segunda-feira, novembro 28, 2005

DOS QUE LÁ FORAM E NÃO REZA A HISTÓRIA...

Suponho que a memória de Leston Bandeira é como a minha, tilinta de campaínhas e como a ternura amolece até a carapaça do Fernando Alves tivemos uma evocação cor de rosa de Paulo Cardoso, inegavelmente um vulto notável da Rádio, um radialista (suponho que nem se dizia assim) exímio, até a sacar papeletas! Em Angola pairou por cima de todos nós, não tanto pelo que dizia ou como dizia, mas sobretudo como criava e, sobretudo, como se desenrascava, como improvisava, como resolvia o que parecia irresolúvel.
O homem da Rádio era mais brilhante e criativo que o cidadão. Sem o microfone, Paulo era um
peixe fora de água. Fora do estúdio perdia a cabeça e só arranjava complicações. O «directo» que o Leston contou foi uma beleza. A gravação foi feita para o Huambo (ou seria Sá da Bandeira?), não me lembro bem, mas não para Luanda, ele já lá não estava. Foi saltitando por mór dos seus pecados. De repente voltou a Luanda. Não vencido da vida, mas no melhor do seu espírito criativo. Vinha para criar a Televisão!
E fez, sem proveito para ele, como de costume. Mas foi épico. Subitamente tinha a presidir ao projecto a mais inesperada das individualidades, e a mais sólida, também: São José Lopes, o todo poderoso senhor da polícia política. Depois do tombo da cadeira e consequente morte de Salazar a situação política alterou-se, embora nós, em Angola pouco dessemos por isso. Mas o homem da Pide sabia e sabia que com uma televisão atrás poderia ser mais interventivo.
O Paulo não resistiu a vir a Lisboa exibir-se e mostrar que o exílio africano não o depauperou. Creio que terá havido uma manobra calculada para entravar o projecto, já em fase adiantada e o Paulo foi detido, sob pretexto fútil, com a intenção óbvia de fazer explodir o escândalo, em Luanda. Ele voltou a Angola, mas já sem espaço. A televisão, essa, fez-se mas sem ele e sem fulgor, com o 25 de Abril a bater à porta. Mais curta foi a experiência africana de José Sebag, outro vulto luminoso da Rádio, que se perdia fora dela, que falava e escrevia como poucos. Tinha tudo para ser génio.Não tinha paciência e tinha muita, muita sede...

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