domingo, janeiro 21, 2007

MAIS HORA MENOS HORA:::

Ora, ora! Que não se complique o que já de si não seja fácil. E não se deve ter pressa para tudo.Há que aceitar as limitações. Há que saber sofrer as consequências. Não é preciso entender o que para se perceber necessita curso completo. Passa-se muito bem sem curso. Pelo menos quase tão bem como se passa sem emprego, sem subsídio ou a ver minguar a reforma.
Criatura que sinta um aperto no peito deve logo decidir-se e morrer, discretamente, sem demorar quatro horas à espera de carroça. Uma só carroça chega bem para o Alentejo todo. Antes de haver carroças daquelas, o Alentejo não tinha nenhuma e morria-se na mesma - e sem desculpas.
Claro que não é preciso mudar de ministro. Ministro aritmético como ele não há por aí aos trambulhões e nem tudo pode ser depressa. Tinha uma vizinha que me dizia que gostava dos homens que levam o seu tempo para fazer as coisas...
Um exaltado exaltou-se comigo e perguntou-me: «Achas bem só um carro para todo o Alentejo?
Que podem fazer o alentejanos para mudar isso! Vá, diz lá»...
Ora, sairem do Alentejo. Deixarem a viatura sozinha...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

A MÁS HORAS

Ministros é com Sócrates, como ele sabe, como ele os quer. Na Saúde é o que se sabe: quem tem massa vai a Espanha, quem não tem ficou em casa. Ninguém precisa de cuidados específicos, necessita é de paciência. E de fé, bem entendido!
Fez-se saber que a vítima estava condenada a morrer. As seis horas não foram para ele,vítima, para ali chamadas. Assoem-se a este guardanapo. Nada de inquérito, Claro! Nenhuma dúvida! Se não fosse agora, seria depois. Estava condenado. Como eu ou os que perderem o seu tempo a ler inconveniências.
Se o senhor Sócrates, já que não vai à China tão depressa, me fizesse o favor de perguntar ao expedito ministro o que é que uma coisa tem a ver com a outra? O que se pôs (o que se põe) em causa não é o estado de saúde de um sinistrado, mas a resposta que se dá ao sinistro! Quanto mais ferido mais depressa o socorro. O ministro ficou tranquilo: o homem não tinha cura! E se tivesse? Se pudesse sobreviver em condições de ser salvo, resistindo quatro horas e um quarto? morreria na mesma!
Para salvar a face, promete-se umas carrinhas extras de segunda classe. Bem que sabia o Fernando, que quem espera desespera. Batam em latas, dizia ele, que queria ir de burro. E de burro estamos a ir todos, não direi ajaezados à andaluza, porque assim, por ora, são só as damas...

