Um dia destes parei na SIC Notícias. Estava o Pepetela a ser entrevistado pela Maria João Avilez, que, como sempre, revelava a sua ignorância de forma despudorada. Não admira, portanto que o entrevistado se sentisse fora das suas águas. Desisti da entrevista quando, a entrevistadora, que, durante anos, fez parte do clã pró-Savimbi e fazia viagens à Jamba para falar das plantações de fuba e dos semáforos, disse que o Savimbi tinha sido assassinado.
O Pepetela, coitado, ainda pestanejou forte, mas aceitou e não teve coragem para dizer à senhora que o seu ídolo de outros tempos tinha morrido numa guerra que ele próprio tinha desencadeado e que era responsável pela destruição de um país e pela morte de centenas de milhares de pessoas. Como sempre, na hora, faltou a coragem ao Pepetela para dizer que Savimbi tinha sido um psicopata assassino.
Começou por ser um repto, mas pode transformar-se num desafio, num toque a reunir de uma enorme tribo destribalizada mas sobrevivente, num grito de quem reivindica o direito ao passado e, de raízes ao léu, consegue identificar, lá longe, o sítio aonde pertencem. "Essas raízes não mergulharão noutra terra" - dizia a feiticeira das margens do Cunene
quinta-feira, junho 22, 2006
quinta-feira, junho 15, 2006
Encontros e Desencontros
Ando há semanas para escrever esta simples frases: reencontrei o Trabulo. Queria escrevê-la sem emoção, ou com a emoção suficiente para que toda a gente percebesse que este foi (é) um verdadeiro encontro. É que, logo a seguir, estávamos a falar como se nos tivessemos visto há apenas dez minutos.
E...todavia, os desencontros destes 44 anos foram muitos. A última vez que nos tínhamos visto foi em Fevereiro de 1962. A mãe dele tinha falecido há pouco.O curso de medicina ocupava-o por completo e havia algumas tardes que saíamos para jogar bilhar (seria?). A poesia era, nesse tempo, o seu escape. Para mim, o regresso a Angola era uma obsessão - (detestava as "miúdas com soquetes e que se ruborizavam quando se lhes pegava na mão...).
Eu regressei!!! A minha vida ganhou a dimensão africana que, mais tarde, se revelaria um verdadeiro atropelo da minha personalidade, um choque autenticamente "tecnológico" e, apesar de tudo, um confronto cultural de que saí derrotado. Apesar da inexistência de soquetes, das experiências heterodoxas, dos filhos...apesar do amor à terra , às gentes...
Os choques deram origem ao reavivar de outras raízes, de outras memórias, à descoberta da minha condição de desenraízado, vivendo numa terra com quase nove séculos de História, capaz de absorver, internamente, verdadeiras aberrações, como as estórias de violações de crianças praticadas intra-muros familiares e eleições entre pares de uma mesma farça...
Estas, todavia, não eliminavam as outras, as memórias dos tempos felizes e limpos. E sempre lá estava o Trabulo, companheiro de brincadeira de bairro, confidente de estórias verdadeiras ou inventadas na adolescência irriquieta de quem ainda não tinha o Mundo nas mãos, mas, seguramente, iria ter - sem soquetes, de preferência.
A primeira grande notícia veio com o "Mulemba - contos de África" - dois livros num apenas, mas que me revelava o Trabulo saudoso de África - não africano, mas saudoso da envolvência.
Depois foram as notícias sobre o Diário do Salazar: gente zangada, a fazer do Trabulo objecto das suas próprias frustações.
Com meestria, ele apenas fez aquilo que todos nós, da nossa geração, gostaríamos de fazer: imaginar o que era, o que pensava e o que fazia o mafarrico.
De tal forma o fez que conseguiu, nas partes que são pura ficção, imitar a linguagem do António de Santa Comba. No final, não há quem não conclua que o homem era um simples mortal, mas com ambições de poder desmedidas; e encontrou formas para as concretizar.
Não deixa de ser interessante - para mim - que, ao mesmo tempo que lia o Salazar, lia um outro livro do António Trabulo: " Histórias do Caparandanda",uma colecção de contos angolanos compilados por ele e reescritos com a sua linguagem poética. Afinal, a diferença entre os dois livros, está em que Salazar - um personagem real - provocou males reais a personagens reais e os Contos do "Caparandanda", parecendo fábulas, não deixam de ser retratos de outras sociedades em que o mal e o bem se gladiam - embora de formas diferentes e sem que o bem sempre vença.
