sábado, maio 27, 2006

A Minha Mana

A minha mana fez hoje anos - no mesmo dia em que os faria minha mãe. Os filhos fizeram-lhe uma festa no Alentejo. Telefonei-lhe e ela estava feliz. Recomendei-lhe que dissesse aos filhos que a tratassem como uma princesa porque ela era minha rainha. O telefonema ficou por ali. Habituados como estamos a dominar as emoções temos dificuldade em lidar com elas quando surgem, assim como touros largados em calçadas de pedras engorduradas.

Acho, todavia, que é tempo de voltarmos a perceber que os homens se distinguem dos outros animais por uma maior capacidade de exteriorização de emoções - o que não é o mesmo que afirmar que os animais não as têm.

Um abraço do tamanho do Mundo, minha mana.

quarta-feira, maio 24, 2006

Luandino

Quando alguém ( o Vasco Trigo) me chamou para acabar de ouvir a notícia de que o Luandino Vieira tinha sido premiado como o "Prémio Camões" fiquei estarrecido. Ali mesmo, na rua, junto ao carro dele, onde ambos estávamos a ouvir os últimos pormenores, eu lhe garanti não acreditar que o Luandino Vieira aceitasse receber o prémio.
A que propósito - fui eu pensando ao longo da tarde - alguém desassossega outrém que, há anos, disse o que tinha a dizer a propósito da escrita e de si próprio e depois se calou?
Por alma de quem se vem premiar um escritor, cuja obra, já premiada, se não perdeu qualidade, está, todavia, ultrajada pelo que fizeram da realidade que lhe deu origem?
É um desaforo. Luandino sabe que este prémio não tem nada a ver com ele - continuei a pensar com os meus botões.
De resto, acrescentava nas minhas lucubrações, os pressupostos desta atribuição também estão errados. Luandino foi (é) angolano por razões que ele próprio reconhece já não existirem. É um pretexto muito pobre para alguém que , como ele, abdicou de tudo porque não podia transformar nada.
De facto, Luandino não foi capaz de, como fez, por exemplo, Pepetela, descrever como se de uma caricatura se tratasse a sociedade angolana, particularmente a de Luanda.
Também não recorreu à mistificação e à mentira, como faz sistematicamente Agualusa para contar estórias pretensamente ficcionadas mas que relatam factos verdadeiros da vida de pessoas a quem ele deve respeito e a quem nunca pediu autorização para delas se servir.
Era público e notório que Luandino tinha desistido do passado como fonte de inspiração. Todos nós, os seus admiradores, os seus leitores, esperávamos o dia em que um novo Luandino (quiçá com outro apelido que lhe acrescentasse significância) aparecesse nos escaparates das livrarias.
Este júri deste prémio Camões, com as suas "escalas idiotas" veio, seguramente, estragar-nos o nosso gozo e o dele também.
A notícia de hoje - a da renúncia de Luandino - encheu-me de alegria. Além de um escritor notável, continua a ser um Homem.
Afinal, posso continuar a ter dois heróis da luta pela Independência de Angola: o José Luandino Vieira e o Carlos Rocha (Dilolwa)

terça-feira, maio 23, 2006

A Foto e a Barba

Está bem, Fernando. Aqui está a foto, o Sérgio Santimano, o Kok Nam, a barba e... já agora, as meias brancas.

domingo, maio 21, 2006

Regresso

Hoje voltei ao "Romeiro". Desde Novembro de 05 que não escrevia lá uma linha. É difícil, porque para contar os pormenores da história do jornal "África", depois de narrado o essencial, é necessário tempo.
Aconteceu, porém, que o Sérgio Santimano, um notável fotógrafo moçambicano, que começou a sua carreira na AIM de Moçambique, passou por Lisboa e da conversa surgiu a recordação de uma fotografia que o Kok Nam tirou a nós dois - na moto do Sérgio.
Foi para publicar essa foto que voltei ao o-romeiro.blogspot.com para acrescentar mais um pedaço da história do jornal "África".

