A monotonia não era muito insistente,mas mesmo se o clima convidava à sonolência, África trepidava e os africanos viam-se incentivados a exigir a libertação, muito mais que geográfica - a condição humana. Não era dos europeus o culto da generosidade, especialmente os europeus de posses colonizadas. Surdos ao troar do vento acabaram por ouvir da pior maneira.
O Congo, deixado de ser belga, mas pouco pacificado, ainda mexia. Em Angola, a administração portuguesa cuidava de baixar o som. A expressão popular «...não disse nada, só falou...» assentava como uma luva.
A morte rondou quando a automotora de Malange descarrilou e tombou.Temeu-se o pior. A tragédia rondou, rondou, lá isso rondou, mas disse nada. Não houve mortes. Só material para a sucata,acabou o +N+ por reconhecer.
A atenção às coisas mais ou menos sérias advertianos em Junho de 60.Uma delas dava conta que o campeão de Angola conquistou o direito de representar o Ultramar na Taça de Portugal! Estava em crer, juro mesmo, que tal «honraria» se ficara a dever a causas que chegariam no ano seguinte. Lapsos, eu sei, o mau carácter das criaturas revela-se nos mais reconditos pormenores.Que me desculpem os ofendidos...
Outra capa de Quim Cabral, do Cita (o palácio Foz lá do sítio),e uma reportagem sobre Luanda à noite comprovavam que Angola ia ganhando espaço. Um espaço onde,por vezes, se intrometiam supresas, como quando o governador de Macau teve uma calorosa recpção. Fui espreitar (ler) para saber onde.Ora, a recepção calorosa foi, imaginem, em Macau! E vindo de onde? Ora! De Lisboa, pois claro...
Mas não demorou a surgir uma reportagem da casa:A caça ao crocodilo. Animada, bem disposta e com bonecos sugestivos!
Problema novo gera reportagem curiosa: «A gorgeta chegou a Luanda». Um engraxador (não sei se fica bem dizer preto?) mais para o escurinho que o dr. Obama, a receber cinco tostões de gorja! Mas também o servidor de cafés, o taxista,o barbeiro, e o arrumador no cinema, todos brancos, lembro-me.
Ocorre-me uma tirada,creio que de Lopo do Nascimento, muito posterior, mas muito
apropósito, numa animada discussão:(...Porra, meninos! Agora, em Luanda, até o gajo do cemitério que nos vai enterrar é branco!»...
Não só por ser branco, digo eu, agora. Era por se estar em Angola, naquela altura. Angola ficava a meio do caminho, quer dizer metado do preço, da viagem até Moçambique. Isso por si, já constituia uma selecção natural entre os que emigravam...
Luanda foi crescendo. E as fotos do Quim iam disso dando conta. Mas outra capa
do +N+ com miudas giras e loiras dá conta de problema vizinho, no ex-Congo Belga.
Refugiados chegados do inferno!O assunto foi tratado, evidentemente, como se nada daquilo estivesse no nosso horizonte...
As capas da revista perdem-se por vezes nos tons escuros, até letras a vermelho ficam baças e obscurecidas e o +N+ vai perdendo nesses dias um pouco de vivacidade.
Lina Vaz (?) surge na capa, fotografada no Mussulo, ao lado de um senhor aparentemente idoso e muito escuro, tanto que o rosto nem se vislumbra...
Pelos fins de Agosto surge uma capa algo previsível: um desfile militar, na magnífica Marginal de Luanda. Comemorou-se o 15 de Agosto...
Em Setembro,o Quim volta a ilustrar uma reportagem, aparentente a Marginal de Luanda,
mas na realidade a reportagem é sobre ele mesmo, a brincar com a noite ea sua maquineta mágica!
E uma extraordinária sequência de fotos sobre piranhas.O sacrifício ao vivo, do «velho» da manada, para que os «seus» atravessem em paz o rio! Nem fotos, nem texto aparecem assinados,na reportagem, com pena minha...
Já em Outubro, uma reportagem engraçada: «Turismo em Macau» permite notar que em Hong Kong tudo é novo e reluzente, mas,em Macau, com 400 anos de História,está repleto de cativantes encantos de outros tempos...
Já em Novembro eis que a Palanca Negra restou paciente todos estes anos, na capa,
à minha espera, para que a mirasse a olhar na minha direcção,na capa triste,já em Novembro.
E, de novo, Joaquim Cabral com fotos a preto e branco de uma luta tremenda entre rinocerontes. Para luta tão empolgante deviam ser rinocerontes profissionais. Pelo menos tanto quanto o fotógrafo! O texto da reportagem,tornado ilegível por
paginação infeliz, mas as fotos dispensam a leitura de texto.
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