Começou por ser um repto, mas pode transformar-se num desafio, num toque a reunir de uma enorme tribo destribalizada mas sobrevivente, num grito de quem reivindica o direito ao passado e, de raízes ao léu, consegue identificar, lá longe, o sítio aonde pertencem. "Essas raízes não mergulharão noutra terra" - dizia a feiticeira das margens do Cunene
sábado, março 27, 2010
Manuel Delgado - Ele detestava a mediocridade
Ontem, com muito gosto, acedi ao convite que me foi feito para assistir ao lançamento do livro de compilação de textos do Jornalista Manuel Delgado que me foi dirigido pela sua família. A apresentação do "RABIDANTIBUS" foi feita na Associação Caboverdiana, em Lisboa. Foi um prazer voltar aquele ambiente e rever gente que não via há muitos anos. A Clara Seabra, sobretudo,esposa e companheira de muitos anos do Manel. Os filhos, que eu conheci pequeninos lá estavam, mas não tive oportunidade de falar com eles.Também foi um gosto rever o Luís Carlos Patraquim.
Vim embora a meio da sessão, porque, tal como o Manuel Delgado detesto a mediocridade e a falta de profissionalismo.
Mas já não estou para polémicas. Aproveito o facto de possuir este blogue para esclarecer algumass coisas.
A primeira diz respeito à personalidade de Manuel Delgado
Cabo Verde é um país especial porque, de tempos a tempos, tem a sorte de ter entre os seus filhos, gente com especial inteligência. Era o caso do Manel. Ele estava sempre à frente e não percebia,não aceitava que os outros não o acompanhassem. E isso angustiava-o. Ele traduzia o amor pela sua terra com essa angústia de quem sentia que tudo podia ser diferente e contestava.Não era um homem fácil, já aqui o escrevi, mas era um homem particularmente inteligente.
Porque é que, primeiro o PAIGC e depois o PAICV não lhe deram papéis mais activos, mas visíveis, mais de acordo com as suas capacidades? Porque ele detestava a mediocridade e os primeiros tempos de independência em Cabo Verde foram feitos com muita paciência.
Essa paciência, a certa altura, faltou ao Manel e ele veio para Portugal para, em conjunto comigo e mais um grupo de pesssoas, fazer o melhor jornal que alguma vez se fez em Portugal sobre África.
Não sei precisar a data em que ele veio para Lisboa, mas não foi, seguramente em 1988,foi bem antes. E o jornal português em que ele mais escreveu foi o jornal "África". Acho mesmo que foi o jornal, que não sendo dele - como mais tarde veio a acontecer com o Paralelo 14 - onde ele se sentiu mais livre. Embora contestando - sempre - desde logo a periodicidade do Jornal. Acho que tinha razão.
Ele não veio em 1988 para o Expresso para ser copydesk, "um copydesk inteligente". De resto foi uma pena que o tivessem reduzido a essa condição, já que o Expresso nunca teve ninguém que percebesse alguma coisa do que se passava em África e o Manuel Delgado poderia ter sido uma peça importante na Redacção de um jornal que sempre teve uma posição paternalista relativamente aos africanos, mas está sempre à espreita para ver se aproveita qualquer coisa que venha de África.
Isso também irritava o Manel e, por isso, voltou para a sua terra, onde criou um projecto próprio para, mais uma vez, demonstrar o seu desprezo pela mediocridade pela falta de profissionalismo e pelos jogos pouco claros da política e da economia e outros...
Ontem perdeu-se uma oportunidade de colocar o Manuel Delgado no seu lugar de JORNALISTA, também um "jornalista Caboverdiano", mas, sobretudo um JORNALISTA e não apenas um copydesk inteligente. O Manuel Delgado, mesmo já não estando entre os vivos, ainda assusta.
Felizmente, o Manel tem uma família que faz os possíveis por demonstrar à sociedade que ele não foi um "qualquer", um "copydesk inteligente".
Outros, que também tiveram papel de grande destaque na sociedade cabo-verdiana e morreram na flor da idade não tiveram essa sorte. Por exemplo, é muito estranho que ainda ninguém tenha feito uma compilação de textos do Renato Cardoso.
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