No mesmo contexto de "estórias de outros tempos" (Caparandanda), tanto os contos angolanos, como a biografia de Salazar, não deixam de ser lições que os mais velhos transmitem aos mais novos. É o encontro possível entre gerações - numa perspectiva africana.
À maneira europeia, um escrito, um livro, um conto, uma fábula, uma crónica tem sempre uma perspectiva política, em que benfiquistas estão de um lado e sportinguistas de outro. Não há encontro possível e a lição a tirar é sempre diferente.
Independentemente dos livros e do gozo que a sua leitura me deu, venho aqui, de um modo demasiado emocionado, talvez, dizer que este reencontro foi - tenho de o confessar - uma das grandes alegrias desta minha condição de desenraízado, que, de vez em quando, lá encontra um pouco da sua própria terra para pensar na justeza dos desígnios dos deuses.
O Trabulo está a escrever muito. Acho que, finalmente, para além da sapiência com que exerce a sua profissão de neurocirgião no Hospital dos Capuchos, encontrou tempos para a sua "vocação": a escrita. Entregou-me um texto-rascunho sobre o "Cunene", o nosso fascínio de adolescentes. Um rio que ele viu uma única vez, durante uma excursão de liceu.
Mais tarde, em circunstâncias bem diferentes, tive a oportunidade de conviver o dia-a-dia- com o Cunene, a primeira maravilha do Mundo. É outro encontro.Ele não precisou do dia-a-dia para sentir o Rio Cunene como eu ainda hoje o recordo.
Estamos Juntos - diriam dois amigos Quiocos.
segunda-feira, junho 12, 2006
O IMENSO NADA
Se a Televisão tivesse aparecido quando um tal César ia ver leões a devorar cristãos talvez o futebol ainda não tivesse conhecido a luz do dia. Haveria por certo, pelos meus lados, um coliseu
municipal e como por aqui não se vislumbra leões, e os lagartos não servem, assistiriamos decerto ao confronto de incompreendidos crentes com varas de porcos ferozes e imundos. Gladiadores a soldo da autarquia haveriam de animar as hostes. Os criadores de presuntos sabiam como minar a resistência dos religiosos: ao cair da noite, abriam as valas e despejavam os degetos pelos ribeiros que abasteciam de água os tementes e desprotegidos do Senhor. Os jogos despertavam, claro, muito entusiasmo e geravam não pouca expectativa. Havia muitos especialistas para comentar e criticar a pouca operacionalidade dos cristãos.
Presumo que os campeonatos do mundo teriam forçosamente de ser todos em Roma, porque eles haveriam de controlar o comércio de leões, cuja missão na Terra era, bem entendido, mastigar com requintes de malvadez uma espécie vagamente humana a que se dava a condição de carne para leão.
A Televisão nunca falhava- Viam-se por vezes dentes avermelhados, ainda com pedaços de carne humana por palitar. Uma festa que as câmaras difundiam, focando os corpos a ser desmembrados e desossados pelos impetuosos reis da selva, tudo minuciosamente descrito e comentado. Quem é que quereria saber de futebol, se o houvesse, para alguma coisa?
Mas não havia Televisão. Nem mesmo quando Napoleão foi ao Egipto. De facto nem quando o Benfica ganhou a Taça Latina. Foi preciso a Isabel vir a Lisboa para o «manholas» ligar a TV.
E cinquenta anos depois ainda não temos leões que alimentar de mitos. Esta noite sonhei com leões, maus como as cobras, embevecidos a escutar o Humberto Coelho e o Toni, que falavam com um chicote na mão e falavam uma língua estrangeira, a deles. De manhã, que bom!, a televisão estava desligada e não se ouvia um pio. Eu podia finalmente ter razão, a minha, sem contestação. A Itália ganhou.Paciência! O que me lixa é que o Togo perdeu e o surdo sou eu. Pois é, pois é, o pior surdo é o que não quer ver. Daqui a cinquenta anos estes gajos da bola já não me chateiam. Vale uma aposta?
municipal e como por aqui não se vislumbra leões, e os lagartos não servem, assistiriamos decerto ao confronto de incompreendidos crentes com varas de porcos ferozes e imundos. Gladiadores a soldo da autarquia haveriam de animar as hostes. Os criadores de presuntos sabiam como minar a resistência dos religiosos: ao cair da noite, abriam as valas e despejavam os degetos pelos ribeiros que abasteciam de água os tementes e desprotegidos do Senhor. Os jogos despertavam, claro, muito entusiasmo e geravam não pouca expectativa. Havia muitos especialistas para comentar e criticar a pouca operacionalidade dos cristãos.
