A 14 de Novembro de 1980, há trinta anos, pela madrugada, uma força militar saiu à rua, os seus chefes meteram Nino Vieira, que era o Primeiro Ministro do Governo de Luís Cabral, num carro blindado e foram ao palácio presidencial dar um golpe de estado; mataram José (?) Buscardini, o chefe da segurança, prenderam Luís Cabral e ditaram uma nova era para o país onde se desenvolveu uma luta de libertação vitoriosa.
Libertaram alguns presos políticos, entre os quais Rafael Barbosa, que foi imediatamente à Rádio Nacional e, apresentado como um " dos melhores filhos da nossa terra", fez um discurso violento contra os soviéticos, mas, sobretudo, contra os cabo-verdianos, que, na verdade, tinham dirigido a luta de libertação e, na prática, governavam o país.
Luis Cabral, irmão de Amílcar, era cabo-verdiano, o secretário geral do PAIGC, que controlava a Guiné Bissau e Cabo Verde, era cabo-verdiano, o mesmo acontecia ao secretário geral-adjunto, Pedro Pires.
Era aqui que estava a verdadeira questão do golpe, a mesma que tinha estado por detrás da morte de Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973.
Era, afinal, uma razão previsível para quem estava suficientemente afastado do processo.
Era também a razão que justifica o facto de a Guiné Bissau ser hoje um estado falhado.
Amílcar foi, de facto, um sonhador de um sonho impossível. Basta constatar a diferença entre os dois estados que o "seu" partido governava há trinta anos