quinta-feira, setembro 06, 2007

Pedro Pires

Pedro Verona Rodrigues Pires, CMDT.PEDRO PIRES, hoje Presidente da República de Cabo Verde é um Homem notável. Conheci-lhe a acção política muito de perto desde 1981, altura em que fui para a Cidade da Praia como Correspondente da ANOP.

A primeira vez que falei com ele informalmente - sem ser em conferência de imprensa ou qualquer outra acção do tipo - foi quando me fui despedir porque havia terminado a minha comissão de jornalista delegado da ANOP em Cabo Verde.

Quando cheguei ao país ia com o rótulo de "expulso" da Guiné Bissau, o país até há bem pouco tempo, "irmão-aliado". Fui, por isso, recebido com um pé meio atrás, apesar de o Secretário de Estado da Comunicação Social da altura, Corsino Fortes, me ter recebido com a maior das simpatias.
Acho que se percebeu cedo que eu não seria fácil. Quinze dias depois de estar instalado sugeri a um alto quadro do Ministério dos Negócios Estrangeiros que me desse informação sobre os desenvolvimentos da política da chamada "África Austral" - guerra em Angola, Namíbia, África do Sul, etc. - que eu apoiaria a política externa de Cabo Verde, até porque concordava plenamente com os seus princípios.
Foi o alarme. É que, de facto, Cabo Verde, desde 1979 que tentava fazer a mediação entre Angola e a África do Sul...mas, notícias nem vê-las. Começaram comigo!!! e acabram comigo!!!

A verdade é que eu não tinha nenhuma informação concreta, apenas conhecia muito bem a realidade mais abaixo e percebi (cheirou-me) que ali seria o sítio ideal para tentar alguma coisa e fui utilizando os meus processos - que o Renato Cardoso, tempos mais tarde comparou aos do autor da "Rapariga do Tambor", John Le Carré -. As notícias foram surgindo.

E eram mesmo notícias... Tanto que Pedro Pires teve que ir ao Sal fazer um comício para explicar ao povo e ao Mundo que "Cabo Verde estava, como sempre esteve disponível, para encontrar soluções pela via do diálogo para os conflitos africanos".

E eu continuei a noticiar - contra a "raiva" do MNE, Silvino da Luz - os encontros entre americanos e angolanos, mais sul-africanos, mais namibianos... e mais e mais. A tal ponto que, um dia, em vez de utilizarem a Ilha do Sal, - onde tinha sido construída uma casa especialmente para os encontros - foram para o Mindelo e fecharam o tráfego aéreo. Por acaso foi uma maldade porque eu sabia exactamente quem ia estar no Mindelo, Sam Nujoma, e não consegui lá estar. Mas fiz a notícia. Silvino da Luz espumou, mais uma vez. ( Um dia destes falarei aqui desta minha relação "conflituosa com Silvino da Luz...)

Pedro Pires dirigiu o governo de Cabo Verde durante 15 anos seguidos, transformando a terra num Estado viável, num país de esperança e foi ele o responsável pela preparação do caminho para o pluripartidarismo, um caminho planeado durante anos...

Apesar do sistema de partido único, o Governo de Cabo Verde daquela altura tinha um grande prstígio internacional pelo rigor com que cumpria os seus compromissos e pela consistência com que defendia os seus princípios.
Pedro Pires foi recebido por toda a parte com grandes manifestações de simpatia. Numa dessas viagens, a Espanha, tive o gosto de o acomopanhar e verificar que Felipe Gonzalez apreciava particularmente o esforço que os Cabo-verdianos faziam para se afirmarem na cena internacional.

Com o advento do pluripartidarismo em Cabo Verde e depois de
um campanha verdadeiramente vergonhosa, o PAICV perdeu as eleições e Pedro Pires -
que não tinha conseguido ganhar, sequer para uma casa - voltou para casa da mãe e disposto a r
econstruir das quase cinzas o seu partido.

Dez anos depois ganhou as eleições presidenciais, feito que repetiu cinco anos depois. Hoje ainda é o Chefe de Estado de Cabo Verde e a sua mais forte garantia.

Neste texto despretensioso em que o mostro com alguns anos mais novo - agradeça - deixo-lhe um forte abraço e a manifestação da minha mais profunda admiração.

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