segunda-feira, janeiro 15, 2007

SIM

Creio que foi Giscard que utilizou a expressão «sim, mas...» com suficiente veneno para levar
De Gaulle a retirar-se do poder e ir para casa, onde nem teve muito que esperar para o fim derradeiro!
Alegre cantou a lembrar que «...há sempre alguém que recusa, há sempre alguém que diz não»!
Aqui pelas cercanias sei que nem vale a pena pedir a um vizinho dinheiro emprestado. Ele diz sempre que não. Mas verdade se diga que um pouco mais adiante há uma interessante vizinha, que amíude diz que sim.
Como sou antigo, às vezes a memória atropela-me as ideias. Quando os meus pais me levaram para a Victor Cordon, no ano em que fui para a escola, ainda perdurava a guerra na Europa. O Um pouco acima do largo do Chiado, o Ginásio funcionava e passava filmes alemães. À esquina da Garret funcionava um pomposo centro de propaganda nazi. Além dos filmes alemães e americanos e da propaganda de uns e outros, vivia-se como se podia. Com racionamento restritivo e mercado negro complementar. O Bairro Alto era um baluarte de fado e prostituição.
Quando ia para a escola passva pela rua do Ferregial, que também tinha «meninas», mais à frente, nas escadinhas não sei de quê também as havia. E depois na Boavista.
Habituei-me, como me habituei às gaivotas, que via das águas-furtadas e junto ao rio, ao Cais do Sodré. Na minha casa havia uma torneira de água na cozinha e outra no cubículo, que dispunha de uma sanita e um lavatório, a que a minha mãe chamava casa de banho. Ao lado, na casa dos vizinhos, mais antigos no prédio, a dita casinha não tinha torneira, nem água canalisada. Só na cozinha. O banho, propriamente dito, tomava-o na cozinha, num alguidar de zinco. Cozinhava-se a carvão e era a carvão que se aquecia a água para o banho semanal...
Além de ir à escola, ao Conde Barão, ia por vezes aos Cais do Sodré, onde além dos eléctricos e da estação de comboios, havia muitos bares de «pequenas» e havia uma loja que vendia gelo. O gelo que eu comprava, de vez em quando, era para a minha mãe, sempre a seguir às visitas que ela fazia à parteira!
«Sim»! Era isso mesmo que eu ia fazer ao Cais do Sodré, antes de perceber. Não se discutia se sim ou não. Era assim. Claro que nesse tempo era tudo proíbido, mas tolerado, desde que evitados maus desenlaces.
À mistura havia estórias mais sórdidas, como as das garotas que se traziam da aldeia para para ajudar a senhora nas lides da casa e aliviar a miséria das famílias do campo. À meninas aconteciam quase sempre desgraças ou com o leiteiro que ia à porta ou o marçano da mercearia ou, o mais frequente, o filho do patrão ou próprio e a dona da casa expulsava a desgraçada. Não faltava quem soubesse encaminhar as desvalidas.
Não poucas famílias se agrediam entre si, em nome de um puritanismo remeloso que expulsava
a filha devassa que deshonrara o chefe de família. Florescia o negócio da prostituição legalizada. Havia bem mais prostíbulos acessíveis naquele tempo do que lojas chinesas nos dias que correm!
A religião dominante impunha a castidade.
Foi a pílula que trouxe a paz, já depois da moral cristão ter sido aliviada da liberalização comercial do sexo a xis à hora. Passou à clandestinidade. Não dispõe de meios legais, mas é as mais das vezes despenalizada e com direito a promoção nos jornais diários. Agora com a lamúria sobre o aborto sim ou aborto não ainda é pior que o antigamente. Uma dona Manuela, senhora razoavelmente feia, «não quer apoiantes do "sim"nos tempos de antena do PSD», citava ontem o «DN». Veio-me à memória uma intervenção de Natália Correia, na Assembleia da República, já lá vão uns anitos, quando um deputado do CDS afirmou no hemiciclo que o coito devia ser unicamente para procriar e a poetiza foi dizendo que não sabia o que concluir do facto do deputado centrista só ter dois filhos...
Mas parece-me mais perigoso meter bispos na conversa. Nos católicos o atavismo é congénito. Desde que matirizaram um pobre cientista que descobrira que a Terra girava em volta do Sol...
deviam ter perdido o direito de impor dogmas. Mas a gente comum tem direito às dúvidas e às preferências e sobretudo à opção que a consciência lhe dite...

domingo, janeiro 07, 2007

OS DANTES

Não confundir com Dantas, que já lá está!E se não estivesse viria a despropósito. Era uma espécie circunscrita e limitada no tempo.Hoje, no DN tropecei no defunto Gaspar Simões, crítico literário e lembrei-me, claro de Luís Pacheco, ainda nos tempos do Gelo e a propósito justamente de uma entrevista na qual o crítico era entrevistado. E o crítico Simões diria a certa a determinado passo: «...tenho tanto que escrever que nem tenho tempo de ler!» e o Pacheco quase entrou em paranoia, Gelo foram,Gelo dentro. Arranjou foto de um bigodado padeiro porta-a-porta, típico, de cesta às costas, inserindo a transcrição, atrás referida, e com uma legenda a sublinhar o atarefado crítico na tarefa de distribuir a prosa crítica. Com isso elaborou em forma de postal um libelo, que distribuiu Chiado acima, Chiado abaixo e a acabar no Gelo.Uns dias atrás dei por uma referência inusitada a Herberto Helder, a propósito de nada. Cheirou-me a rei-morto-rei posto: foi-se o Cesariny, toca a empurrar este, que escreveu "O Amor em Visita" e que não gosta que se fale dele, mas vem-se à memória uma noite suave em que se descia do Chiado para o Cais do Sodré e ao passar-se pelo Barão Quintela, e de nos termos ridoda nudez forte da verdade, o Herberto referir algumas facetas do escritor e das suas relações com Ramalho Ortigão, sobretudo depois da edição do «Primo Basílio», que gerou alguma controvérsia por mór da «nova sensação». Eça defendia, que sim senhor, aquilo resultava, mas Ramalho insistia em não acreditar nas habilidades de cepa francesa, como se dizia na época. Até que se dispôs a tirar o assunto a limpo. Em férias pela província, encontrou alguém e atreveu-se. Depois enviou um telegrama a Eça: «Lavei.Provei.E não gostei»... E Eça ripostou logo: «Lavaste.Estragaste»...Fomos colegas algum tempo depois, no Notícia, em Luanda. Já em Lisboa viria a escrever um libelo tremendo contra a guerra, em forma de crónica desportiva, que intitulou «Um passeio ao campo», sobre um Sporting-Benfica, em Alvalade, mas tão hábil que escapou aos censores...

