terça-feira, agosto 17, 2010

+N+8

«Ameaça» logo no início de Setembro:o Governador Geral propunha-se governar a Província de Angola apartir de Nova Lisboa, capital do Huambo,mas...duante duas semanas! No entretanto, as«organizações Almeida Campos» escolheram o momento para inaugurar, na mesma Nova Lisboa,o primeiro super mercado angolano.O facto levou o +N+ a sugerir: «talvez fosse boa ideia ir lá alguèm da capital (Luanda!),para contar que coisa estranha é essa! Portuguesmente falando,o supermercado era novidade. Se a memória não me trai, o primeiro que apareceu em Lisboa foi um "minúsculo"na rua Primeiro de Dezembro, e ainda lá mora, alargado e com outro nome. Em Luanda, e decerto noutras cidades angolanas, o sistema já funcionava, em circuito fechado, digamos assim. Na Cuca, por exemplo, a cantina era um super tal e qual, ainda que destinado apenas aos trabalhadores da empresa. Mas havia habilidades:o pessoal do BCA, banco privado, cuja administração era maioritáriamente a mesma da Cuca, usava a cantina sem limitações. Outras grandes empresas dispunham, estou em crer,de recursos semelhantes...
Tshombé sublinhava por si só a qualidadedo organismo africano, que superentendia nos asuntos dos países do continente.Começaram por recusar acento a Moisés Tshombé, ao qual dariam pouco depois importância desmedida,para espanto dos jornalistas e seu respectivos orgãos de informação. Resolveram o dilemam com o senso habitual africano: eliminaram o político de vez!A África não melhorou, bem entendido, nem ficou pior. Tranquilamente na mesma! Nos dias de hoje, no que foi a Rodésia, há quem espere e não falta quem desespere...
A morte de Craveiro Lopes, que tinha saído pelo seu pé e pela vontade expressa pelo então primeirisssimo ministro, foi assunto da imprensa em geral e de três páginas do +N+, na particular.
Júlio Castro Lopo é quase demoníaco a falar de bananas para zurzir, sem se dar por isso, a administraçao pública da Província!A não perder, diriam hoje os colegas da TV...
Do alto do Café Paladium alguém caiu e Saint Maurice logo perguntou: acidente ou crime? Não respondeu. Preferiu que cada leitor tirasse conclusões...
Joaquim Cabral patinhou por Lisboa. Descobriu a Feira da Ladra, as fontes do Rossio e as flores ornamentais.O Quim era meio introvertido, falava pouco ou nada, mas a máquina fotográfica gritava pelos dois e só não «ouvia» quem não estivesse para isso...
Franco Nogueira passou por Luanda, de esposa à vista. Eram poucos, então,os políticos
que possuiam caras metades dignas de expor à curiosidade popular.
Saint Maurice volta ao caso do morto tombado do alto do prédio do café Paladium, interpelando um presumível suspeito, o qual, como qualquer presumível suspeito seja do que for, se declara inocente, absolutamente inocente, e muito desejoso que a verdade venha à tona. Não raro, as verdades pesam como chumbo e apodrecem submersas...
Em Setembro, a ficha técnica repetia os nomes do administrador,queria dizer: patrão, o director,que significava doutor ou equivalente, director-adjunto, director, o autêntico, o que superentendia na feitura do jornal, e o chefe de Redacção, cujos artifícies, mais ou menos anónimos, não constavam da ficha, cuja dita mostrava António Sequeira, fotógrafo do CITA e colaborador eventual!
Um artigo inédito de André Maurois,por acaso interessante, só não se compreende bem porque diabo é inédito?! O artigo disserta sobre o «Novo Romance» na perspectiva temporal, lembrando que Balsac e Stendhal desconcertaram tanto os seus contemporâneos
que a maioria dos críticos optou por ignorá-los!
O citado António Sequeira apresenta uma porção de fotos sobre o Mosteiro da Batalha.
Angerino de Sousa improvisa um texto mais ou menos épico, algo histórico e basto patriótico...
André Maurois volta às páginas do+N+, mas desta feita o «exclusivo» é só para Angola!

Em Outubro os Beatles estão na capa, com Tomás Ribas,à esquerda, o «Orfeu Negro», em baixo.Espaço ainda, em cima, para o maximbombo de gente pobre! Quem foi que disse
que não se misturam alhos com bugalhos? Mas a reportagem sobre o maximbombo sem travões, sem portas, sem letreiro e sem lotação tem piada. O chão do caminho é de areia. Na foto distinguem-se três maximbombos e gente à espera. Num improvisado banco de pedra vêm-se cinco mulheres sentadas, duas delas, pelo menos, tão brancas como eu.
Hoje, no metro,vim ao lado de uma jovem escurinha.Um tipo também escuro,de olho nela, ia de pé. Só não havia fotógrafo...
Mas o texto de Emílio Filipe mostrava o repórter zangado com a descriminação. Um desses autocarros espatifou-se uma semana depois, em pleno musseque. Levava três passageiros. Nenhum morreu...
Um monumento fabuloso chega-me a 17 de Outubro. Imagens extraordinárias de arte mabali: as maravilhosas estelas do cemitério de S. Nicolau, no sul de Angola. É fantástico imaginar que «aquilo» ainda lá esteja e possa (e deva) ser admirado e
sentido. Oxalá tenha sido (e seja ainda)conservado e uma qualquer TV pudesse por lá passar, um dia destes e dar-nos imagens de sonho e de todo inesquecíveis!
Picasso chegava aos 83 anos! Surge no +N+ fotografado ao lado da mulher, bem mais nova mas absolutamente digna de um génio.A foto é estranha:Picasso austero, rosto de perfil, como o da esposa, vestida de negro, com a cebeça tapada por um lenço preto. Não sugere aniversário, antes um luto antecipado. Seja dito, contudo, que os dois são bonitos de ver!
Novo exclusivo de Maurois, este sobre Camus e dele lembra o «Homem Revoltado» que se explicava: «Creio que não creio em nada»...
Acácio Barradas sofre aparatoso acidente de viacção, quando se dirigia de Catete para Luanda. Foi conduzido prontamente para Luanda e, no jornal, substituido interinamente por Emílio Filipe, o persistente cronista.
Saint Maurice assina reportagem sobre o comboio de Malange. Fala pouco do comboio e da viagem, comove-se e tenta comover os leitores com as agruras dos passageiros da 3ªclasse; dos assentos de pau e na bicha para comprar bilhete:um guichet apenas! Nada sobre os passageiros da 2ª ou da 1ª...
Divertido é tropeçar amiude com Eduardo Nascimento nas páginas do «N»,frequentemente meio despido,mas é (era!) natural: em Angola faz calor que não é graça. Quem trabalha à noite desfruta o dia. E nada melhor do que na praia! Nesta altura integrava um quinteto: «Rocks» à boa vida. Tinham sucesso ali, e também no «Puto» ou em Moçambique. Foi giro, depois, muito depois,encontrá-lo a dirigir em Lisboa, a transportadora aérea do seu País,como mesmo espírito alegre e a mesma simpatia!.

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