Presumo que os campeonatos do mundo teriam forçosamente de ser todos em Roma, porque eles haveriam de controlar o comércio de leões, cuja missão na Terra era, bem entendido, mastigar com requintes de malvadez uma espécie vagamente humana a que se dava a condição de carne para leão.
A Televisão nunca falhava- Viam-se por vezes dentes avermelhados, ainda com pedaços de carne humana por palitar. Uma festa que as câmaras difundiam, focando os corpos a ser desmembrados e desossados pelos impetuosos reis da selva, tudo minuciosamente descrito e comentado. Quem é que quereria saber de futebol, se o houvesse, para alguma coisa?
Mas não havia Televisão. Nem mesmo quando Napoleão foi ao Egipto. De facto nem quando o Benfica ganhou a Taça Latina. Foi preciso a Isabel vir a Lisboa para o «manholas» ligar a TV.
E cinquenta anos depois ainda não temos leões que alimentar de mitos. Esta noite sonhei com leões, maus como as cobras, embevecidos a escutar o Humberto Coelho e o Toni, que falavam com um chicote na mão e falavam uma língua estrangeira, a deles. De manhã, que bom!, a televisão estava desligada e não se ouvia um pio. Eu podia finalmente ter razão, a minha, sem contestação. A Itália ganhou.Paciência! O que me lixa é que o Togo perdeu e o surdo sou eu. Pois é, pois é, o pior surdo é o que não quer ver. Daqui a cinquenta anos estes gajos da bola já não me chateiam. Vale uma aposta?
domingo, junho 11, 2006
...E JÁ FOI O ÓPIO DO POVO!
Sim,sim, que bem me lembro! É domingo,ponto final, porra. Estou à espera que o dia corra e a tarde finde. Que venha a bola. Queria ter uma razão para adoçar a ansiedade. Queria uma alegria angolana. Não é que eu não tenha nascido na Alfredo da Costa e por cá tenha sentido o efeito do regime ditatorial. Tenho algum direito de não apreciar ditaduras, onde quer que elas imponham a sua força. Mas o apego ao futebol está para além disso. Foi o futebol que conquistou a atenção do poder, mas acabou, como muitos de nós, a servi-lo.
Foi um extinto diário comuna que alertou com ira: o futebol é o ópio do povo. Azar! Uma semana depois viria a Lisboa uma equipa soviética, para uma eliminatória europeia. Duas dúzias de jornalistas moscovitas de não sei quantos pasquins e de canais de televisão! Fartei-me de gozar com Tavares da Silva (sobrinho), que encontrei no Camões a caminho da Brasileira. Desde Luanda que nos davamos bem e continuamos a dar. Tinha-o encontrado uma noite na Mansarda, onde intelectuais e artistas curtiam a noite. Meses depois habitavamos Angola.
A sorte comum foi o regresso às origens.
Isto lembra-me que estou sem ler jornais lisbonenses desde quinta-feira. Exasperei-me com a moda dos jornais imporem toda a espécie de «lixo» que bem entendem e exigirem que o leitor o pague. Não, definitivamente não. Isto vem a propósito de ter lapsos de informação e à falta de melhor espreitei os jornais de fora. Esbarrei com «Le Monde» e pasmei com («Hookergate» à Washington) um escândalo delicioso na área de residência do sr. Bush. Corrupção em alta escala e como o título insinua envolve não poucas pequenas da vida. Desconheço (e devem perceber porquê!) se os jornais portugueses deram conta do escandalo que envolveu altas personalidades empresariais e de organismos do Estado e que viria a culminar com o rolar de cabeças na CIA. A história tem algumas semelhanças que o escandalo denunciado recentemente sobre a FIFA, pois também
inclui a oferta de serviços de prostitutas e aliciantes partidas de pocker. Receio que o livro sobre
a FIFA, bem como outro anterior sobre o COI tenham tido pouca ou nenhuma divulgação por aqui. Neste caso, claramente político, aconselho a leitura do Le Monde do dia 9 (nove), posto à venda, como se sabe, na véspera. É possível o acesso pela NET. Atenção que, ao contrário do que acontece em várias pátrias, há gente já condenada, há outra em vias de, um manda chuva da CIA já se molhou e há negócios com ramificações sabe-se lá até onde...
