A propósito da demissão do general Fernando Miala do seu poderoso cargo de chefe dos serviços secretos de Angola, ocorreu-me a estória de Emílio Braz, meu velho amigo e combatente do MPLA desde a primeira hora. Era natural de Jau, um aldeamento perto do Lubango e, tal como todos os chefes africanos, quando chegou ao lugar de Comissário da Huíla,mandou fazer uma estrada directa da capital da província à sua terra natal.
Era daqueles militantes habituados às inúmeras horas das reuniões políticas do MPLA. No meio batia um "cochilo" e, quando acordava, dava logo opinião sobre o assunto em discussão.
Foi o único "quadro" que o MPLA mandou para o Sul de Angola, logo após o seu reconhecimento legal como partido político (movimento de libertação). Tinha tirado um curso de ajudante de veterinário na União Soviética e a sua última missão na guerrilha tinha sido "tomar conta dos burros que transportavam o armamento pesado".
Como o MPLA tinha relativamente ao Sul a ideia de que era território de reaccionários e racistas, mandou para lá o Emílio Braz.
A verdade, todavia, é que o Emílio pensava bem e pensava, de uma forma geral, ao lado do seu povo.
O mal foi o poder. Com a fuga para Luanda, face à invasão sul-africana, Emílio Braz, na capital, ficou ao alcance da influência de Nito e Alves, regressou ao Lubango e, pouco tempo depois, foi nomeado comissário provincial (governador). Aí começaram os disparates: casamento com uma jovem conterrânea, com cântigos e danças na Sé Catedral, a estrada para o Jau e o completo distanciamento do povo para se virar, decididamente, ao lado das forças nitistas contra os brancos, mulatos, etc.
Com a tentativa falhada de golpe de estado do Nito Alves, Emílio Braz escapou a mortandade porque se escondeu durante uns tempos, tendo aparecido anos mais tarde, já não como militante do MPLA, já não com funções ao nível do Estado, mas como comerciante de carvão.
Foi nessa condição que o reencontrei muitos anos depois, no meu primeiro "regresso" ao Lubango. Depois de uma longa conversa, recordando tempos antigos, ele lembrou-me uma velha máxima: " no MPLA é sempre assim, umas vezes está-se em cima, outras em baixo".
Foi também nesse dia que soube que José Eduardo dos Santos tinha estado no Lubango precisamente no dia 27 de Maio de 1977. A fazer o quê? Ninguém soube explicar.
Sem comentários:
Enviar um comentário