Retomo a minha viagem angolana por Angola e fingir que não tenho saudades...A primeira mansão, onde morei, uma casa pequena, num bairro clandestino. A construção clandestina, mais que fenómeno natural era um vício. Começou por cada um a desenrascar-se, porque cada vez eramos mais europeus com a mania que eramos africanos, mas não nativos de morar na palhota ou de se instalar no musseque, mas rapidamente evoluiu para formas comerciais/industriais bem rentáveis e bem estruturadas. Uma espécie de gangsterismo organizado, à maneira americana dos anos 20. Um dia passava-se por um qualquer sítio onde houvesse um descampado e via-se um pequeno tapume, depois uma simples barraca tipo capoeira, às vezes sem teto. Nem se reparava. Dentro da barraca começava a construção sólida. E em geral ao sábado ou ao domingo, quando os fiscais estavam de folga, colocava-se o telhado e zás, caiam as tábuas e lá estava a casa, por pintar, mas com os moradores a ocupar a maison. E como lei é lei e, como o amor, é cega e vê.
E via o sarilho e adivinhava o resultado. A fiscalização fazia o auto. O morador (ou o construtor) pagava a multa, mas ficava com casa onde morar. Era quase impossível, em Luanda, conservar um qualquer espaço de terreno, sem que de repente o víssemos embarracado e logo a seguir habitado. Bom, está na hora de voltar ao Jornal.
Com o Quim fiz a minha primeira saída para o Lobito. Num minúsculo Fiat 850, para os setecentos e picos quilómetros. A primeira passagem pelo Dondo, quer dizer que cento e oitenta já lá iam! Almocámos na Cela. Uma imensa estância agrária. Foi obra. A tentação pelo café era enorme. Valeu que o arranque produtivo era demorado e assim a Cela cresceu e foi assim que se conseguiu o leite. Até então, só leite em pó...
Quando partimos de Luanda, o Quim experimentado nas viagens, tinha-me dito: seis horas, seis horas e meia, vais ver... E vi. Vi imensas coisas e quis ver e deslumbrar-me. Descer o morro da Gabela foi mais demorado. Foi preciso parar para ver as quedas de água. Não são tão impressionantes como as do Duque de Bragança, mas isso eu ainda não sabia. Fascinaram-me. Depois foi Novo Redondo, finalmente o mar. Novo Redondo fez lembrar a Caparica dos anos 40.
Estava morto de sede, para pensar nisso. Não havia código de estrada que vetasse a sede.
Finalmente o Lobito, onze horas e meia depois...
Gostei do Lobito, logo à chegada. E não saí sem ir às salinas. Tive de jantar no Terminus, que pertencia aos Caminhos de Ferro de Benguela, uma das legendas de Angola. Mesmo quando ia a Benguela, sempre arranjava maneira de dar um salto ao Lobito.
Mas seria mais tarde em Moçâmedes, nessa inesquecível cidade do Sul, porta aberta para o deserto imenso e fascinante, que me entreguei, que comecei a sentir-me angolano. Nem era difícil arranjar pretextos para lá ir com frequência. O Atlético tinha uma excelente equipa de hoquei em patins. Ao lado, o Independente de Porto Alexandre, também possuia uma competitiva equipa de futebol. E havia as corridas de automóveis. E a praia claro, com recheio de luxo! De Moçâmedes saiu a primeira miss angolana, que foi também Miss Portugal.
Mas passear no deserto não era brinquedo. Era preciso sentido de orientação e experiência para evitar as manhas das areias macias, para não ficar atolado. Nunca tive problemas. Nunca fui sozinho. O Turra tomava conta e até possuia uma casa algures por ali, onde os meus miudos passaram férias e viram hienas. Alguma da gente ilustre que apareceu por Luanda e que quisemos (o Jornal) obsequiar. Foram ver o deserto, a Moçâmedes e, claro, à Baía dos Tigres!
A Báia dos Tigres só por si merece mais que uma citação, merecia um atlas tamanho família. Assim eu soubesse descrevê-la. Irei tentar, num próximo capítulo.Chau...
(continua sDq)
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