terça-feira, agosto 17, 2010

+N+64/7

Ir a Carmona (no Uige, meus senhores) de carro dava gozo. Estradas era na altura uma consequência do conflito armado. O governo da Província respondeu a essa carência com invulgar celeridade. No entanto, a estrada mais directa ao Uige tinha de atravessar os Dembos, zona pouco segura e só possível, com coluna militar. A safa era ir por Salazar.Fez-se um rali por aquelas bandas e o +N+ foi reportar. Uma das fotos apanha Rebocho Vaz, então governador do Distrito, mas que haveria de assumir a chefia da Província, no seu todo.
Um crime! Contado e desvendado por Castro Lopo. Sem foto de inspector ou de viuva.Uma intrigalhada, minuciosamente descrita.Um crime sem castigo ou uma história
de aventais...
Duas imagens paradisíacas, fascinosas, porra, giras pra caraças, Kalunga?, Katunga?,
gaita,Kalunga, pois, Kalunga! Mas onde era (é) isso?... Quem souber faça o favor de me dizer. Mas que é lindo, lá isso é!
Emílio Filipe foi ao Quiçama, mas disse pouco. A mim nada me disse. Mas eu sei, eu
fui lá, depois dele. Também dormi em cubatas redondinhas. Devia ser proíbido estar ali e dizer «apartamentos» ou coisas do género. Naquele ambiente do mato fica melhor soprar cubata, barraca ou similar. Claro que é de pedra, que tem cama com lençois e cadeiras e casa de banho. Talvez tenha dito bem, o Emílio, mas eu não gosto. A Quiçama era de sonho, mas ia-se lá, sobretudo para ver os bichos, elefantes,leões e quejandos. Era isso que nos levava à Quiçama. Terá graça recordar aprimeira vez que lá estive. Fui na comitiva do senhor aqui de cima, o de Carmona, esse mesmo, Rebocho Vaz, o cujo dito foi o único governador-geral a visitar o Distrito que habitava: Luanda!
A 18 de Julho, o +N+ exibe uma capa fabulosa.Não sou crítico de arte, nem sei se o autor do desenho vingou na arte. O pintor Avelino Rocha saltou das Escola de Belas Artes, do Porto, para a linha da frente, em Angola, como alferes.Por esses tempos, muitos jovens estudantes, do «puto» exilavam-se para evitar a guerra. Anos mais tarde,seriam as famílias a mandar os filhos para as Faculdades da Universidade
de Angola, de maneira a cumprir o serviço militar, onde a guerra era menos intensa,
menos perigosa...

Nas «Notas Várias» Charulla comenta de Moçambique uma situação já conhecida.O regime racista sul africano.O regime de Pretória era assumidamente racista, mas os sul-africanos brancos não era todos racistas. Pelo menos uma parte significativa deles não o era. Charulla viu-os em Lourenço Marques, especialmente na Rua Araujo,onde a noite era, como eram as noites do antigamente no Bairro Alto ou na Mouraria e sei lá mais onde.
Viu-os, dizia, por ali com meninas de cor.As mulheres, esposas, deixadas no Hotel, também não se perdiam e, algumas,as mais afoitas, pescavam especialidades escuras mesmo no no Bar do Hotel ou pelas cercanias...
A noite laurentina comos turistas sul-africanos era bem divertida e a reportagem oportuna, até para separar as águas
Voltamos a «casa».Benguela festejava o aerodromo novinho em folha. A teimosia
da sua gente, que deu material e suor para ter a sua «estação» dos aviões. E sobretudo para deixar de se sujeitar a ter de ir ao Lobito (ali tão perto) apanhar
o avião. Rivalidade é rivalidade. Até com o comboio eles discutiram. Para o Leste, o comboio passou a arrancar de duas estações. Metade de Benguela e a outra meia, do Lobito. E entroncavam uma na outra, na Catumbela e seguiam rumo ao Moxico, no Leste. Era bem um comboio do antigamente. Mas era manifico. Um serviço de restauração excelente...

E Castro Lopo retoma «Angola no passado» dele, o seu tema preferido, que descreve com discreta ironia, envolta em comovente ternura, personagens,os mais diversos e, frequentemente inesperados como este, que só o título faz arrebitar as orelhas: «Estatística dos burros do concelho de Luanda»... Simplesmente magnífico

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