domingo, maio 07, 2006

Educação e Professores em Angola

A notícia foi publicada por várias agências e glosada em tons diversos: os professores angolanos entraram em greve, exigindo da parte do Governo um salário mínimo de 300 dólares.
Como questão prévia ao que a seguir vou escrever quero garantir que não me move - ao contrário de outros tempos, quando escrevia em jornais de venda pública - ser tomado como um especialista, um crítico, o que quer que seja. E também não estou interessado em desenvolver qualquer influência sobre quem manda em Angola.
Todavia, a notícia da greve dos professores transportou-me para outros tempos, quando, de forma voluntariosa e voluntarista, imaginava possível contribuir para a construção de um sistema de educação eficaz, melhor do que aquele de que me tinha servido, prestigiado e virado para a construção de um novo país, com a capacidade de realizar todas as suas potencialidades.
Pouco tempo depois da Independência de Angola, porém, cheguei à conclusão de que tal não seria possível. A Educação foi mal tratada, os professores relegados para plano secundário e, logo de seguida, vingou a ideia de que o "o melhor seria mandar os estudantes para a URSS e para Cuba".
A Universidade de Luanda, que tinha delegações no Huambo e no Lubango foi praticamente destruída. Aquela não era a Universidade do MPLA, embora provocasse o espanto a todos os que vindos, então, dos chamados países socialistas onde existiam Universidades reputadas, visitavam as suas múltiplas valências.
As Faculdades de Agronomia e Veterinária, sediadas no Huambo tinham, em 1974, condições tão extraordinárias que parecia "engano". O que é que se tinha passado ali? perguntavam os visitantes. As faculdades de Medicina e de Ciências, em Luanda provocavam a mesma estupefacção.
Um grupo de pessoas, nas quais me incluo, fizeram os possíveis por manter, no meio da guerra que dilacerou o país entre 1975 e 1977, provocada pela invasão sul-africana, as condições que permitissem o arranque de todo o sistema na altura própria. O Homero Leitão liderava este grupo e, todas as manhãs, alimentava a nossa esperança de que, em breve, a " nossa Universidade" estaria a funcionar da melhor maneira.
Qual quê?
Agostinho Neto não queria aquela universidade e, por isso, não dava dinheiro, isto é, não havia orçamento. Quando fomos fazer uma reunião com o então ministro da economia, Carlos Rocha, Dilowa, foi-nos negado, inclusivé, a utilização do orçamento que não tinha sido gasto no ano anterior. Estávamos em 1976.
Depois que os sul-africanos abandonaram o território angolano (27 deMarço de 1976) tudo se complicou. Por exemplo, no Lubango, para onde eu tinha regressado em Fevereiro a fim de iniciar as aulas na Faculdade de Letras e fazer outras coisas (tantas!!!) começámos a lidar com uma dificuldade impossível de superar: a qualidade dos professores que nos mandavam de Luanda. Gente que fazia a carreira docente pela via política, gente com cursos tirados na Patrice Lumumba, em Moscovo.
Nenhum dos nossos pedidos para o recrutamento de professores foi atendido e a qualidade do ensino foi-se, degradando de forma irreversível.
Mais tarde, aquela faculdade foi transformada num instituto de formação pedagógica, mas os resultados não parecem ter sido brilhantes.
Entre dificuldades de toda a espécie iam acontecendo peripécias inauditas. Uma delas foi o aparecimento de diplomas falsos trazidos por estudantes do ex- Zaire, que, de resto, foram, aos poucos, tomando conta do sistema.
Quando saí de Angola, a "nossa Universidade"era uma caricatura, com professores que nem a língua conheciam e traduziam do russo para o francês, para, depois, alguém traduzir para português.
Mais tarde, Agostinho Neto autonomeou-se Reitor da "Universidade Agostinho Neto". Não me consta que tal alteração tivesse provocado um milagre. Angola arrastou-se na penúria de quadros e fez do desprezo pelos professores mais uma marca característica de país do terceiro mundo - um terceiro mundo especial, já que o seu sistema de educação tinha sido considerado, pela OUA,nos anos 60, o melhor de toda a África e também porque era, em 1973 um país autosuficiente do ponto de vista alimentar e já exportava carne, milho, farinha de peixe, além dos produtos próprios das indústrias extractivas, tais como o ferro, com uma mistura de ouro que dava para os importadores pagarem o que importavam, cobre, diamantes e, claro, o petróleo.
Num país com estes contornos percebe-se mal que os professores tenham que fazer uma greve para exigir um salário correspondente a 300 dólares.

segunda-feira, maio 01, 2006

Fernando Alves com Sampaio

Lembras-te, Fernando? Não só parecias o Che, como eras cabeludo, jovem e magro. E já tinhas à frente do teu microfone Jorge Sampaio, a transpirar com o calor de Luanda. Ele ainda era do MES, não pensava que algum dia viesse a ser o "Rocard" português. Acho que naquela altura nem punha a hipótese de aderir ao PS, quanto mais um dia vir a ser Presidente da República. Estava com ar cansado e já não me lembro o que terá dito, mas, concerteza, muito parecido ao que todos diziam: nada. Naquele tempo, há 32 anos, era, todavia um "gajo porreiro".

Quem é o "penteadinho", de pulseira na mão esquerda. Da Eclésia?"

Esta foto fui "roubá-la" aqui ao lado, ao "Lusofolia".