segunda-feira, janeiro 16, 2006

O "Desenterrado Cabo-Verdiano"

Enquanto em Portugal se faz uma campanha para eleições presidenciais, em Cabo Verde ocorre uma para eleições legislativas( 22 de Janeiro), mas já está no terreno a pré-campanha para as presidenciais. A vitória do PAICV parece assegurada nas legislativas, tanto mais que o governo, liderado por José Maria Neves durante cinco anos, está, só agora, a mostrar a obra que realizou, pela simples razão de que nunca teve capacidade de a ir mostrando através dos órgãos de comunicação nacional, totalmente dominados pela oposição, inclusivé a Televisão pública.
A eleição presidencial parece ser mais difícil porque também em Cabo Verde vai aparecer um "desenterrado" político: Carlos Veiga.
Tal como Cavaco Silva, por mais de dez anos nada fez do ponto de vista político. Aliás, abandonou o governo antes das eleições de 2001, para se candidatar à Presidência da República tendo sido derrotado.
Foi primeiro-ministro pelo MpD depois de , em 1990 e princípios de 1991 ter feito um campanha verdadeiramente sórdida, servindo-se de panfletos anónimos em que se acusavam os principais dirigentes do PAICV de corrupção e apoiando-se numa igreja retrógada, reaccionária, habituada a viver às costas de um povo trabalhador e sofredor.
Fez a primeira legislatura até ao fim , a segunda abandonou-a, mas ele e os seus amigos ficaram todos ricos.
A grande diferença entre Pedro Pires e Carlos Veiga é avaliada por este facto: Pires, depois de 15 anos de governação de um país que ninguém acreditava pudesse ver a ser viável, quando abandonou o poder teve que ir viver para casa da mãe. Nem uma casa tinha. Parta ter carro, foi necessário que os emigrantes da Ilha do Fogo, a viver nos Estados Unidos, se cotizassem para lhe comprarem um.
Mas o país era conhecido em todo o Mundo, tinha um grande prestígio internacional e os seus índices de crescimento económico impressionavam os analistas mais optimistas.
Pires não abandonou o Partido, reconstruíu-o, abriu-o a novas lideranças a quem emprestou a sua experiência e as suas relações internacionais.
Carlos Veiga começou a enriquecer à custa do regime de partido único , que nunca se atreveu a criticar de forma aberta, de peito aberto, sempre escondido por detrás de processos sujos e comportando-se com o Estado como qualquer técnico internacional, cobrando os serviços que prestava segundo as tabelas das Nações Unidas.
Depois que abandonou o lugar de primeiro-ministro, os seus amigos e os seus familiares eram ricos. Abandonou o partido e dedicou-se aos negócios, passando a maior parte do tempo fora.
Para trás ficou um Estado sem dinheiro, apesar das privatizações integradas num sistema neo-liberal económico catastrófico. Com Carlos Veiga no poder, Cabo Verde perdeu o que de mais importante tinha - o grande prestígio internacional, que ditava uma confiança total dos financiadores dos grandes projectos de construção do país.
Com Carlos Veiga, as grandes obras agrícolas e todo o processo de reflorestação foram abandonados, o povo cabo-verdiano começou a rumar as cidades, onde como em toda a África, começou a juntar-se gente e mais gente em condições cada vez menos humanas. Hoje, a Cidade da Praia sugere o Líbano e, do ponto de vista urbanístico, não tem solução.
Nada disso interessava, nada disso interessou a Carlos Veiga, que afundou o país numa crise só conhecida durante os temos coloniais. A corrupção aconteceu de forma quantificável. Um dos seus braços direitos transformou-se no proprietário de uma rede nacional de distribuição alimentar. Pouco anos antes não tinha dinheiro nem para roupa...
Mas a memória do povo costuma ser curta e é provável que, depois de dez anos, também em Cabo Verde, o povo se esqueça do que deve a Carlos Veiga. Ele, seguramente, não se lembrará que enriqueceu à custa de um povo pobre.
É provável, por isso, que a disputa eleitoral seja rija, mas a honestidade de Pedro Pires e a grandeza do seu nome, reconhecido internacionalmente como um dos dirigentes dignos de toda a África, não deixarão de o impôr para mais um mandato na Presidência da República de Cabo Verde, onde seria desejável nunca entrassem homens como Carlos Veiga, para não se transformar em mais um mercado do "plateau".

1 comentário:

CN disse...

só agora vos descobri. e foi por mero acaso. vou passar a ser leitor das vossas "confissões".
um abraço.