Mas onde é que eu fui parar! Estava na bola e zangado! Não aguentei o jogo de Holanda, que eu queria ver. Mas aquela malta dita comentadora não se aguenta. Só falam,falam, arengam, misturam alhos com merdas, desviam a atenção, incomodam. Tinha ouvido o José Augusto Marques e ele, sim, ele ajuda a ver o jogo. É discreto e conciso; não inventa, não se desmarca. Não chateia, mas o jogo não dava para muito. Ainda na SIC ouvi outro, também, suportável. No Cabo, senhores! Fiquem calados. Deixem o Toni falar no fim do jogo. Um dos canais minúsculos de notícias, nem sei qual, incluiu um excelente comentador. Simples mas directo. Fácil de ouvir e de entender: Inácio, é ele. Pode-se aprender a arte do comentário, mas é mais natural quando nasce com a pessoa. O que se lastima é não haver nas televisões, sobretudo nas televisões, gente capaz de escolher quem deva e só faça aparecer quem dá jeito ou quem faz jeitos, sem qualquer critério. E agora uma brincadeira inocente:lembram-se como (e porquê) foi «inventada» a tv por cabo???????
Para nos livrar da pub... Fomos todos comidos, os que acreditaram... Boa tarde. Vou esperar
por um doce tropical. Nada de minúsculo. Por favor não empatem...
Foi um extinto diário comuna que alertou com ira: o futebol é o ópio do povo. Azar! Uma semana depois viria a Lisboa uma equipa soviética, para uma eliminatória europeia. Duas dúzias de jornalistas moscovitas de não sei quantos pasquins e de canais de televisão! Fartei-me de gozar com Tavares da Silva (sobrinho), que encontrei no Camões a caminho da Brasileira. Desde Luanda que nos davamos bem e continuamos a dar. Tinha-o encontrado uma noite na Mansarda, onde intelectuais e artistas curtiam a noite. Meses depois habitavamos Angola.
A sorte comum foi o regresso às origens.
Isto lembra-me que estou sem ler jornais lisbonenses desde quinta-feira. Exasperei-me com a moda dos jornais imporem toda a espécie de «lixo» que bem entendem e exigirem que o leitor o pague. Não, definitivamente não. Isto vem a propósito de ter lapsos de informação e à falta de melhor espreitei os jornais de fora. Esbarrei com «Le Monde» e pasmei com («Hookergate» à Washington) um escândalo delicioso na área de residência do sr. Bush. Corrupção em alta escala e como o título insinua envolve não poucas pequenas da vida. Desconheço (e devem perceber porquê!) se os jornais portugueses deram conta do escandalo que envolveu altas personalidades empresariais e de organismos do Estado e que viria a culminar com o rolar de cabeças na CIA. A história tem algumas semelhanças que o escandalo denunciado recentemente sobre a FIFA, pois também
inclui a oferta de serviços de prostitutas e aliciantes partidas de pocker. Receio que o livro sobre
a FIFA, bem como outro anterior sobre o COI tenham tido pouca ou nenhuma divulgação por aqui. Neste caso, claramente político, aconselho a leitura do Le Monde do dia 9 (nove), posto à venda, como se sabe, na véspera. É possível o acesso pela NET. Atenção que, ao contrário do que acontece em várias pátrias, há gente já condenada, há outra em vias de, um manda chuva da CIA já se molhou e há negócios com ramificações sabe-se lá até onde...
Mas onde é que eu fui parar! Estava na bola e zangado! Não aguentei o jogo de Holanda, que eu queria ver. Mas aquela malta dita comentadora não se aguenta. Só falam,falam, arengam, misturam alhos com merdas, desviam a atenção, incomodam. Tinha ouvido o José Augusto Marques e ele, sim, ele ajuda a ver o jogo. É discreto e conciso; não inventa, não se desmarca. Não chateia, mas o jogo não dava para muito. Ainda na SIC ouvi outro, também, suportável. No Cabo, senhores! Fiquem calados. Deixem o Toni falar no fim do jogo. Um dos canais minúsculos de notícias, nem sei qual, incluiu um excelente comentador. Simples mas directo. Fácil de ouvir e de entender: Inácio, é ele. Pode-se aprender a arte do comentário, mas é mais natural quando nasce com a pessoa. O que se lastima é não haver nas televisões, sobretudo nas televisões, gente capaz de escolher quem deva e só faça aparecer quem dá jeito ou quem faz jeitos, sem qualquer critério. E agora uma brincadeira inocente:lembram-se como (e porquê) foi «inventada» a tv por cabo???????
