quinta-feira, fevereiro 09, 2006

AO SABOR DO TEMPO

É o tempo que tempera a História e a molda, conservando ou remodelando a longa caminhada. Pelo caminho vai-se perdendo a memória de realidades incómodas e retocando os feitos épicos. Sei melhor que Afonso Henriques fundou uma nacionalidade e menos como foi enganando o Papa, ao tempo uma espécie de notário, onde se ia registar a sociedade. Mas sei que Egas Moniz foi de baraço ao pescoço para honrar a palavra. E palavra que não me lembro porque é que o rei amarrou a mãe pelos cabelos.
Pedro amou Inês e isso tem sido alimento de poesia. Mas foi igualmente um caso de traição conjugal, mas disso não se canta nem em prosa nem em verso. O Marquês de Pombal era rijo. Enfrentou o terramoto e recuperou Lisboa. Mas mandou matar três gerações de Távoras. Ainda assim não foi ele que inventou o radicalismo.
A Igreja cristã torturava um senhor que teve a ousadia de pensar que a Terra pudesse girar em volta do Sol. Mais tarde, um senhor na Alemanha pensava que a Alemanha era demasiado pequena para a sua ambição. Em Londres o Rei andava distraído. Em Paris cosia-se roupa e comia-se no Moulin Rouge. Em Lisboa, o Presidente do Conselho não ia, mandava. De facto mandou alguns para longe!
Ao tempo, a política era um pouco como a liberdade de imprensa. Cada qual fazia o que lhe apetecia. Hitler invadiu a Polónia e começava uma guerra que alastrou por quase toda a Europa.
Os ingleses chamaram Churchill e ele fez como o treinador do Nacional: pôs-se à defesa. De Gaulle pôs-se a andar. Os judeus que puderam fugiram. Os que não puderam foram presos e passaram fome. Seis milhões dizimados com requintes de malvadez. Salazar não ia, mandava. Mandou os portugueses produzir e poupar e comer racionado.
Os japoneses também entraram na guerra. Bombardearam uma ilha americana e ocuparam as Filipinas, China, a Indonésia e não me lembro que mais. Mais tarde tiveram que pagar a factura, levando com duas bombas atómicas, made in USA.
Com a paz vieram outras guerras, umas ditas de libertação, outras nem por isso. Havia uma fria, bem gélida, por sinal, e outras bem quentinhas... Mesmo assim um mundo novo ressurgia, com nova arrumação.Parecia uma coisa simples, parecia...
No Quénia, acho eu, era a África a aparecer, de mansinho! Os «mau-mau». Recordo-me, ainda menino, das graçolas: «um mau-mau comer um bom-bom». Os quenianos não deram muita importância. Os ingleses negociaram a independência, depois de terem prendido Jomo Kenniata.
Os franceses tiveram a Indochina e a Argélia, o que não foi pouca coisa. Começar as experiências nucleares foi como lamber as feridas. A «bomba A» parecia uma espécie nova de seguro de vida.
Quem tem bomba não tem inimigos! Errado, profundamente errado!
O terrorismo irrompeu como reacção. Quem não tem cão caça com gato. Na guerra convencional
os bombardeamentos aéreos matavam indistintamente quem não estivesse resguardado e arrasaram cidades inteiras. O terrorismo faz o mesmo, sem aviões, sem exército. Alimenta-se de religião e semeia ódios. Daqui por dois mil anos a História deve ser outra. Bush nome de avenida. Ben Laden, faculdade de direito, Médio Oriente, discussão académica sobre a guerra dos cem anos. Talvez o Benfica vá à frente, o TGV já chegue ao Pragal. E ainda haja quem goste de mulheres...

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