sábado, dezembro 15, 2007

Ame-a ou Deixe-a em Paz



Já recebi dezenas de vezes no meu e-mail uma série de fotografias de Angola com o título "Angola, ame-a ou deixe-a em paz".


Devo dizer que a tal mensagem me irrita por duas razões fundamentais: a primeira é que as imagens são, na sua grande parte, muito pouco significativas. Por exemplo, o rio Cunene parece uma mulola.


E o que querem dizer com a expressão "deixe-a em paz"?


Devemos esquecer a cleptocracia, a miséria, a doença a indignidade do povo? Devemos esquecer que Angola é um país de recursos inesgotáveis que poderiam propiciar a toda a sua população uma vida decente, com altos padrões de qualidade e que em vez disso, enquanto os dirigentes ocupam fazendas, compram carros e aviões, viajam para todo o Mundo, são sócios de todas as grandes empresas, se empenham em dificultar os investimentos que não passam pelo seu controlo, o povo morre de cólera, de tuberculose, de paludismo, não tem escolas para os filhos, não tem comida para se alimentar?


É isso que querem que esqueçamos?


Todos, mesmo aqueles que , ingenuamente, contribuiram para entregar o poder ao MPLA e depois foram expulsos ou, pura e simplesmente, para não serem abatidos, tiveram que fugir?

O que se pretende com esta campanha, que, aparentemente, tem a intenção de revelar um país de imagens belas e surpreendentes - ainda que o não consigam porque quem coleccionou as imagens não conhece - seguramente- o país?


Quem me quer tirar o direito, de modo definitivo, ao meu passado?


Quem está preocupado com a minha ( e milhões de outras) memórias?
Por exemplo, do Fragata, filho do enfermeiro Fragata do Lubango e que, seguramente para não ver a desgraça que vai acontecendo na sua terra, preferiu ir viver para Cabo Verde. A sua fotografia, a ilustrar este texto representa uma homenagem a todos quantos não estão dispostos a atirar o passado para o caixote do lixo e também não estão dispostos a fazer o papel cortesãos de uma classe possidente sem classe, sem cultura e sem escrúpulos e disposta a pagar a bom preço uma palmada nas costas.


Outra das razões que me leva a não fazer circular o e-mail é que tudo o que lá está, ou é natural , ou foi construído ainda no tempo da colonização. Este poder, com mais de trinta anos só destruiu e enriqueceu.

2 comentários:

Anónimo disse...

É dificil assistir, sem reagir.

Mas fazer de D. Quixote? para quê?

Afinal foram tantos "os fazedores de utopias", que era dificil evitar o pior.

Vamos passando pelo Rossio, e matando saudades.

Manuel Luis disse...

Gosto dos seus temas. Recebe-se cada email, sem pés nem cabeça e desactualizados.
Abraço