terça-feira, dezembro 30, 2008

Angola e o Futuro



Para quem, como eu, está longe estando perto, os acontecimentos em África tocam campaínhas de alarme por todo o lado. A situação da Guiné - um país que teve apenas dois chefes de estado em cinquenta anos de independência - sendo alarmente, não faz esquecer o Zimbabwé, antigo celeiro de África, transformado agora em campo de morte, doença, ostentação, miséria, corrupção e todos os males a elas associadas. O Povo do Zimbabwé está a ser vítima da ganância dos seus próprios libertadores. Na Guiné, o Povo paga a imaturidade política que os seus dirigentes de cinquenta anos alimentaram.

Se olharmos para a República da África do Sul - apesar da ausência de informação - não é difícil concluir que à dominação económica, com responsabilidade política - sucedeu um regime irresponsável do ponto de vista político e capaz de construir um sistema económico ultraliberal, com a dicotomia entre ostentação e pobreza extrema, a ele inerente.






Com a inevitável próxima substituição de liderança na chefia do Estado, tudo se complicará, pelo que não é, de todo, impossível, imaginar que a República da África do Sul, antiga super-potência regional, acabe por nivelar por baixo, atingindo os níveis de desenvolvimento dos países vizinhos, com tendência para ficar abaixo de alguns deles.


Ora, um deles é Angola, cujo passado se procura esquecer - a meu ver, mal, porque contém muitas lições positivas, mesmo, quando, aparentemente, negativas - para se anunciar um futuro rutilante, para uma cidade - a capital - tipo Barhaine (a doença dos multimilionários angolanos) e o resto do país dependente do que se decidir, agora no Palácio do Governo, ou no Futungo, em tempos de pausa...

Ao lermos o que se escreve sobre a política angolana rapidamente percebemos a sua dependência do que pensa, do que faz ou do que deseja fazer José Eduardo dos Santos. Tal como em toda a África, tudo está dependente de um homem apenas. Toda a gente em Angola gostaria de estar na cabeça de JES.

Também se percebe que ele está confuso. À media que os anos avançam e as maleitas se evidenciam ele percebe a responsabilidade que lhe pesa nos ombros. Como manter unido um país que foi dividido por diversas guerras e por vários líderes? Como garantir que a sua própria família - numerosa - sobreviva ao seu passamento? Como evitar que a tendência de crescimento e de imposição como Estado líder na África Central e Austral se inverta?




Há uma certeza a que os angolanos não podem fugir: o futuro da sua terra está definitivamente ligado ao do seu actual presidente e, por isso, fazem pouca fé as publicações de sondagens e opiniões em que Zé Du, numa eleição presidencial directa, perderia o que quer que seja. Ninguém joga o futuro por uma janela a troco de um capricho. Os angolanos já sofreram muito...

Ora, se assim é, qual é problema ? (vamos fazer mais como se esse é o problema que estamos com ele - Mankiko dixit)

O problema é, como em toda a África, a sucessão. Ela não está minimamente assegurada em Angola. No caso de JES, de um momento para o outro ficar incapacitado ou, simplesmente, morrer, assistiremos a outra guerra, ou a outras guerras.

Há apenas uma pessoa capaz de evitar isso - o próprio José Eduardo dos Santos, construindo um processo de sucessão inteligente, baseado na competência e não na fidelidade pessoal, construído na pluralidade etnico-cultural e não no monolitismo político, assegurando que um grupo de líderes sejam capazes, depois dele, de se unirem em torno da unidade do Estado Angolano, garantindo a sua diversidade nacional.



Se ele conseguir reunir esse grupo de gente - homens e mulheres - também conseguirá cumprir uma das suas actuais evidentes preocupações: que a sua família, cujo estatuto advém, obviamente, da sua condição de parentes do Presidente da República de Angola ( por muito mérito que se encontre aqui e ali) seja respeitada num futuro de uma Angola pacífica, capaz de olhar para as partes sem esquecer o todo.


Oxalá José Eduardo dos Santos pense no futuro de todo o País e deixe de se preocupar exclusivamente com o futuro dos "seus".



sexta-feira, dezembro 05, 2008

E os Zimbabweanos, Senhor?


As notícias que chegam há anos do Zimbabwé arrepiam qualquer pessoa. Um ditador psicopata destruiu um dos países mais prósperos da África Austral, rodeando-se de um bando de crápulas racistas, cuja única missão ao longos dos anos, depois da Independência, foi explorar em seu proveito as riquezas que outros tinham produzido e continuam a criar.

Comandados por um monstro de nome Mugabe atiraram o seu próprio povo, em nome do qual dizem ter lutado contra Yan Smith, para a mais absoluta miséria.

É verdade que hoje Mugabe já é apenas o porta-voz de um grupo que tomou conta do país e continuará, até ao último cêntimo, a roubar o povo mártir do Zimbabwé.

Agora é a cólera que mata todos os dias, que ameaça todo o país. Mugabe pede auxílio e diz que precisa não sei quantos milhões de Euros para fazer face à calamidade pública. Mas quem é que vai confiar dinheiro a este grupo de corruptos?

As notícias vindas de Harare magoam, mas as cumplicidades que se descobrem no suporte a esta situação ferem como golpes de espadas afiadas pela ganância, pela defesa de interesses muitas vezes inconfessáveis, porque pessoais, porque definidores de alianças espúrias.

Por que razão Angola continua a apoiar Mugabe? Terá que ter autorização da China para se juntar aos chefes de Estado da região, e não só, que reclamam que o ditador deve deixar o poder a bem ou a mal?

Onde estão os movimentos cívicos angolanos, agora que parece haver democracia, para reclamarem do seu governo uma posição humanista em relação aos pobres zimbabweanos vítimas de uma ditadura execrável que já ultrapassou tudo?