Há alguns temas para os quais "já não estou". Um deles é o da cooperação entre Portugal e os chamados "PALOP". Todavia, há dias em que, ouvindo os políticos da praça encartados de comentadores, acho que devo voltar à liça.
A viagem de Sócrates a Angola foi, para a imprensa portuguesa, não um "sucesso" - porque é palavra que os jornalistas de hoje não sabem contextualizar - mas uma "operação" bem montada, uma espécie de campanha eleitoral com um único resultado garantido - a vitória.
É engraçado!
Lendo a comunicação social angolana - aquela que pode ser lida - ficamos com a sensação de que esta foi mais uma viagem de um primeiro-ministro português que vai a Angola procurar estatura, credibilidade e - mais uma vez - defender a tese da inevitabilidade das boas relações entre os dois Estados e os dois povos.
O que os políticos de um lado e doutro dizem pode não ser mentira no campo das intenções, mas no domínio das realizações é uma miragem.
Primeiro, em Angola existe um Estado mas vários povos. O slogan "Um Só Povo, Uma Só Nação"não passa disso mesmo, de um slogan. Ninguém sabe o que vai acontecer nos próximos anos, quando os povos que não têm acesso à Escola, à Cultura e ao consumo como as gentes de Luanda, perceberem que nem número fazem.
Depois, os portugueses que debitam hoje todos esses desejos, aparentemente legítimos porque fundamentados num legado histórico importante, desconhecem: a colonização portuguesa não foi desenvolvida de acordo com um plano de estado. Foram outros portugueses, com o seu espírito individualista e aventureiro que foram fazendo roças e mulatos, abrindo caminhos e construindo pequenos comércios e escolas. E Igrejas.
O Estado apareceu sempre na figura do chefe de posto que tanto levava o "índigena" para o contrato como chantageava o pequeno comerciante ou o pequeno fazendeiro.
A cooperação organizada estado-a-estado nunca resultará, sobretudo em Angola. Os não sei quantos empresários que foram a Luanda, foram, na grande maioria, passear. Alguns deles, os mais jovens, aproveitaram e mandaram as amantes noutro avião. Os mais velhos aproveitaram para ir ao Mussulo ver as mulatas. Os negócios, esses ficam para conversas reservadas, longe de Luanda e de Lisboa e nunca tratam do importante: um novo envolvimento entre as populações dos dois países, sem constrangimentos.
A ideia de enviar 200 professores portugueses para Angola até parece generosa mas vai revelar-se mais um desastre, um rotundo fracaso. Dir-vos-ia porquê, mas o MNE não me paga a consultoria e, como disse no princípio, há certos temas de que estou cansado.
A viagem de Sócrates a Angola foi, para a imprensa portuguesa, não um "sucesso" - porque é palavra que os jornalistas de hoje não sabem contextualizar - mas uma "operação" bem montada, uma espécie de campanha eleitoral com um único resultado garantido - a vitória.
É engraçado!
Lendo a comunicação social angolana - aquela que pode ser lida - ficamos com a sensação de que esta foi mais uma viagem de um primeiro-ministro português que vai a Angola procurar estatura, credibilidade e - mais uma vez - defender a tese da inevitabilidade das boas relações entre os dois Estados e os dois povos.
O que os políticos de um lado e doutro dizem pode não ser mentira no campo das intenções, mas no domínio das realizações é uma miragem.
Primeiro, em Angola existe um Estado mas vários povos. O slogan "Um Só Povo, Uma Só Nação"não passa disso mesmo, de um slogan. Ninguém sabe o que vai acontecer nos próximos anos, quando os povos que não têm acesso à Escola, à Cultura e ao consumo como as gentes de Luanda, perceberem que nem número fazem.
Depois, os portugueses que debitam hoje todos esses desejos, aparentemente legítimos porque fundamentados num legado histórico importante, desconhecem: a colonização portuguesa não foi desenvolvida de acordo com um plano de estado. Foram outros portugueses, com o seu espírito individualista e aventureiro que foram fazendo roças e mulatos, abrindo caminhos e construindo pequenos comércios e escolas. E Igrejas.
O Estado apareceu sempre na figura do chefe de posto que tanto levava o "índigena" para o contrato como chantageava o pequeno comerciante ou o pequeno fazendeiro.
A cooperação organizada estado-a-estado nunca resultará, sobretudo em Angola. Os não sei quantos empresários que foram a Luanda, foram, na grande maioria, passear. Alguns deles, os mais jovens, aproveitaram e mandaram as amantes noutro avião. Os mais velhos aproveitaram para ir ao Mussulo ver as mulatas. Os negócios, esses ficam para conversas reservadas, longe de Luanda e de Lisboa e nunca tratam do importante: um novo envolvimento entre as populações dos dois países, sem constrangimentos.
A ideia de enviar 200 professores portugueses para Angola até parece generosa mas vai revelar-se mais um desastre, um rotundo fracaso. Dir-vos-ia porquê, mas o MNE não me paga a consultoria e, como disse no princípio, há certos temas de que estou cansado.
3 comentários:
Na especialidade subscrevo esta opinião. Vou trabalhar como professora para Angola, quem me vai pagar? Será que posso acreditar no Governo Português? Será que é relevante para o Governo de Angola ir um professor ensinar português?
Citando:
O Estado apareceu sempre na figura do chefe de posto que tanto levava o "índigena" para o contrato como chantageava o pequeno comerciante ou o pequeno fazendeiro.
Caro Leston Bandeira, só um pequeno reparo: devia ter escrito a palavra contrato entre aspas. Entre muitas aspas, de preferência. Como sabe, o chamado "contrato" não era mais do que um regime de trabalhos forçados, onde caía sobre o "contratado" toda a espécie de arbitrariedades, abusos e roubalheiras.
Caro Leston Bandeira
Conheci ANGOLA como poucos .Por estrada . Estou plenamente de acordo consigo quando diz " Um só Povo,uma só Nação" que é uma utopia.Enviar professores para Angola . Para quê? Vamos "colonizar" de novo?Nunca o fizemos.Negros e brancos conviviam como um só povo.Comiam à mesma mesa e da mesma comida,pelo menos onde eu estava.Regressado a Portugal antes de 1974,chorei,não me envergonho de o dizer,quando vi imagens daquelas terras do fim do mundo destruidas pela sanha de se não é meu não será de mais ninguém.Na altura -" Que se lixe o POVO",agora derramam lágrimas de crocodilo.Largar o poleiro não largam.E o POVO? Homens , mulheres e crianças ,negros e mestiços ,todos irmanados na mesma luta inglória sem fim de conquistar o que sempre quiseram A PAZ . Conselhos também os não dou pois para isso não me pagam .
Até breve .
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