sábado, setembro 30, 2006

SAVIMBAR

Não. De maneira nenhuma vou contestar o «patrão»; nem sequer vou propor nome para próxima futura tasca; nem sequer, ele próprio, o defunto, a estar em causa. Surge naturalmente como a procriação: é preciso começar por algum lado. Tinha a intenção de me servir da acidez de Leston Bandeira para alastrar o leque de zurzidos mas...
Antes, bem entendido, dei a desconfiada mirada pelos pasquins. Fixei-me no «fundo» sobre estradas e más consequências das ditas. Os africanos, em geral, e os angolanos, em particular, deviam pôr os olhos na questão rodoviária e meditar. Escolher melhor os projectistas e assegurar a qualidade dos engenhocas para evitar as consequências arrepiantes, que por cá bem se conhecem. Ele há um princípio para tudo e nada melhor do que começar bem. Sabemos hoje que substituir uma má estrada por uma magnífica autopista não resolve o problema de sinistralidade -- agrava-o, torna-o mais veloz e mais sinistro. A causa maior dos acidentes de
viação resulta dos automobilistas. Quanto melhor é o carro pior para o despiste ou colisão; e pior que um carro topo de gama é uma estrada melhor.
O comentário do articulista do «DN» põe o dedo na ferida ao sublinhar a pouca eficácia na repressão e parece contentar-se com a denúncia da resposabilidade de muitos que projectaram e construiram, especialmente a estrada para o Algarve ou as voltinhas do Marão, tudo mais ou menos «emparedado» na IP5, de má memória.
Não faço ideia como é que o articulista conduz mas tenho para mim que, em geral, as árvores não se metem à frente dos carros. Uma má estrada incomoda a condução, chateia o motorista, não o obriga a suicidar-e ou a matar o próximo. O alcool não afecta a qualidade da estrada, mas pode lixar os cornos ao condutor.
Tempos houve que por alguma razão uma estrada de longa recta, com duas faixas para cada sentido, bem no sul da França, ficou para sempre conhecida pela «estrada dos portugueses». Façam o favor de não me perguntar porquê!
A rábula do controlo eventual é uma treta. Em boa verdade limita-se ao que se conhece como caça à multa e não tem efeito para além disso. E, hoje em dia, já é possível fazer um pouco mais para enfrentar o problema com alguma eficácia. A vigilância permanente das estradas por radar não é um mito. A carta de condução por pontos já existe em alguns países.
Posso asseverar que em França, por exemplo, a «pontuação» e as multas electrónicas resultaram. Conheço bem o percurso Lisboa-Paris e verifiquei como em muito pouco tempo se notou essa diferença. Não tanto pelas multas, mas pela ameaça latente de ficar sem carta.
Em boa verdade, meu caro Leston, o guerreiro Savimbi nada teve a ver com isto. O trânsito dele era clandestino. Seria tão terrorista quanto o terá sido Geraldes, «o sem pavor»!
O Ben Laden começou a saga dele, evidentemente heroica, a resistir à ocupação soviética. Só depois é que «virou» terrorista. As únicas bombas atómicas que mataram gente eram americanas e a ideia americana era a de avisar o próximo «do quem te avisa teu amigo é».
Depois foram os, então, soviéticos. E depois...pois os outros. Dissuadir não se vê como. Em boa verdade a bomba atómica é o que se quiser, é como a água benta: cada qual toma a que quer.
Mata muito, mata demais. Savimbi começou no MPLA. Só depois se estabeleceu por conta própria. Não demorou muito, no Leste, a usar a expressão «primeiro entre iguais», enfrentando a guerrilha marxista. Contou com a ajuda da PIDE. Os madeireiros do Luso sabiam isso bem. Trabalhavam tranquilos. Sei do que falo, conheci o inspector que desceu à mata, sozinho, para o encontro. Por alguma razão, depois, ele teve apoios sul-africanos e americanos. Morreu porque nas guerras alguém tem que morrer. Se era terrorista? Acho que sim, onde está a duvida?
Mas, meus senhores: e os outros?
Que fique claro que em nenhum momento me referi a Mário Soares. Dele creio simplesmente que é confusionista. Pode não gostar-se dele. Ainda hoje eu creio que ele foi um homem providencial. Mas isto é outra história...

