Sim, claro, bem me lembro. Mas, vê lá tu, meu alucinado amigo, o «meu» Brassens era portuga, melhor dizendo: o ouvia por estas bandas quase europeias. O meu tempo de África foi curto, uma dúzia de anos. Estive entretido a aprender a viver e a curtir os filhos que foram chegando. Ainda hoje acredito que terá sido em Angola onde estivemos melhor, onde fomos menos diferentes, fosse qual fosse a música. Recordo-me de uma vez que passei por Joanesburgo ter passeado com um garoto, filho de um casal sul-africano amigo, e de ter pedido ao miudo que perguntasse ao polìcia uma direcção qualquer, onde eu queria ir. O chui ficou hirto (o garoto era louro e o polícia preto) e olhou para mim. «Sou de Angola», disse-lhe. Ao «oh!» de espanto seguiu-se um sorriso aberto e um braço a apontar a direcção. A mão passsou ao de leve pelos cabelos do garoto. Afinal não era só eu que tinha aquela mania...
E posso acrescentar, sobre Brassens, que detestava polícias, simplesmente por serem polícias e até cantou isso com alguma frequência. Mas um dia...
Há sempre um dia. Um acidente de viação e o cantor muito ferido, com aparente paragem cardíaca e um polícia que se debruça e lhe presta respiração boca a boca e, talvez com isso lhe tenha salvo a vida.
E um Brassens recuperado não tardou a cantar a reconciliação. Não, claro, que ele precisasse de ser um bom cristão. Bastava-lhe cantar como cantava!
Não. No dia 18 não vou estar em Paris. Vou lá estar no fim do mês, uma semanita. Não se pode ter tudo!
É bom quando alguém fica na memória e é bom ter memória de gente como ele ou como Brel ou Otis Readding... E és capaz, Fernando, de me desculpar se eu incluir o Alfredo Marceneiro?
Tem piada que nunca falamos disto entre nós. Foi-nos bastando uma que outra das várias pequenas que foram tema. É verdade que nenhuma dessas cantava. Pois não, mas encantavam...
PS.
Desencantado fiquei eu quando a minha mais que tudo, que fala o francês bem melhor que eu, que nasceu e viveu em França, me advertiu que Brassens não teve acidente de viação. Teve acidente no palco, quando actuava, o que tornou o incidente ainda mais dramático....
o que me torna mais culpado pela negligência. No fim de contas sou (fui) jornalista português e o que é preciso é puxar pela notícia e ficar sujeito aos solavancos. Que me desculpem os puristas
E que me perdoem os que, como eu, creem que a memória não se perde. Pois não, altera-se. Fecunda-nos (no mau sentido)...
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