Quando alguém ( o Vasco Trigo) me chamou para acabar de ouvir a notícia de que o Luandino Vieira tinha sido premiado como o "Prémio Camões" fiquei estarrecido. Ali mesmo, na rua, junto ao carro dele, onde ambos estávamos a ouvir os últimos pormenores, eu lhe garanti não acreditar que o Luandino Vieira aceitasse receber o prémio.
A que propósito - fui eu pensando ao longo da tarde - alguém desassossega outrém que, há anos, disse o que tinha a dizer a propósito da escrita e de si próprio e depois se calou?
Por alma de quem se vem premiar um escritor, cuja obra, já premiada, se não perdeu qualidade, está, todavia, ultrajada pelo que fizeram da realidade que lhe deu origem?
É um desaforo. Luandino sabe que este prémio não tem nada a ver com ele - continuei a pensar com os meus botões.
De resto, acrescentava nas minhas lucubrações, os pressupostos desta atribuição também estão errados. Luandino foi (é) angolano por razões que ele próprio reconhece já não existirem. É um pretexto muito pobre para alguém que , como ele, abdicou de tudo porque não podia transformar nada.
De facto, Luandino não foi capaz de, como fez, por exemplo, Pepetela, descrever como se de uma caricatura se tratasse a sociedade angolana, particularmente a de Luanda.
Também não recorreu à mistificação e à mentira, como faz sistematicamente Agualusa para contar estórias pretensamente ficcionadas mas que relatam factos verdadeiros da vida de pessoas a quem ele deve respeito e a quem nunca pediu autorização para delas se servir.
Era público e notório que Luandino tinha desistido do passado como fonte de inspiração. Todos nós, os seus admiradores, os seus leitores, esperávamos o dia em que um novo Luandino (quiçá com outro apelido que lhe acrescentasse significância) aparecesse nos escaparates das livrarias.
Este júri deste prémio Camões, com as suas "escalas idiotas" veio, seguramente, estragar-nos o nosso gozo e o dele também.
A notícia de hoje - a da renúncia de Luandino - encheu-me de alegria. Além de um escritor notável, continua a ser um Homem.
Afinal, posso continuar a ter dois heróis da luta pela Independência de Angola: o José Luandino Vieira e o Carlos Rocha (Dilolwa)
2 comentários:
Que eu saiba, o Luandino foi dos raros portugueses a quem foi dada a nacionalidade angolana, pelo Presidente, logo após a independência. Não precisou de a pedir.
É verdade ... Todos nós, os seus admiradores, os seus leitores, esperamos um dia que um novo Luandino apareça nos escaparates das livrarias e ainda conto "ilustrar" gravemente e a carvão, um novo livro...
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