sábado, fevereiro 25, 2006

O TEMPO E O MODO

O título não é original, o tempo também não e eu ainda menos. Passei uns dias fora. Revi amigos e recantos onde vivi uns anos feliz. Nada de muito distante, uma noite de comboio lento, mas confortável, bastou. Deu para ver como se multiplicaram as lojas chinesas. São muitas, são! Mas são discretos, os chineses das lojas. Aceito que, afinal, não são todos iguais. Sobretudo as mulheres que, pelos vistos, aceitaram tornar-se atraentes.
Vi imensos ingleses a beber cerveja, a cantar e a partir vidros das portas de café-cervejarias. Quando era mais novo, caramba, meus, muito mais novo, conheci uma inglesa que me explicou que os ingleses só «faziam ao sábado», porque tinham semana inglesa, o que os obrigava a embebedar-se à sexta, cumprir o dever ao sábado e descansar ao domingo para enfrentar a semana. Não se podia contar com eles aos sábados, mas nos outros dias da semana, mesmo que fosse domingo, era uma alegria!
À noite os ingleses ganharam ao Real causando uma real desilusão ao madrilenos. Palpitou-me
que, desta vez, seria Mourinho a pagar a factura. E regressei a tempo de ver...
Mas vi também que o meu país tinha evoluido. Sexo escaldante irrompia através da imprensa , em grande e á francesa! É verdade que nada de muito novo, salvo a terminologia pura e dura. Mas como qualquer saloio inveterado, choquei-me mais pelas palavras do que pelos actos. Mas diverti-me bastante pelo excesso de machismo do escritor escandalizado pela audácia libertina
da cronista, que pôs o preto no branco (salvo seja!) que as mulheres fingem, na cama, mais do que se pensa. Fingem um prazer que não sentem ou que não se lhes soube dar. E é aqui que se sobressalta o machismo, receoso de lhe ser avaliada a competência!
Vá lá, vá lá! não se zanguem uns com as outras e vice-versa. É a falar, ou a truca-trucar, que o maralhal se entende.Quanto mais se falar melhor se compreende. Mas reconheço que falar de cama, com terminologia latina não faz ponta. E um pouquinho de fingimento ajuda e estimula,
como cantou o poeta «... que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente».
Lembro outro poeta, quando durante uma noite orgíaca se falou do beijo divino e ele contou de um conterrâneo, que se gabava de manhã: «todos os dias aparecem feitos, na Madeira, 200 minetes. Eu faço dois. Quem faz os outros?» A grosseria abre caminho e ainda bem, é mais estimulante, sobretudo quando se afirma e mais ainda quando a afirmação surge da ala feminina,
muito mais desinibida, mais consistente, não se limita a falar entre muros, escreve. Um pontapé na ética, nos costumes. Convenhamos que é mais estimulante e ousado que forjar gravuras.
Sobretudo porque foi possível debater sexo sem a componente poética ou amorosa. Com gritinhos a sério ou a fingir o sexo é para usar e o amor para se fazer. A questão que sobra é saber quem e como poder dar a machadinha no matrimónio...
Entretanto cada qual faça o que pode, como puder e onde puder. E toca a fingir que se faz tarde...

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