sábado, janeiro 06, 2007

MUCUBAIS E MUITOS MAIS

Mesmo sem ser para aqui chamado vou fazer o que sei melhor:confusão. Mucubais eram, para mim, a gente do deserto de Moçâmedes.Tive de gramar algumas chamadas à ordem por não os diferenciar dos bosquimanos. Quem mais me xingava com isso era o Sebastião Coelho. Mas fossem o que fossem ou quem fossem era gente antiga da antiguidade. Muito apreciados pelos antigos gregos mitológicos, que os compravam alegremente. Vinham de longe, de muita África corrida, os caçadores de escravos, mas a caça era rentável. Façam o favor de notar que me refiro a um tempo passado, antes mesmo dos portugueses aportuguesarem todos os pedaços que gamaram aos mouros.
Seja como for, os bosquimanos e/ou os mucubais ou outros que tais integraram, sim senhor os flechas. Não só eles, mas também eles. Não me recordo da cena com o Farinha, mas eu próprio, com Eduardo Baião, fiz reportagem sobre eles. Fomos acompanhados por dois inspectores da Pide. Assisti à largada na mata de um pequeno grupo, que viria a ser recuperado a quase centena e meia de quilómetros dali, três dias mais tarde. Vi um deles abanar a cabeça e rebuscar de um saco umas quantas fotos, avidamente espreitadas pelos «pides». Não mas mostraram, claro. Depois saberia do que se tratava.
Os do sul, quando eram largados na mata esqueciam quse tudo quanto a «musa» lhes cantara. Sentavam-se e comiam toda a ração que levavam para comer nos dias que se iriam seguir. Depois, sim,depois andavam que se desunhavam. Sabiam o que procurar, como e onde. Impressionante o que podiam andar, onde podiam chegar; impressionantes os resultados que, depois de recolhidos, contavam. A tal ponto que se tornou difícil acreditar. Passaram a ter que levar maquinetas de fotografia instantânea, habituamente utilizadas para cenas mais ou menos escabrosas, experimentadas por timidos e pecaminosos envergonhados.
E quando passaram a exibir , no regresso, fotos de vítimas deixadas para trás, se desvaneceram as dúvidas e a entender o pavor que semearam e o ódio posterior dos angolanos.
As chefias militares não gostavam muito de tomar conhecimento destas facécias. Por essa altura o relacionamento entre a DGS e o Comando militar era pelo menos estranho e se havia matéria que as chefias militares ostensivamente inoravam eram os flechas!
Não era, no entanto,caso virgem. Na Guiné os comandos incluiam guineenses nas suas fileira, que rapidamente se fizeram notar e ser odiados pelos guerrilheiros do PAIGC. Desconheço se houve ou não alguma inveja, mas a forma como os militares portugueses entregaram «os comandos» africanos ao novo poder na Guiné foi, no mínimo, vergonhoso. Foram todos chacinados. Ainda hoje, tantos anos volvidos, sinto dificuldade em respeitar os símbolos das forças armadas do meu país!
Já agora, também conheci o Peyroteo citado, por Leston, a propósito do livro que ele leu. Conheci-o, evidentemente da Huila, nos contorbados dias de ocupação pela Unita e FNLA e portugueses, com apoio sul-africano. E a
última vez que o vi foi em Lisboa, em casa do Carlos Fernandes, artista plástico,um bom amigo, que me recolheu em Luanda e que recordo com saudade.