domingo, dezembro 11, 2005

A Recandidatura de Pedro Pires

Um dos homens que nos longínquos inícios dos anos 6o decidiu abandonar a posição mais ou menos confortável de estudante e rumar o desconhecido em nome de um ideal que hoje parece quase óbvio - a Independência de Cabo Verde e também da Guiné Bissau - , que assumiu as difícies negociações políticas contra os que entendiam que Cabo Verde era "um caso à parte" e, portanto, não haveria independência e que, depois, em quinze anos seguidos conseguiu construir uma terra, considerada até então como "um país inviável", mesmo por ilustres figuras cabo-verdianas, e elevá-la à condição de país africano respeitado, com direito à palavra no panorama internacional, é, de novo, notícia pela positiva.
Pedro Verona Pires anunciou a sua recandidatura à Presidência da República de Cabo Verde no passado dia 9, prometendo permitir a continuidade no caminho do sucesso do desenvolvimento alcançado pelo país nos últimos cinco anos.
Este parece ser o argumento decisivo para a sua campanha, já que em 1991, o PAICV entregou à democracia pluripartidária um país em franco progresso que depois foi hipotecado, vendido a retalho, por democratas do cifrão. É para evitar um retrocesso ao esquema neo-liberal protagonizado por Carlos Veiga, que durante dez anos beneficiou a família e os amigos, que Pedro Pires se apresenta, de novo, como candidato.
Com o meu inteiro e absoluto apoio. Por isso, aqui deixo a sua declaração integral de recandidatura.
AOS CABOVERDIANOS:
Caros compatriotas,

Estou aqui para vos dizer que após ponderada reflexão decidi recandidatar-me à presidência do nosso país.

É verdade que fui muito incentivado nesse sentido por amigos e compatriotas representantes das mais diferentes áreas e grupos da nossa sociedade civil e política, porém devo afirmar que a minha decisão última foi tomada exclusivamente pensando naquilo que acredito serem neste momento os interesses de Cabo Verde.

Nunca escondi que todas as ambições da minha vida, quer enquanto combatente, quer enquanto Primeiro-Ministro, quer também como Presidente da República, têm tido como referencial o nosso país e o que penso ser o melhor para nós todos. O meu compromisso de sempre tem sido colocar a minha experiência, o meu patriotismo, as minhas faculdades, ao serviço de Cabo Verde e dos Cabo-verdianos.

No presente, o nosso país está a atravessar um momento da sua história apenas comparável aos gloriosos anos seguintes à independência. A senda que vimos trilhando nos últimos 5 anos deve ser salvaguardada e devidamente acarinhada para que as sementes que estão agora a ser lançadas, tanto em Cabo Verde como na nossa diáspora, como até junto da comunidade internacional, venham a produzir os frutos que todos desejamos para o bem-estar do nosso povo.

É a consciência profunda da necessidade de não deixar interromper este novo ciclo nacional iniciado em 2001 que me leva a aceitar esta recandidatura. Penso ser claro para todos que Cabo Verde precisa continuar a ter um Presidente que seja o garante da estabilidade e serenidade necessárias à continuação do seu desenvolvimento humano, económico, social e cultural, tendo como objectivo último a construção de uma sociedade onde ninguém se sinta excluído ou marginalizado.

As minhas ambições são no sentido de continuarmos a avançar cada vez mais, rumo a uma sociedade mais justa, mais humana, mais democrática. Julgo ter cumprido o compromisso assumido em 2001 de fazer do mandato que agora termina um projecto aglutinador de vontades que envolvesse os jovens, as mulheres e os homens de todos os estratos sociais das nossas ilhas, com o objectivo de afastar de vez a situação de desconfiança e de falta de perspectiva de futuro em que o país se encontrava mergulhado.

Julgo igualmente ter contribuído, dentro das minhas forças e da minha experiência, para que Cabo Verde voltasse a reencontrar o caminho ascendente da história iniciada em 1975, para que os cabo-verdianos resgatassem o sentimento de patriotismo, de dignidade e de orgulho nacional.

Nesse sentido, procurei exercer uma magistratura presidencial próxima do cidadão, prudente e crítica, independente dos partidos políticos, mas tendo sempre em atenção as fragilidades do nosso país e assente na necessidade da manutenção do equilíbrio institucional.

