Carlos Narciso, no seu blog "Escrita em Dia", a propósito do meu texto sobre bosquímanes, lembrou-se de uma estória passada nas faldas da Serra Chela com um grupo de homens "em tronco nu", que exigiam a uma escolta militar do MPLA tão só que lhes pedissem autorização para atravessar o seu território.
Uma vez que foram "os meus" Bosquímanes a suscitar esta recordção ao CN, é bom esclarecer que aquele grupo de homens semi-nus não eram Bosquímanes. Só podiam ser Mucubais.
Já agora, a propósito do texto do "Escrita em Dia", recordo aqui este povo, guerreiro e pastor , que mantém a respeito do seu "território" um sentimento de pertença muito acentuado. Daí a minha conclusão, relativamente ao grupo que travou o CN e a sua escolta militar.
Ora, o território "mucubal"estende-se pelas encostas da Serra da Chela, entra pelo Deserto do Namibe e chega muito perto do Chiange, Serra abaixo. As suas relações com o povo Nhanheca Humbe , a que pertencem os camponeses da Huíla sempre foram complicadas.
Na chamada "guerra de 39" os portugueses derrotaram pesadamente os Mucubais e confinaram-nos à Chela e ao Deserto, deixando o Planalto para os povos camponeses. Nunca esqueceram esta derrota.
Quando, em 1975, os sul-africanos invadiram Angola, tentaram, depois de terem construído a sua rectaguarda no Lubango, fazer a ligação com Moçâmedes, sem o conseguirem, porque os Mucubais, ao perceberem que havia um guerra de "brancos contra negros", se aliaram aos negros e - uma curiosidade - com a ajuda de um português que havia fugido do Hospital com a ajuda do médico, dr. Garcês Palha e do Padre Jorge, secretário do então Bispo da Huíla, impediram que tal ligação se fizesse.
Farrusco, um operário da Fábrica de Cervejas N'Gola, ex-comando do Exército Português, foi aceite pelos Mucubais e, juntos, fizeram gorar os planos dos "carcamanos".
No final desta primeira fase da guerra, vencidos que foram os sul-africanos, os Mucubais decidiram colher os benefícios de terem estado ao lado dos vencedores e principiram a roubar o gado aos M'Huilas, sobretudo aos que viviam mais próximo da Serra.
Por outro lado, ao serem recrutados para o Exército angolano em formação, não aceitavam ficar nos quartéis. Recebiam as armas e rumavam para as suas casas. Não são integráveis num grupo com gente de outros lados, de outras etnias...
O MPLA, sem saber com o que estava a lidar começou a reprimir aquilo que eles consideravam os seus justos anseios, que eram os de recuperar o prestígio e a riqueza perdidos em 39 contra o exército dos brancos (os portugueses de então).
O desconhecimento do MPLA relativamente aos Mucubais era de tal forma que, em Outubro de 1976, quando Agostinho Neto visitou pela primeira vez o Lubango, houve dois incidentes curiosos.
O primeiro teve a ver precisamente com o então Presidente da RPA. Havia uma reunião marcada para as 14H30 com um grupo de quadros do MPLA do Lubango. Esperámos até às 16H30.
À entrada do palácio do Governador (então chamado Comissário) esteve durante todo este tempo uma delegação de Mucubais, para ser recebida por Agostinho Neto. Queriam colocar-lhe as suas questões específicas e dizer - muito naturalmente para eles - que a guerra tinha sido ganha pelo seu povo.
O Presidente desceu as escadas, aproximou-se da delegação , com os seus turbantes vistosos e braços cruzados sobre o peito, sempre de olhos erguidos, e pediu a um dos seus seccretários que retirasse da pasta a máquina fotográfica. E então, perante a estupefacção de alguns de nós, acercou-se do grupo para que lhe tirassem uma fotografia. Comportamento igual ao de qualquer turista impressionado com o ar "exótico" do grupo.
Neto nem os ouviu, seguiu para a reunião. Um dia destes falarei desse acontecimento.
O outro incidente aconteceu no dia seguinte, durante o comício presidido por Neto. Quando algém ia começar a falar foi interrompido por uma voz imperativa que vinha da assistência. Era um mucubal que ordenava à sua gente que se aproximasse da tribuna, já que eles eram os vitoriosos, tinham sido eles a ganhar a guerra contra os sul-africanos.
Houve um burburinho, com a multidão a agitar-se e o numeroso grupo de Mucubais que ali estava ocupou, sem cerimónia, as primeiras filas da assistência. Só depois disso o comício principiou.
Com o andar do tempo, as relações MPLA/ Mucubais deterioraram-se significativamente e julgo saber que ainda hoje não são brilhantes, apesar de o poder ter recorrido algumas vezes à força das armas.
6 comentários:
Meu caro senhor Leston Bandeira não é por eu ser umbundo que quero embirrar não ... faça lá a correcção porque a Chela tinha tantas "fraldas" como a serra do Pundo, no Bocóio por exemplo.
Meu Caro Sr. David Oliveira: a sua correcção é bem vinda. Sabe? nunca fui bom na dactilografia e agora não tenho "desk". É pena que o texto apenas lhe tenha chamado a atenção por um erro claramente de "dactilógrafo"
Leston Bandeira, conta mais.
FF
Foi nessa visita ao Lubango que, entre outras coisas, fiquei a saber que quem iria ser o substituto de Agostinho Neto era José Eduardo. O "camarada" Pacavira, já com mais que um grãrzinho na asa, quando à noite se distribuiam os quartos no Hotel, fazia questão de ficar no mesmo quarto do Zédú. Dizia ele que aquele iria ser o próximo presidente de Angola.
mais que um ex comando do exercito portugues farusco é actualmente general em angola e deu muito ao povo angolano . fica a rectificaçao em homenagem a um heroi por todos reconhecido .
ola!! eu so o jorge e gostaria de saber mto mas sobre os povos mucubais, eu so daqui do namibe e gostaria de me informar mas ainda gostei desse exemplar mas gostaria que acrescentacem mas ainda..
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