sexta-feira, novembro 04, 2005

Senghor

A República do Senegal iniciou os preparativos para as comemorações do centenário do nascimento de Senghor. Léopold Sédar Senghor - o primeiro presidente da República do Senegal - serviu de exemplo a muita gente, foi apontado como dirigente exemplar e, indubitavelmente, África deve-lhe um enorme balanço para o movimento de Independência.
Senghor nasceu a 9 de Outubro de 1906.
Considerado um especial cultor da língua francesa, Senghor demonstrou ao longo do tempo em que exerceu o poder na sua terra uma especial atenção à dependência que essa mesma língua podia criar.
Introduziu o português como língua a ensinar nas escolas do Senegal e hoje existem para cima de 100 mil alunos da nossa língua, ensinada por mais de dez mil professores. Nenhum deles é português.
Portugal não tem nenhum interesse especial por África, nunca conseguiu definir uma política de aproximação com África e libertar-se do complexo de colonizador.
Os governos passam e os africanos vão esquecendo os laços especiais que os uniam a Portugal.
Os governos - da esquerda à direita - ficam-se pelas declarações gongóricas, assim a lembrar os abraços dos brasileiros - que nunca fecham os braços.
Perceber onde estão os elos de ligação, onde começam os interesses e os afectos não é com eles. Ontem, por exemplo, saudaram com grande espalhafato a assinatura de um pré-acordo para a entrega de Cahora Bassa.
Daqui a algum tempo, quando os ingleses, os americanos, os franceses, os sul-africanos e outros estiverem a substituir os portugueses, os tais empresários a quem o ministro da economia garantiu prioridades em Moçambique, vai ser tudo esquecido...
Moçambique está lá demasiado longe e os afectos estão mais virados para a língua inglesa, para o modo de vida inglês - afinal, o modelo de colonização foi o britânico.
O Senegal está aqui perto e um pouco de atenção não ficaria mal. Por exemplo: enviar uns professores de português, uns livros escolares, apoiar um movimento de divulgação da cultura portuguesa e não deixar o Brasil ocupar todo o espaço.
Quando é que o Ministério dos Negócios Estrangeiros se transforma numa instituição verdadeiramente útil?
Que tal associarem-se, desde já, às comemorações do centenário de Senghor?

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