Para nos livrar da pub... Fomos todos comidos, os que acreditaram... Boa tarde. Vou esperar
por um doce tropical. Nada de minúsculo. Por favor não empatem...
quinta-feira, junho 08, 2006
NÃO HÁ VOLTA A DAR...
Pois é, pois é: fomos nós que descobrimos o caminho marítimo para a Índia e passámos pelo mostrengo sem lhe ligar. Povoámos a Madeira deserta e acasalámos por África, pelas américas e outros mundos além, onde a carne fosse dócil. O eléctrico e o telefone foram os ingleses que trouxeram. Os portugueses sabiam andar, não sabiam estar. Ainda hoje estão sempre a partir. E se é certo que ele há portugueses por todos os cantos do mundo, lá isso há, isso já não quer dizer nada.
Os africanos famintos fogem dos africanos bem alimentados e espalham-se pela Europa estupefacta. Tempos houve em que africanos atónitos eram conduzidos por europeus para as américas, onde os pré-americanos os americanizaram à força. Hoje as pequenas do Leste são levadas sabe Deus como e para onde! Mas não é só gente carenciada de dinheiro que nos chega daquelas bandas. Quando partem sem destino certo vão em busca de trabalho e de conforto. Mas com eles trazem, sem o saber, tentáculos das mafias, que se expandem e fomentam a criminalidade. A tragédia de uns quantos acaba a servir o sub-mundo.
O alastrar da comunidade chinesa pela Europa, nos nossos dias, tem componente menos dramática, mas não deixa por isso de ter uma causa comum à dos africanos ou dos europeu
Quando era miudo, lembro-me que o meu pai costumava comprar gravatas a um chinês. Nem
sei se poderia simplesmente dizer: ao chinês de Lisboa. Talvez houvesse mais outro, não sei. Depois vieram mais. Não tanto por eu gostar da sopa dos restaurantes deles mas porque tinham que vir, isto é: tinham de abalar de lá para onde quer que fosse.
Lembro-me, e já lá vão mais de trinta anos, que, na África do Sul, em pleno apartheid, os chineses que por lá aparecessem, eram considerados não brancos e tal tinha custos. As leis são o que nós sabemos e onde quer que seja e ali os chineses não, senhor, não podiam. Mas os japoneses, sim senhor, hotel bom e do melhor? Sim, senhor! Tez é tez, taco é taco! Uma coisa são os preconceitos rácicos ou religiosos outra é a veste económica. O volume do porta-moedas branqueia e burila, sobretudo a política económica! Mas era, convenhamos, outro tempo e outro espaço para este tipo de contradições...
Mais do que sair, bem mais do que isso, a maioria dos imigrantes foge alucinada, muitos deles para mortes brutais ou escravatura medonha. O fluxo é excessivo e como as marés é imparável, alaga, inunda, arrasa.
A estabilidade, como argumento, vai desaparecer. Se numa sociedade antropófoga é imoral não comer carne humana, no caos a violência substitui a ordem ou, pior, subverte-a.
Daqui por três ou quatro Séculos tudo isto estará arrumado e a humanidade (se a houver) terá assunto para aulas do ciclo secundário. Entretanto, vamos à bola. Força, meus, força, carago...
Os africanos famintos fogem dos africanos bem alimentados e espalham-se pela Europa estupefacta. Tempos houve em que africanos atónitos eram conduzidos por europeus para as américas, onde os pré-americanos os americanizaram à força. Hoje as pequenas do Leste são levadas sabe Deus como e para onde! Mas não é só gente carenciada de dinheiro que nos chega daquelas bandas. Quando partem sem destino certo vão em busca de trabalho e de conforto. Mas com eles trazem, sem o saber, tentáculos das mafias, que se expandem e fomentam a criminalidade. A tragédia de uns quantos acaba a servir o sub-mundo.
O alastrar da comunidade chinesa pela Europa, nos nossos dias, tem componente menos dramática, mas não deixa por isso de ter uma causa comum à dos africanos ou dos europeu
Quando era miudo, lembro-me que o meu pai costumava comprar gravatas a um chinês. Nem
sei se poderia simplesmente dizer: ao chinês de Lisboa. Talvez houvesse mais outro, não sei. Depois vieram mais. Não tanto por eu gostar da sopa dos restaurantes deles mas porque tinham que vir, isto é: tinham de abalar de lá para onde quer que fosse.
