sexta-feira, agosto 26, 2005

IDA E VOLTA

Africandar é, afinal, a versão escura da portuguesissima saudade. É disso que se trata quando se invoca a África ou o África. Começa-se por recordar uma paisagem, uma passagem ou uma frase ou um artigo ou cara bonita de um corpo proíbido e acaba-se com a lágrima ao canto do olho. E não tenho a certeza que seja um caminho. A ideia que faço do caminho é o que leva para diante. Mexer com o hoje é sonhar com o amanhã. O meu neto mais novo chegou de Angola e vem fazer os cinco anos junto do avô. Depois volta a Luanda e vai parta a escola. «Tão cedo não volta no Verão» diz-me a filha, que é tia dele. «Não vai para a escola portuguesa».
Eu sei que o neto é escuro, como a mãe, mas nasceu em Santarém. O pai nasceu em Luanda, de mãe finlandesa. Quando foi a altura optou pela nacionalidade angolana. O meu neto scalabitano de gema, foi registado na embaixada. Tenho oito netos. Sete são angolanos e a oitava é francesa. Dois de três filhos nasceram em Lisboa. O terceiro, em Luanda. Nenhum deles é, hoje, português.
Por descargo de consciência devo referir que quatro dos netos estão a estudar na África do Sul. Apenas um frequenta uma faculdade, em Lisboa. É o terceiro, dos quatro mais velhos.
Quando a situação se tornou mais crítica em Luanda, dois deles, e depois outros dois, vieram estudar para Lisboa. Logo que a situação o permitiu voltaram a casa e por cá só foram aparecendo esporadicamente, em férias.
Quase todos frequentaram a escola portuguesa, em Luanda. Com o tempo a escola portuguesa tem piorado e já não cativa os pais dos garotos.
Os meus netos estão bem. Gostam muito do avô. Dizem-lhe bom dia, pela manhã e depois zarpam para a piscina e depois de comer querem bonecos, no Panda, e querem, sobretudo, que o avô não os chateie. A escola portuguesa em Luanda, parece que não, que não vai lá muito bem.
Bom seria que alguém português se precupasse um pouco mais com algumas das escolas portuguesas, espalhadas por esse mundo fora...
Era o que eu faria se escrevesse no África. Estive há pouco a folhear alguns dos jornais que conservei e apareceu a tal lágrima, que me levou a maricar no início, mas a má raça reapareceu. Desculpem...

Sem comentários: