Os números são eloquentes e as declarações dos observadores internacionais também: o MPLA ganhou as eleições legislativas com um score impressionante (mais de 8o por cento dos votos expressos) e, ao contrário daquilo que muitos previam ,não há notícia de qualquer irregularidade, embora tivessse havido algumas falhas de organização, perfeitamente normais num país que há 16 anos não organizava um evento desta natureza.
Embora haja em Angola, particularmente em Luanda gente que não goste que os estrangeiros, quer dizer, os brancos, se debrucem sobre a sua realidade já que, no dizer de um jovem intelectual bem posto que eu vi um dia destes na TPA Internacional, os portugueses "estão com dor de cotovelo porque a guerra acabou...etc, etc" e mais uns disparates do género, mostrando o seu saber contido em livros de Kissinger e não sei mais de quem e, ao mesmo tempo, afirmando que viveu e estudou em Portugal...embora ainda permaneçam essas cabeças, apesar dos professores...sempre arrisco uma análise política aos resultados eleitorais angolanos.
Estes mais de 80 por cento obtidos pelo MPLA, em eleições livres, significam, antes demais, a possibilidade de se concretizar uma unidade nacional muito ameaçada com as perspectivas tribais da UNITA e da FNLA. Esperemos que estes 80 por cento permitam corrigir as atitudes claramente racistas de uma certa elite do MPLA.
O resultado atingido permitirá igualmente ao MPLA pensar na democracia económica e social, já que a democracia política lhe concedeu uma legitimidade impressionante.
Quando falo em democaria económica significo que é tempo de acabar com os benefícios escandalosos atribuídos a círculos políticos e militares que abusaram ao longo dos últimos anos do poder que a proximidade das altas esferas lhes atribuiu.
Também quero significar que é necessária uma abertura clara ao investimento estrangeiro sem que as decisões tenham que passsar por um "general" já reformado mas ainda sequioso de dinheiro e que, em alguns casos, nem sequer sabe administrar, acabando por cair nas mãos dos que estão a "correr" para Angola à espera de um bom negócio de um general analfabeto e de bolsos cheios.
Quando falo em democracia social estou a lembrar a necessidade de acorrer urgentemente às zonas mais longincuas, mais afastadas dos grandes centros urbanos e salvar o que ainda há para salvar das famílias de agricultores, de criadores de gado, promovendo um desenvolvimento que se reja por uma modernidade adaptada à tradição angolana.
Não é possível que o MPLA possa deixar que continuem a ser desenvolvidas práticas atentatórias da estabilidade social dos povos do Sul, onde aparecem os "grandes senhores" de Luanda a pagar os "casamentos" com as jovens a quem visitam de vez em quando, sem ligarem aos filhos que entretanto vão nascendo.
Esta vitória, aparentemente exagerada, tem que conduzir Angola ao clube dos países cujas leis têm em conta os direitos fundamentais de todos os individuos, ao aparecimento de uma informação capaz de estar de todos os lados, defendendo, sobretudo, os interesses do povo anónimo.
Esta vitória do MPLA tem que significar o início de uma nova era para Angola e para o seu povo, ou antes, para os seus povos. Que todos eles consigam rever-se nas instituições de um Estado que a todos representa mas que a todos respeita. Um só Povo, uma só Nação é um slogan perigoso que sugere um centralismo autoritário. Um Estado para várias nações é mais conforme à realidade angolana - o futuro o dirá.
Por último: era bom que esta vitória do MPLA tivesse efeitos positivos na comunidade internacional e que Angola começasse a ser olhada com outros olhos, sobretudo pelo esforço que vai fazer para mudar o que, evidentemente, está mal.
Já agora: que os mais de 80 por cento do MPLA tranquilizem os funcionários dos consulados angolanos no estrangeiros e comecem a sentir-se como fazendo parte de uma comunidade com mais de duas centenas de estados, cujos cidadãos viajam cada vez mais, sem que essas viagens tenham sempre que ser consideradas perigosas...
2 comentários:
Saudações.
É sempre interessante aqui vir de vez em quando...
Zé Kahango
http://bimbe.blogs.sapo.pt
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