Estou cansado das mensagens que me chegam com motivos de Angola. Por várias razões: umas porque são um choro pegado, gente que vai aos sítios onde morou, tira fotografias, fala com as pessoas e faz relatos verdadeiramente patéticos do que sentiu ao verificar que os habitante de hoje ainda se lembram dos nomes antigos das ruas, das mesmas ruas que estão lá - agora mais sujas, mas desorganizadas, mas as mesmas casas, sem pintura, umas, a cair aos bocados, outras.
E o lancinante da saudade da mocidade perdida, dos bons "velhos tempos", do amor que os ligava aquelas terras e aquelas gentes.
Muitos deles são os mesmos que antes de 1974/75 debitavam enormes quantidades de amor pelas mesmas terras e pelas mesmas gentes, mas que, ao primeiro sobressalto , se esqueceram disso tudo e fugiram sem um gesto, sem uma palavra, revelando a sua verdadeira condição de colonos que até aí negavam.
Agora, muitos deles, para além do choro sobre o leite derramado fazem a apologia do que noutros tempos criticavam, como é, por exemplo, o Reino de Maconge. Durante muitos anos fomos poucos os que alimentámos a centelha, as tertúlias, o espírito de grupo e- porque não dizê-lo - as bebedeiras mensais, sem mulheres à mistura.
Aparece cada um a reclamar-se conde ou duque ou mais não sei o quê do Reino de Maconge...
Mas, enfim...também estou cansado da Nova Angola dos novos ricos, dos postais tipo Dubai atrás dos quais se escondem desgraças sem tamanho.
Por isso, por princípio, e desde há uns tempos, todas as mensagens, que pelo título, se anunciam como formas de falar de Angola passada ou de Angola de novos ricos saloios, vão para o lixo.
Hoje, porém apareceu-me uma imagem fantástica, eu diria mesmo milagrosa da mais bela estrada de Angola, da Leba. Um Fotógrafo, Kostadin Luchansky, aproveitou várias circunstâncias improváveis para fazer um retrato de sonho da Leba.
É tão bela esta imagem que devia ser aproveitada para uma campanha de informação sobre a verdadeira Angola, com os seus defeitos e as suas virtudes, sem deitar para debaixo do tapete pedaços de História.
Esta imagem fez-me recordar o sonho que eu tive para Angola, um país com igualdade de oportunidades para todos, com uma lei fundamentada nos princípios mais sólidos das culturas do xadrez das gentes que constituem o seu povo; um comércio a ombrear com o internacional, uma indústria com capacidade para transformar as suas matérias primas, uma rede de rodovias e ferrovias que transformassem este enorme espaço num sítio fácil de percorrer, onde fosse possível ir do Lubango a Malanje só para ver um amigo.
Um Estado diferente - porque a sua gente é diferente - e que pudesse servir de exemplo, não apenas aos seus vizinhos africanos, mas a muitos outros estados, incluindo europeus, convencidos de que são democráticos.
Esta imagem fez-me voltar atrás uns anos e voltar a sonhar, a lembrar-me da célebre frase de Luther King: "I Had a Dream". E já agora afirmar que lutei por ele até me convencer de que éramos muito poucos os que o viam.
Leston Bandeira, e Lisboa, 22 de Maio de 2010