sexta-feira, setembro 29, 2006

Soares e Savimbi

Nem sempre posso, mas quando tenho a sorte do meu lado, assim que antevejo a possibilidade de certos personagens aparecerem na televisão, desligo, mudo de canal ou saio, vou embora. Pronto. Já não estou para os aturar...
Mas, hoje não foi possível.Num dos canais nacionais falou-se do lançamento de um livro sobre Savimbi, dos seus últimos meses, bla..bla..bla. E Eu tive que ouvir. Tinha cerimónia em casa, não podia fazer nada do que habitualmente faço, nem abandonar a sala. E engoli aquilo tudo, até mesmo Mário Soares a dizer um chorrilho de disparates sobre o seu grande amigo Savimbi: " que tinha lutado até à morte, com fome e não sei que mais, não pelo poder, não pelo dinheiro e não por mais não sei porquê. Acho que não chegou a dizer que o homem lutou pelo povo...se o disse, pelo menos, nessa altura, tinha conseguido desligar o cérebero - que é outra maneira.
Mário Soares, que apoiou Savimbi a mando da Internacional Socialista, depois de 1975, que durante os acordos do Alvor manobrou a favor da UNITA, continua a querer manipular a oipinião pública, esquecendo-se de um pormenor importante: depois que Savimbi foi morto, numa guerra que ele desencadeou e durante a qual foram destruidas várias cidades e mortas centenas de milhares de pessoas - não houve mais tiros, deixou de haver guerra.
Afinal quem a fez, quem a queria? E os diamantes que serviam de sustento a traficantes de armas, aventureiros de todo o tipo, estão aonde?
Porque é que Mário Soares volta sempre ao "freedmon fighter" a propósito de Savimbi e não percebe que Angola, esteve sujeita durante quase trinta anos a um poderoso psicopata assassino?(Há mais de vinte anos que escrevi isto mesmo e a TSF "varreu-me" do seu naipe de especialistas porque algum tempo antes da morte de Jonas Malheiro, repeti a afirmação).
Alcides Sacala tem todo o direito de escrever a sua própria epopeia e evocar os seus demónios, mas ... Mário Soares, esqueça Angola. Dele e de Savimbi, sobretudo - evidentemente - deste, Angola só conheceu mentira e desgraça.

segunda-feira, setembro 18, 2006

PELOS TEMPOS IDOS E VINDOS

O sonho de quantos sonham viajar pelo futuro é, bem entendido, moldar a presente. Ir ao futuro, mesmo à sucapa, seria a maneira mais segura de albardar burro. Conhecer por antecipação a senha do euro-milhões era porreiro, mas estou em crer que o retorno à realidade tem por obrigação divina andar suficientemente atrazado para afastar o turvo olhar do lucro fácil.
Já a maneira como se molda o passado, como se procura explicá-lo, também não é inocente. A «lavagem» de factos e personagens tem em vista adocicar as questões da actualidade, caiar a fachada para tapar a ruina.
Ontem dei uma espreitadela ao prof, ainda o Porto não tinha aberto o activo. No meio do paleio dele sobre o procurador que aí vem, veio o Porto e meteu um golo, que eu não vi. É por estas e por outros que eu não gosto de muito sujeitos palradores. Era óbvio que ele não sabia quem vai ser a criatura escolhida, como é demasiado óbvio que ele gostava de saber antes dos outros saberem... Mas foi quando ele publicitou o livro de Almeida Santos que prestei atenção. De maneira simpática, o comentador foi prevenindo que se trata da versão do dirigente socialista. O prof acreditava que Almeida Santos tinha sido amigo do pai, o (então) advogado preferiu reduzir a mera cortesia.
Almeida Santos, a quem ouvi, uma vez, dizer que não tinha feito voto de pobreza, a propósito da maneira como se despediu de Lourenço Marques, descreve o que viveu e ao que assistiu. Espero ler, se o book não for caro ou algém simpático mo emprestar, a sua quase memória, que se deve, muito provavelmente, traduzir por memória corrigida e aumentada...
O prof comentarista surpreendeu-se pela citação de que Spínola teria revelado que Marcelo não se importava que a guerra na Guiné tivesse sido perdida. Foi verdade. Spínola zangou-se bem com isso. Não por mór da Guiné, bem entendido, mas por ele, Spínola guerreiro. Perante o cenário que o general expunha, Marcelo terá dito: «E então? Se perder perdeu...» O general de Salazar perdeu Goa e ele não deixou as colónias por causa disso.
Se Spínola não perdeu definitivamente a guerra, acabou por perder, com estrondo, a sua posição no 25 de Abril. Pôs-se a milhas. A guerra portuguesa em África não foi perdida pelos militares, mesmo se eles nunca pareceram capazes de a ganhar. Foi perdida pelo Estado Novo, por Salazar, que cedo percebeu o que estava a acontecer no mundo do pós guerra. Acreditou
que podia dar a volta por cima, substituindo colónias por províncias ultramarinas. Se tivesse, logo que perdeu Goa, mudado a capital da «pátria una e indivisível» para Luanda talvez tivesse criado um dilema político complicado às estâncias internacionais.
É giro! Vinha do Brasil, aonde acompanhei o já citado Marcelo (padrinho) , quando o homem pisou a Lua. O homem pode ir longe no espaço, mas não consegue andar no tempo. Nem para a frente nem para trás. O papa caiu em si, a infalibilidade esmoreceu.
De manhã já era segunda-feira. Estava a lavar os dentes que me restam quando dei por mim a rir: os metereologistas, esses, passeiam no tempo, prevêem o futuro, sabem hoje o que vai ser amanhã. Que pena Sócrates não ser metereologista...

