domingo, novembro 27, 2005

JNM/Charles Aznavour/Paulo Cardoso

Ouço, na RDP, Antena 1, o programa de José Nuno Martins, o "Amigo da Música", um dos poucos momentos da Rádio Portuguesa que nos obriga a passar da posição CD para "Tuner". Hoje o tema é Charles Aznavour, uma das vozes que desapareceu das ondas portuguesas há anos.
De repente, na conversa do JNM, ouço a palavra Angola, a recordar um dos pontos de uma famosa digressão do arménio nascido em Paris.
De facto, no final dos anos 60, Aznavour passou por Luanda, onde estava igualmente Paulo Cardoso, um outro nome notável da Rádio Portuguesa e que já tinha passado pelas principais estações de Rádio de Angola. Tive o privilégio de trabalhar com ele no Rádio Clube do Huambo, em 1965.
Quando foi anunciado o espectáculo de Aznavour, no Cinema Restauração, agora transformado em Palácio dos Congressos, Paulo Cardoso, que dirigia na altura uma pequena estação de Rádio , chamada, salvo erro, "Voz de Luanda", anunciou, por sua vez, que iria transmitir o espectáculo em directo.
De imediato, a entidade organizadora do concerto desmentiu, garantindo que Aznavour não permitiria mesmo a gravação.
Paulo Cardoso insistiu em manter o anúncio e em toda a Angola, já habituada às "loucuras " de Paulo Cardoso, o caso passou a ser seguido com particular atenção e grande interesse.
Conseguiria a "Voz de Luanda" transmitir o espectáculo de Aznavour, em directo?
A verdade é que na noite do espectáculo, à hora marcada, a voz grave de Paulo Cardoso, em tom mais baixo do que o habitual, apareceu a anunciar a presença de Charles Aznavour no palco do Restauração, completamente esgotado.
Como foi possível?
Paulo Cardoso montou, com a conivência óbvia dos trabalhadores do restauração, um sistema de microfones e de transmissão via telefónica, na cave do palco e com esse expediente ganhou a aposta. Em consequência foi apresentada mais uma queixa em tribunal contra o mais polémico homem da Rádio que alguma vez passou por Angola e que a marcou com o seu estilo truculento e imaginativo. Um estilo que depois de 1974 foi exportado para Portugal, mas com óbvia perda de qualidade.

2 comentários:

Anónimo disse...

Já eu não preciso de sair da posição CD: ando sempre com o arménio no carro.Mas, com a referência ao Paulo Cardoso,vieste lembrar-me um episódio passado durante uma transmissão do circuito automóvel "6 Horas do Huambo" (eram 6, não eram? - pergunto, inocentemente; tantos os circuitos de cidade de um dos mais populares desportos em Angola!).
Eu, que nunca fui tentado pelos relatos de futebol, fiz muitos "directos" de automobilismo (hoje causaria estranheza aos doutores da rádio essa abordagem, com transmissões directas e integrais de um desporto "elitista", mas creio que se tratava de uma especifidade angolana). Nessa tarde, eu fazia equipa com o António Macedo (não se já para a Oficial, se ainda para o RCB ou mesmo para a nossa Comercial). Eu era muito novo e estava "intimidado" com a honrosa parceria. Mas dei o meu melhor. A dado momento, já em cima do fim da corrida, fui à direcção de prova buscar o papel da classificação oficial (não havia computadores, era preciso esperar o veredicto manual dos comissários de prova). Consegui o primeiro papel a sair do forno e vim, todo contente, com a primeira mão para o Macedo. Este, gentil,chamou-me, no "ar", para que fosse eu a "cantar" a classificação. Numa fracção de segundo, um tipo que ali estava, em directo para outra emissão, um tipo sisudo, com ar de quem tinha sido pisado nos joanetes, sacou-me o papel da mão, sem mais. Não nos conheciamos, nunca haviamos trocado uma palavra, sacou-me das mãos, simplesmene, como a língua do camaleão saca o mosquito. Fiquei sem reacção e sem fala. Vim a saber, já com os motores arrefecidos, que aquela criatura com ar de louco varrido era ... o Paulo Cardoso.

Anónimo disse...

Paulo Cardoso was my dad. For sure, his life passion was TV and Radio, which he teach me so much.He was always ahead of his time.

I would like to learn and speak to people that knew him.

Please, feel free to contact me at SKC_Oliveira@msn.com.

Kindly,
Susana Oliveira