Os homens e mulheres da minha geração, quando olham para o passado têm, obviamente, alguns motivos para desejar que as coisas se pudessem ter passado doutra maneira. O Salazar e tudo quanto ele implicou foi mesmo horroroso...
Mas, temos - todos (?) - motivos para alguma nostalgia, saudade. Ficou-nos muito tempo e muito espaço para a imaginação, para o empenhamento nas chamadas causas justas e para a esperança de que o Mundo melhorasse - para todos.
A nossa Juventude foi um verdadeiro romance - para alguns de aventuras, para outros de sacrifícios, de lutas difíceis, mas, para todos, de esperança no futuro.
A verdade é que essa esperança se transformou, aos poucos, em triste desilusão. Fomos vendo os companheiros de sonho, de aventura, substituirem os títeres que nos atormentaram a infância e a Juventude. Aos que, como eu, em Angola, lutaram pela Independência, foi-nos negada a alegria da construção de um país livre, justo, fraterno e igual. Ser branco era uma definição, continua a ser uma definição.
E o que vemos, tanto lá, como cá? O discurso do neoliberalismo mais feroz de que há memória. uma corrupção que se instalou a todos os níveis, o aparecimento de um Estado que já não controla nem a sua própria estrutura. Políticos desprestigiados, agentes económicos sem ética, sem respeito pelos mais elementares direitos dos outros.
Estamos a caminho de uma sociedade sem valores que travem o passo seguinte: a marginalidade, o banditismo transformados em máquinas modernas, organizadas, em contraponto à organização do Estado gasta por lutas intestinas, estragada pela gestão de compadrios inúteis e parasitas.
O futuro é o domínio das organizações criminosas, marginais, constituídas por gente que, pura e simplesmente foi atirada para a sobrevivência que, posteriormente, aceitou como modo de vida, acrescentando-lhe a inteligência, o génio e o conhecimento que os pequenos grupos de corruptos foram despresando paulatinamente, enquanto iam enganado o povo de todas as maneiras, mesmo as mais saloias e podres.
Já é tarde para travar este futuro, porque quem manda hoje no Mundo vai continuar a querer mandar e já percebeu de que lado está o futuro. Eles serão os futuros patrões do crime organziado (alguns já lá têm as suas cadeiras). Os primeiros-ministros, os ministros e os presidentes das repúblicas serão apenas biblots televisivos - se é que já não são...
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