chegado, estava na Emissora Católica.Depressa se impôs e grangeou prestígio.Havemos de cruzar algumas vezes como seu trabalho recheado de profissionalismo brilhante.

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