sexta-feira, janeiro 13, 2006

Eanes

É um pouco difícil passar ao lado, completamente, do actual momento de Portugal com presidenciais à porta, sobretudo porque o que está em causa nesta eleição é a eventualidade de um regresso a um passado tão longínquo que até assusta, ao tempo dos militares que faziam a guerra nas colónias, faziam comissões sobre comissões e só quando os seus privilégios começaram a ser tocados se lembraram que talvez houvesse uma saída política para a situação.
Passei quase quatro anos a vê-los, sei do que falo.
O General Eanes foi dos que sempre fez todas as guerras coloniais, de todas as maneiras, aos tiros e nas psicos. Sempre foi um enigma para mim. Ao contrário da maior parte dos analistas políticos, que, em certa altura, se especializaram na leitura dos discuros eanistas, eu nunca consegui perceber nada para além do que via: óculos escuros, patilhas e um tom de voz autoritário, a roçar a violência.
Confesso que as atitudes do general, depois que saiu da Presidência me surpreenderam e até fiquei mais aberto a tentar percebê-lo.
Hoje, todavia, ouvi na Rádio ( com todos os riscos que isso implica, já que não se pode - de todo - confiar nos critérios jornalísticos) um discurso do General em que ele põe a nu o seu verdadeiro entendimento do poder. Para ele, quanto mais, melhor.
Dizia o General Eanes que era muito importante uma vitória do Cavaco, logo à primeira volta, porque isso significa uma determina força política, confere autoridade, bla...bla...bla...
Então, onde é que está o democrata? Para que precisa o presidente de força, de autoridade? Para impôr o quê?
Ora aí está um favor que o general fez às candidaturas de esquerda: revelou a verdadeira natureza de quem está por detrás de Cavaco. Além de que é estranho ver Eanes a apoiar poderes ocultos, que pagam mas não mostram a cara...ele sempre teve fama de homem franco, claro. Ou será, que também essas características faziam parte das patilhas, dos óculos escuros e da voz imtimidatória?

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