Lembro-me, e já lá vão mais de trinta anos, que, na África do Sul, em pleno apartheid, os chineses que por lá aparecessem, eram considerados não brancos e tal tinha custos. As leis são o que nós sabemos e onde quer que seja e ali os chineses não, senhor, não podiam. Mas os japoneses, sim senhor, hotel bom e do melhor? Sim, senhor! Tez é tez, taco é taco! Uma coisa são os preconceitos rácicos ou religiosos outra é a veste económica. O volume do porta-moedas branqueia e burila, sobretudo a política económica! Mas era, convenhamos, outro tempo e outro espaço para este tipo de contradições...
Mais do que sair, bem mais do que isso, a maioria dos imigrantes foge alucinada, muitos deles para mortes brutais ou escravatura medonha. O fluxo é excessivo e como as marés é imparável, alaga, inunda, arrasa.
A estabilidade, como argumento, vai desaparecer. Se numa sociedade antropófoga é imoral não comer carne humana, no caos a violência substitui a ordem ou, pior, subverte-a.
Daqui por três ou quatro Séculos tudo isto estará arrumado e a humanidade (se a houver) terá assunto para aulas do ciclo secundário. Entretanto, vamos à bola. Força, meus, força, carago...
DAR UMA VOLTA
A África vai-me ficando para trás, esbate-se na memória. As mukandas do Fernando são como mata-borrão: secam mas não apagam. Por estes dias não há notícia que aguente, o foot supera tudo. O Scolari é o dono da bola e Luís Figo o seu profeta. Timor deita braço de fora, mas Miguel ganhou o lugar. Os australianos chegaram depressa, mas não é por muito madrugar que amanhece mais cedo, devem ter pensado os da GNR, que não toleram excessos de velocidade.E o calor entorpece e o melhor que consegue é fazer sede. Estive para ligar para o Leston, de zangado que o senti, beber um copo alivia a sede e aquieta o espírito. Angola é como é, como a querem e como a moldam os que podem. Como Timor, minha gente, como Timor! Deu no que deu, no que podia dar. Na linha do que havia sido a descolonização em África! Em colaboração clara de cooperar com a política expansionista de Moscovo.O que um certo "25" lhe deu não tinha nem teve a ver com liberdade ou democracia. O que «aquele» revolucionário "25" lhe levou era o abrir a porta aos camaradas soviéticos. Como de resto tentaram também, mas debalde, fazer em Macau. Os chineses não estavam a dormir!Kissinger, por uma vez, não perdeu tempo e pôs o indonésios a travar a intromissão e a integrarTimor. Abandonamos, e deixamos indefeso, um povo que sempre nos respeitou.Quando a União Soviética se dissolveu, a Indonésia fez como o José-africano, que deixou cair o «popular» da República e se arrimou à tolerável democracia. Se os timorenses queriam ser livres, que o fossem, uma vez que os americanos já não se importavam.Pelo meio apareceu o petróleo, porque um «mal» nunca vem só. Mas dá para ter amigalhaços e como se sabe os australianos são para as ocasiões. Verdade se diga que a Austrália já era para os timorenses o que o Brasil foi para os portugueses: pátria de acolhimento.Tem-se visto como não falta por essa Europa fora gente portuguesa, por lá radicada, a receber a equipa lusitana. Não deixamos de ser como somos, por gosto ou necessidade. Mas não apreciamos muito que outros se instalem à nossa porta.Talvez seja por esta característica mesquinha que nos vamos esquecendo de defender a língua que soubemos criar. Fomos saindo de onde estivemos, sem deixar escola, que promovesse o português, a língua de um povo que teve méritos, que foi perdendo. É pena!Não só em Goa, mais recentemente, nem em Damão ou Diu. Quanto da imensa Índia não ouviu e entendeu o português!Imaginam que, uma vez, o Artur Ferreira fez uma pausa nas correrias dos pó-pós e entrou pela Indonésia e se entregou ao pasmo, fotografando magníficos monumentos e marcos de presença portuguesa, carinhosamente preservados. Não foi autorizado a expor as fotos: a Indonésia era suposta martirizar o povo timorense.Uns quatrocentos anos depois, Mário Soares foi a Castelo de Vide pedir perdão pelas maldades exercidas contras os judeus. Que diabo, ainda só passaram trinta anos sobre o abandono miserável de Timor...
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