Não me limitei a ser um observador passivo dos problemas de Cabo Verde. Respeitando estreitamente as competências constitucionais dos outros órgãos de soberania, auscultei sempre as posições dos diferentes partidos políticos, facto que me permitiu intervir sempre e quando achei necessário, agindo no entanto em colaboração com o governo na busca de soluções para os problemas que continuamos a enfrentar em cada dia.

Escutei regularmente a sociedade civil. Acarinhei o poder municipal. Destaquei o mérito. Incentivei o exercício do dever de memória e de reconhecimento. Estimulei o comprometimento com o futuro do país e o compromisso entre os objectivos de curto e médio prazo. Incentivei o associativismo. Coloquei em agenda a necessidade da consolidação e do aperfeiçoamento sucessivo do desempenho das instituições do Estado de Direito.

No plano internacional, tenho sido um incansável promotor da imagem e dos interesses do nosso país. Igualmente, não me tenho poupado a esforços no sentido de prevenir, tanto a opinião pública, em geral, como as instituições, em particular, do lugar chave que a paz, a estabilidade política e a segurança detêm nos processos de estabilização e desenvolvimento dos Estados africanos.

Exerci, pois, uma magistratura de influência activa, dentro dos poderes conferidos pela Constituição. Sem alardes desnecessários, procurei não poucas vezes colmatar o vazio ainda existente no nosso país provocado pela não eleição da figura constitucional de Provedor da Justiça.

Sempre acreditei que Cabo Verde precisa de uma acção politica que se desenvolva com sentido de futuro. Sempre acreditei que o secular fatalismo das crises provocadas pelas secas e fomes subsequentes poderia ser vencido pela vontade e pela acção do homem cabo-verdiano. Esses exaltantes 30 anos de independência, com todas as suas partes boas e menos boas, mostraram-nos ao mundo como um povo de valor, um povo que pode e deve orgulhar-se da sua obra.

Porém, temos que prosseguir: na construção da nossa economia, na extensão da nossa educação, no aprofundamento da nossa democracia, tudo isso com vista a uma sociedade de maior tolerância e justiça social.

A minha experiência dos últimos 5 anos mostrou-me que o Presidente da República pode desempenhar um papel muito importante, quer na promoção externa, quer na mobilização das energias nacionais para os grandes desafios que o nosso país está a enfrentar e precisa continuar a enfrentar com sucesso, com vista ao bem estar de todos os cabo-verdianos, dentro e fora do país. Daí que o meu anseio seja no sentido de continuarmos em frente, ainda que à custa de sacrifícios de ordem pessoal.

Cabo Verde precisa de um Presidente da República que projecte uma imagem de honestidade, de ambição para com o país. Um Presidente no qual os cabo-verdianos se reconheçam como seu símbolo, e como símbolo de um país que ganhou direito a estar no concerto das nações através da invencível arma que é a dignidade do seu povo, o comprometimento firme e a honestidade dos seus governantes.

Todos os povos passam por momentos históricos determinantes em que se ultrapassam a si próprios para atingirem objectivos antes, por muitos, julgados intransponíveis. Pela segunda vez na nossa História dos últimos 30 anos, Cabo Verde encontra-se num desses momentos. Com efeito, estamos vivendo um período de grandes desafios, que no entanto temos todas as condições para vencer, e que temos que vencer: de reformas importantes, e que não podem nem devem ser adiadas; de oportunidades promissoras que em cada dia estão-nos surgindo e que têm que ser rigorosa e atempadamente aproveitadas. E tudo isto requer confiança, espírito de risco, audácia e vontade empreendedora.

Eis porque decidi continuar a colocar toda a minha experiência, todas as minhas relações, tudo que aprendi na minha já longa vida política, ao serviço deste novo e exaltante momento nacional, por forma a não desperdiçarmos esta oportunidade única de nos libertarmos, de vez, das amarras do subdesenvolvimento económico, social e científico.

Ao posicionar-me como candidato à minha própria sucessão na Presidência da República, posiciono-me antes de mais como patriota. Mas também como homem de bom senso, como construtor de consensos.

Porém, e sobretudo, como cidadão amante deste país e que vem perseguindo sempre e incansavelmente, o sonho de um Cabo Verde próspero e respeitado pela obra dos seus filhos.

Para esse desígnio nacional, todos somos necessários e todos somos para ele chamados!

Cidade da Praia, 9 de Dezembro de 2005.

Pedro Pires

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