Grande farra é o assunto do primeiro +N+ de 61.Uma hábil montagem de Joaquim Cabral,
ainda a reflectir o lado colonial do território, apesar de já promovido a «província ultramarina».
Rui Romano, desagradado com o rumo, comenta: «Nesta Luanda das bunganvílias e das palmeiras cresce, com a própria cidade, o mau costume da prosápia»...
Não era ainda o tempo das mulatinhas acontecerem no Jornal,onde lá estavam as do costume, como a Margarida inglesa, triste e de vago sorriso principesco; Farah Diba, a patinhar a gravidez insuficiente; Marylin Monroe, ainda por morrer e sem marido à ilharga; vivo ainda Kennedy, um que sabia como fazer as coisas, coisas que o marido da activa, e provavelmente vencida,candidata não parece ter tido jeito!
ASR Albuquerque continuava a figurar como director da publicação, na qual o manda-chuva é descrito como administrador. Malhas que o Império tecia...
Aparece o Minho, mas por mór da Casa Regional, em Angola; Sarita Montiel aparece sentada, mas de modo a exibir aliciantes pedaços de coxa, no intervalo de filmagens
algures na Europa. Nada, pois, a ver com Angola ou cercanias.
Cabinda, ainda sem petróleo surge como milagroso pedaço de terra portuguesa, como outrora terá sido Olivença! Cruz Leal não sabia, ou não quis dizer, que Cabinda, quando aceitou o domínio português, não desejava ser integrada em Angola. Provavelmente Angola desse tempo quereria lá saber de Cabinda para alguma coisa. Mas, depois apareceu o petróleo!
Miss Holanda tinha rabo bonito. É dos fotógrafos o segredo dos ângulos fotogénicos!
Finalmente uma reportagem sobre faina de pesca, em Luanda, com texto de Brandão Lucas.
E, como se fosse pouco, duas páginas com a crónica de Ernesto Lara: «O Salalé da tristeza», sobre jornalismo e jornalistas angolanos; da passagem dele pelo «Comércio», onde estavam Charulla de Azevedo e Leston Martins. Evocava outros mais antigos. «Que vocês sejam o que desejei sempre ser e talvez não tenha conseguido
-jornalistas honestos e exemplares e devotos à sua terra».
Silva Tavares, governador-geral, perfazia um ano de governo.Foi capa da revista (agora apeteceu-me mais este termo), com 14 páginas de texto e fotos do governador, esposa e secretários. Uma festa!
Mas os tempos estavam prestes a mudar...Entretanto, teatro francês passou por Angola e Brandão Lucas para explicar, procurou entrevistar Ariane,que nada sabia de teatro português e não tinha paciência para aturar repórteres. Depois dessa reportagem, Brandão Lucas aprendeu bastante!
Mas Angola já ocupava o seu espaço no Jornal.Isso é verdade e notório. As Pedras Negras de Pungo Andongo, com uma página inteira de texto (não assinado) e a praia de Moçamedes no mesmo número, é obra!
MATADI-expulsão das forças da ONU -um barril de pólvora em perspectiva!
Joaquim Cabral, do CITA, Couto Rodrigues,do «Comércio», com o cineasta Perdigão Queiroga,do SNI, vão ao Congo e contam no semanário,juntamente com as fotos.
Depois,na Cela, o magnífico mundo novo da Cela, um imenso celeiro, um desafio ao futuro (ganho, aliás).
A25 de Março,uma capa sugestivamente montada empresta à Revista um toque de creatividade que despontava e não era ainda acompanhado pela paginação.
E a um de Abril passo pela notícia sem dar por ela.Um título vago,numa página
entre outras e sem despertar atenção: «Luanda Protesta». Não se depreende nada.Um edifício discreto é suposto ter vidros partidos. Nada que suporte com curiosidade
a «dor do povo».Depois percebo. Era aquilo. E aquilo era a contestação. Mais. Era o princípio do fim da província ultramarina e o princípio de outra nação. Mas ainda
não o aceitamos. Precisamos,os dois lados, de treze longos anos para entender que os caminhos da História são determinados e implacáveis.
A notícia saiu como foi possível, como a Censura permitia e ela não era muito dada a permitir.
Em Lisboa Salazar ergueu a voz: «Para Angola/Depressa e em força»!
Outro clima se instalava.Barcos e soldados chegavam uns atrás de outros. Tornou-se trivial. Depois serenou.A vida retomou o seu curso com outra vivacidade.
A nove de Abril a capa do +N+ tem menina com mamas salientes. Uma tal Jane Mansfield.
Aconselham-se férias na Africa do Sul.
Em Maio, finalmente uma jovem angolana que nem deixava por isso de ser portuguesa,à beira-rio,na capa. Na semana seguinte é um desfile militar a militarizar a Marginal que surge na capa do Notícia. A guerra já não estava escondida, mas, no interior do jornal «falou-se da guerra em Cuba»!
Em Junho um garoto negro é capa e a foto do Quim não podia ser mais expressiva sobre a guerra, qualquer guerra! No interior a reportagem com soldados e civis e vítimas...
A guerra assume espaço no +N+.Em Julho o governador-geral tenta confortar uma cidadã
angolana.Não sei hoje se tal conceitojá era assumido,mas a senhora de luto era bem um sinal de mudança, respeitado pelo militar governador-geral. E pelo +Notícia+, bem
entendido, que andara um longo ano a deixar África e os africanos guardados na gaveta!
Mas Ernesto Lara,esse,nunca os esquecia e não ignorou, não os esqueceu, como se viu e leu no +N+...
Na Baixa de Luanda começava uma nova actividade bolsista,quer dizer:cambista. Trocar angolares por escudos ou vice versa. Um cambio formalmente clandestino,mas efectuado
às claras. Eram os militares os grandes animadores do novo mercado e por serem militares havia que moderar a fiscalidade. Deixou de ser negro. A par da tragédia,
de soldados que vão chegando, de novo governador, as mais belas pernas de Hollyood. Espanto-me de ver Shirley McLaine entre vamps. Bom! Espanto-me agora, na altura nem daria por isso, se já lá estivesse! É ainda Lara (filho), de Nova Lisboa, a dar conta da «colecção Bailundo», albergue de poetas e de plásticos, de que reuniu na primeira edição alguns poemas de Alexandre Dáskalos, que além de poeta era médico veterinário.
Tão importante como incentivar os militares a combater o «terrorismo» aparece o espantoso novo ciclo no Ensino.A vaga de populações deslocadas para Luanda e outras cidades mais seguras e tranquilas. Escolas existentes e outras adaptadas encheram-se de alunos e alunas. Todos juntos e misturados, sem politiquice, sem grama de separatismo.Só isso. Crianças juntas naturalmente. O preconceito de facto não nasce com a criança. Mesmo com adultos, pode ruir com a guerra de proximidade.Isso mesmo foi acontecendo com os jornalistas,com os jornais e na Rádio (TV não havia e não houve até ao fim).Talvez por isso a Imprensa e a Rádio mantiveram a sua influência.O Notícia tornava-se definitivamente angolano, bem notório a preto-e-branco!
A 19 de Agosto aprendo que Salvador Correia de Sá e Benevides era brasileiro e que a 15 de Agosto, 313 anos antes, reconquistou Angola aos holandeses.(continua).
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