Pensar África em África
O papel das superpotências em todo o processo de Independência em África ainda não foi completamente analisado e, certamente, só muito mais tarde o será de forma exaustiva e sistematizada, uma vez que tal tarefa competirá aos historiadores africanos. Ora, a verdade é que, actualmente, tal iniciativa parece estar longe das suas preocupações, sobretudo porque o factor ideológico ainda está demasiado vivo.
Não é difícil, contudo, perspectivar já um novo caminho para África, cada vez mais interessada nos seus próprios problemas e no modo como descobrir uma maneira africana para os resolver.
Assiste-se, presentemente, a uma certa euforia quanto à evolução política de África,vaticinando-se a concretização de um objectivo: a institucionalização de democracias representativas na grande maioria dos Estados africanos.
Se atentarmos mais detalhadamente nas reacções africanas a esta perspectiva poderemos facilmente constatar que a euforia é de fora para dentro. Não há grande entusiasmo no interior de África quanto a esta evolução.Também não é indiferença. Há, isso sim, um olhar mais atento sobre a realidade sócio-política do Continente.
Cada vez aparecem mais vozes a clamar pela institucionalização de regimes políticos que traduzam as preocupações mais profundas das populações e que correspondam às suas formas de organização social, nunca destruídas pela colonização europeia.
A prática democrática da gestão dos negócios dos vários grupos africanos é de há séculos, mas não assenta nos mesmos princípios que orientam as formações políticas europeias. È essa a verdade que está a vir ao de cima no actual debate sobre a democracia. Um debate, que, mais uma vez, está a ser conduzido de fora para dentro.
Um debate que, sobretudo, está a ser pressionado de fora para dentro. De facto, o processo de Independência de África criou, à partida e de maneira quase indestrutível, dependências inultrapassáveis, gerou alianças políticas manietadoras e aprisionou a imaginação dos intelectuais africanos, submetidos à pressão de análises e padrões industrializados e, por isso mesmo, incapacitados de analisar as realidades dos seus povos.
Esta circunstância ampliou as análises rácicas, à sombra de falsos conceitos de igualdade, delimitou campos de actuação política ee conómica, marginalizou, numa palavra, a verdadeira África.
Como consequênica imediata desta influência das superpotências no processo de Independência de África, temos todo um continente a respirar por um pulmão intelectual artificial.
Com a perspectiva de este vir ser desligado – o que está a acontecer agora – verifica-se o atrofiamento do pulmão natural e o resultado é um pouco o pânico, a desorientação, a procura de caminhos às apalpadelas. O Continente está, de certo modo, a ser telecomandado, com a aparência de estar a executar movimentos próprios.
Um dos exemplos mais flagrantes desta situação diz respeito ao ensino, à preparação de quadros, até agora dependente, em grande parte, das bolsas de estudo fornecidas pelo estrangeiro.
Estas bolsas serviram para formar milhares de quadros africanos à luz de princípios e de uma realidade perfeitamente desajustados dos enquadramentos profissionais dos educandos logo após a conclusão dos seus cursos, que, em última analise, serviam apenas de suporte a reivindicações de estatuto social e consequente aumento dos aparelhos administrativos dos Estados, transformados, na maior parte dos casos, em olimpos de reconhecimento para os militantes mais fiéis.
É evidente que o desajustamento é agora mais do que visível e a verificação de que, pelo menos uma geração de quadros está praticamente queimada, conduz a uma maior perturbação, para além de colocar problemas graves ao nível da formação das gerações seguintes.
Como consequência, em África procura-se uma alternativa, que passa pelos esforços de muitos dos Estados em criarem os seus próprios sistemas de formação, que, naturalmente conduzirá a definições e escolhas que leve a Juventude Africana a aprender ao mesmo tempo o saber e a cultura universais e a realidade das suas terras.
A concretizar-se, este objectivo ajudará a que os africanos se reencontrem e possam, no futuro, juntar às actuais concepções de vida, uma outra, a africana, sem que ela signifique xenofobia, racismo, à mistura com o culto dos valores estrangeiros.
1 comentário:
os rumores que corriam eram exagerados
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