Volto atrás para rememorar os últimos acontecimentos antes de abandonar o Lubango, a minha cidade. Passei pela Rádio Popular, onde, obviamente, toda a gente estava mais ou menos ameaçada. Ofereci a todos a possibilidade de seguirem comigo. Alguns - poucos - aceitaram. Outros preferiram ficar ou ira para as suas terras.
Havia um grupo de soldados das Fapla a fazer a segurança das instalações da Rádio, só que não tinham munições...
O tal avião que haveria de trazer as armas chegou, mas tarde. Quando se aproximou da pista de aterragem foi bombardeado pelas tropas sul-africanas que já se encontravam bem perto do aeroporto. O Leonel Cosme tem desse incidente uma versão bem interessante, já que passou horas num buraco de Jimbo, à espera que a calma voltasse. Viu roubarem-lhe o carro, assitiu a uma série de coisas, mas ele já contou tudo isso.
Quando deixei a cidade, os soldados sul-africanos entretinham-se a bombardear as cercanias da cidade.
A caravana seguiu viagem. Fui deixar a minha gente a Benguela e regressei com alguns camaradas para a Cacula, onde se discutiam os planos de batalha. Para alguns não havia nada a discutir, já que os cubanos estariam a chegar. Era uma fé tão grande que bloqueava.
De facto, eu tinha visto alguns cubanos: no Chongorói, um deles, enquanto bebia vinho tinto e comia melancia, assegurava que os sul-africanos não passariam daquela ponte e apontava-a. Perto de Benguela havia um CIR (Centro de Instrução Revolucionária) onde também estavam cubanos - quando me viram ficaram furiosos porque a presença deles naquele local era, supostamente,secreta.
Na noite de 23 para 24 de Outubro eu e mais um grupo resolvemos sair da Cacula e ir até ao chamado Km38, donde se avistava a cidade. Queríamos perceber se havia indícios de algum desastre. As luzes viam-se ao longe, sinal de que tudo estaria normal.
Havia um grupo de soldados das Fapla a fazer a segurança das instalações da Rádio, só que não tinham munições...
O tal avião que haveria de trazer as armas chegou, mas tarde. Quando se aproximou da pista de aterragem foi bombardeado pelas tropas sul-africanas que já se encontravam bem perto do aeroporto. O Leonel Cosme tem desse incidente uma versão bem interessante, já que passou horas num buraco de Jimbo, à espera que a calma voltasse. Viu roubarem-lhe o carro, assitiu a uma série de coisas, mas ele já contou tudo isso.
Quando deixei a cidade, os soldados sul-africanos entretinham-se a bombardear as cercanias da cidade.
A caravana seguiu viagem. Fui deixar a minha gente a Benguela e regressei com alguns camaradas para a Cacula, onde se discutiam os planos de batalha. Para alguns não havia nada a discutir, já que os cubanos estariam a chegar. Era uma fé tão grande que bloqueava.
De facto, eu tinha visto alguns cubanos: no Chongorói, um deles, enquanto bebia vinho tinto e comia melancia, assegurava que os sul-africanos não passariam daquela ponte e apontava-a. Perto de Benguela havia um CIR (Centro de Instrução Revolucionária) onde também estavam cubanos - quando me viram ficaram furiosos porque a presença deles naquele local era, supostamente,secreta.
Na noite de 23 para 24 de Outubro eu e mais um grupo resolvemos sair da Cacula e ir até ao chamado Km38, donde se avistava a cidade. Queríamos perceber se havia indícios de algum desastre. As luzes viam-se ao longe, sinal de que tudo estaria normal.
Todavia, a certa altura, quase fomos surpreendidos por uma pequena força motorizada do exército sul-africano que revelava conhecer bem as picadas da zona, já que, por aquele caminho, estava a fazer a ligação com o Kipungo.
Começámos a perceber a estratégia do grupo invasor: criava acções de diversão em determinada direcção e movimentava o grosso das forças noutra.
Para confirmar isso mesmo, rumámos Cacimbas, um ponto de ligação entre a Kibala e Quilenges, onde, mais uma vez, íamos sendo apanhados «à mão». Os sul-africanos já tinham estabelecido cumplicidades na zona.
Voltámos à Cacula e tentámos convencer alguns chefes militares que por lá ainda estavam, mas com os automóveis na direcção de Benguela, de que aquele entrocamento tinha perdido valor estratégico. Os inavasores sabiam exactamente como nos apanhar pelas costas.
Ninguém acreditou em nós. Alguns dias depois, uma coluna com mais de 300 homens, enquadrados pelos instrutores cubanos, foram dizimados em Catengue, porque foram apanhados pelas costas, por uma força que não vinha de Quilengues, mas do Cubal.
Lembro ainda desses dias uma tentativa de nos aproximarmos da cidade, para percebermos se podíamos estabelecer um cordão de defesa mais perto do Lubango - a intenção era reter a força invasora até que a tal força cubana aparecesse.
Perto do Hoque, vimos ao longe uma força militar e, sem saber se era nossa ou do inimigo fomo-nos aproximando lentamente. De repente, percebemos o cano de um canhão de um carro de combate a movimentar-se na nossa direcção.
Quem conduzia o Subaru que nos levou por todos estes caminhos era eu. Consegui inverter a marcha, o primeiro tiro partiu e bateu na estrada, um pouco à frente e à direita. A adrenalina subiu a níveis bem altos, pelo que deu para perceber que, no momento em que passasse no sítio onde a granada tinha batido, o atirador rectificaria o tiro, contando que eu me desviaria para a esquerda. O tiro partiu, mas eu estava do lado direito da estrada e a granada fez um buraco do nosso lado esquerdo. A seguir havia uma curva...
A informação que entretanto transmitimos de que havia um grupo de reconhecimento inimigo ampliou-se de tal forma que as poucas forças que estavam colocadas ao longo da estrada para a possibilidade de colocar os inimigos debaixo de emboscadas dispersaram totalmente.
Vi gente a abandonar as armas e a despedir as fardas, fugindo mato fora.
Entretanto, em Benguela ia instalando-se o pandemónio. O Comdante Monty, cunhado de Agostinho Neto e mais tarde ministro dos petróleos, não acreditava nos relatos que lhe faziam.
Fiquei sem saber se não acreditava ou se tinha instruções para não acreditar. A verdade é que a tal força cubana estava ao largo de Porto Amboím e era ali que estava verdadeiramente estabelecida a linha de defesa.
Quando alguns dias depois, já com os sul-africanos a tomarem Benguela e a caminho de Novo Redondo, resolvi rumar Luanda, onde cheguei a 8 de Novembro, percebi que todo o Sul tinha sido entregue aos carcamanos.
Luanda, a 8 de Novembro era uma cidade fantasma, podia passar-se a 120 à hora na Mutamba. Sentado num banco do jardim do Baleisão sentia a cidade a tremer com os bombardeamentos das forças de Mobutu, que a Norte, tentavam tomar Luanda antes de 11 de Novembro. As granadas caiam na Vidrul e o chão de Luanda tremia. Foi há trinta anos.
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