sábado, setembro 16, 2006

OLHOS EM BICO

De repente parece que se deu, ainda que com alguma estranheza, pela influência chinesa em África. Mais do que espanto causa preocupação. E, no entanto, é cada vez mais forte e vasta a acomodação amarela no seio da própria Europa. De facto, o parisiense Le Monde tem agitado com visível preocupação o crescimento físico e económico dos chineses em África, a ponto de já ter questionado: «A África será já chinesa dentro de um decénio?». O vespertino parece recear que sim, considerando o crescimento da teia chinesa quase como um fenómeno. Não é. Paris, de resto, pode ser apontado como um bom exemplo para os jornalistas da casa. Na capital francesa vêem-se chineses por todos os lados. A nosso lado, no «metro» ou nos autocarros. Lojas fast food
em todas as avenidas, ruas ou travessas; grandes superfícies comerciais adquiridas e já com redes de abstecimento próprias! Árabes e africanos perdem espaço, notam-se menos. Os chineses são tranquilos, quase silenciosos. Não carregam, nem parecem adquirir, questões religiosas ou políticas para criar choques ideológicos. Parecem pacíficos e persistentes em comprar casas e lojas, hoteis e supermercados.
Por cá, na Graça ou no Terreiro do Paço, não se dá por isso ou dá-se menos, mas eles também estão por cá. Discretos vão-se instalando, sem hostilizar Sócrates ou arcebispos de Braga. Se fosse necessário até aturavam qualquer Santana que aparecesse no Parque Mayer! Dão-nos a ideia de estar à espera que o preço das casas se humanize para comprar e comprar e comprar. Por ora dormem nas lojas que montaram e adquiriram. Na minha aldeia havia um restaurante chinês, como nas outras aldeias por aí fora. De vez em quando ouvia-se alguém sugerir:«Vamos almoçar ao china»? Um dia destes, para parecer evoluido pus a mesma questão: «Vamos ao china?», mas a resposta pronta já foi:«qual»?
Preocupado, como os colegas do Le Monde não estou. Não receio pela independência do meu país. Tenho, isso sim, é receado algumas vezes pela dependência. Não acredito em Bruxas, mas como os anos passam depressa, confesso que vou aprender a comer com pauzinhos...

terça-feira, setembro 12, 2006

PORQUE É SETEMBRO

Não andei, ó meu, tanto como isso por França, não senhor: só o absolutamente indispensável. O que fiz, isso sim, foi imensos périplos por África, geralmente ao deitar. Claro que a minha África não é a mesma que cantam os meus negros colegas, gaita!, queria dizer distintos. Vou ter que escrever antes da refeições...
A África da memória é inesquecível, mas só para gastos de casa. Como é que se pode divagar sobre Porto Alexandre? Ou rememorar o bife obsceno que me serviam em Salazar, ainda no tempo do governo lisbonense do senhor Dalatando. E no entanto vi-os muitas vezes a jogar a bola. «Os Dinizes» e os do «Independente»! Vocês imaginam um clube do deserto a chamar-se «independente», naquele tempo? Os do «café» e os «peixeiros» mexiam bem na bola, divertiam-se com ela. Acho que nunca ganharam o campeonato. O «apito dourado» era uma porra. De cada vez que Pinto da Costa telefonava para o Valentim lá se lixava o «Independente», o que até enfurecia as areias do deserto! Se era o Filipe a pressionar outro que tinha que ser Pinto, visto que são uns trinta pintos a um osso e para lixar os do «café» qualquer deles servia. O que os lixou a todos foi haver magistratura, cheia de telefones disfarçados a ouvir as conversas. Claro que, como era África «aquilo» não deu em nada, não é como cá. Aqui a Justiça é célere não é o faz que anda mas não anda que se usa trópicos, Lá o árbitro leva o taco para casa e pronto, tá feito. Havia de ser cá...
Lá vi uma data de gente com carros bons, bonitos ou maus a andar depressa. Quando acertam em algém é uma chatice, o que é preciso é andar e depressa. Quase que multaram um ministro que ia devagarinho pela Marginal a espreitar o pôr do Sol, mas como era ministro não multaram porra nenhuma. Havia de ser cá...
Em Luanda quase que houve escândalo por causa das escutas. As conversas gravadas começaram a aparecer nos jornais, umas atrás das outras. Apurou-se que não havia nada de mal. É obrigatório mandar os registos secretos para qualquer lado. As televisões compram os melhores assuntos, do estilo: «quem anda a comer quem» e os da bola vão para os pasquins.
Podem não acreditar mas o senhor procurador- geral nem sequer comentou. Pasmei e botei
comentário: «só aqui, só aqui»!
Foi então que acordei meio estremunhado, não estava lá. Em Setembro, geralmente não saio daqui. O outro lado do Atlântico não me parece muito saudável e a África não progride. Aqui é tudo diferente e para melhor, tudo cresce, até a economia. Quem é que quer sair,hein!(a)



(a) - o último apague a luz...