segunda-feira, outubro 24, 2005

Agostinho Neto

Hoje vai ser lançado um livro sobre Agostinho Neto. É mais uma tentativa de recuperar um mito sem direito a existir. É necessário perceber que a prática de Agostinho Neto não correspondeu minimamente à teoria que largamente difundiu, quer através da sua poesia, de palestras proferidas um pouco por toda a parte e de discursos, ditos quer na condição de chefe de um movimento político e militar, quer na condição de Presidente da República Popular de Angola.
Agostinho Neto não cumpriu nada do que teorizou.
Recuperar Neto, apresentando-o na capa de um livro de AK na mão, com um boné e o ar de quem está a sair de casa para um passeio, chega a ser ridículo.
Neto destruiu em dois anos um país, expulsando de forma ilegal a população que tinha condições para assegurar a viragem política necessária a um país independente e forte do ponto de vista económico.
Neto reprimiu com uma violência inaudita uma tentativa de golpe de estado que ele próprio poderia ter evitado, se tivesse agido correctamente.
Neto aliou-se aos soviéticos e aos cubanos para garantir um poder que queria total.
Neto foi tudo em Angola, desde Presidente da República, a Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, chegando a envergar uma farda ridícula de desenho soviético, a reitor da Universidade de Angola.
Neto administrava pessoalmente as finanças do Estado com critérios absolutamente duvidosos. Se o ministro tal se portasse bem tinha orçamento, se, ao contrário, se portasse mal, não tinha orçamento.
O ministro da Economia, por exemplo, Carlos Rocha Dilolwa ( que se suicidou há alguns anos por não aceitar que a sua luta tivesse conduzido o país ao estado em que se encontrava) não tinha orçamento para desenvolver a economia, «porque se portava mal», isto é, não concordava com Neto.
O mito do poeta universal e humanista foi morto pelo político do poder absoluto.
Provavelmente, também será fácil apresentar Oliveira Salazar com um rosto humanista se atendermos apenas aos seus textos e esquecermos a sua prática política

3 comentários:

Terra disse...

Será esta comparação justa?

Leston Bandeira disse...

Não.A comparação não é justa, assim como não é justo andar a recuperar o mito de um poeta humanista e esquecer que foi um político cruel, cínico, ditador, autocrata e imcompetente.

Terra disse...

Obrigada e um convite:
http://mwanapwo.blogspot.com/