Alguém me enviou pela Net a última edição do Semanário "Angolense", um nome com uma tradição muito forte na imprensa angolana. Fiquei contente com o que constatei: uma visão diferente do país da que é dada por outros jornais - que também não deixam de ser respeitáveis e, em alguns casos com a preocupação importante da independência, como, de resto, também se verifica no "Angolense".
Neste, destaco: a notícia de que Kundy Payama, ministro da Defesa, depois de ter visto ser-lhe negado um crédito bancário, foi falar com "o mais velho" (JES). Não apenas teve o "Kumbu" de que precisava ( já ninguém sabe para que é que ele quer tanto dinheiro - o homem que mais rápido fugiu da invasão sul-africana, em Outubro de 1975, com pasta "007" e pulseira de ouro), como o gerente do banco que lhe negou os "os ferros", foi demitido.
Outra notícia: a filha de José Eduardo dos Santos , Tchizé dos Santos Pêgo, vai tomar conta do primeiro canal da TPA. Como pormenor, o semanário diz que Fernando Cunha, o seu actual director, será a primeira cabeça a rolar. Não sei se Tchizé tem a mesma capacidade da irmã Isabel e pode transformar a TPA numa "coisa" suportável, mas sei que o Fernando Cunha - não apenas a cabeça, mas todo ele, já devia ter rolado há muito tempo. As emissões internacionais da TPA envergonham qualquer pessoa que tenha relativamente a Angola apenas um sentimento de simpatia, mesmo que cheia de reticências...
Outro tema deste "Angolense" tem a ver com o sétimo aniversário da morte de Savimbi. Por um lado, um repórter de guerra, Jaime Azulay, conta os últimos tempos bárbaros de Savimbi, em que ele revelou todo o desiquilibrio mental que os anos de guerra foram aumentando, transformando-o num verdadeiro assassino psicopata.
Simultaneamente, o Semanário que tenho vindo a citar publica um texto de Sousa Jamba em que afirma a pujança da UNITA e a considera a única alternativa de poder ao MPLA.
A UNITA, de facto, é importante para o futuro político de Angola, mas não o pode ser enquanto viver à sombra do fantasma do "fundador". Esse grupo de intelectuais que estão à frente da UNITA, pisada de forma violenta nas últimas eleições, tem que assumir-se com o uma força política nova e fazer "mea culpa" por não ter sabido, não ter conseguido, não ter tido a coragem de derrotar, no campo político, o selvagem que atirou Angola para uma guerra de destruição impensável.
Por muito que custe a Sousa Jamba, a UNITA tem um passado de vergonha e não de glória. Para que os seus membros possam ser úteis ao país têm que contribuir para a denúncia dos crimes inomináveis que Savimbi levou a cabo, mesmo entre os seus correligionários. De contrário, terão sempre os fantasmas de Ana (Savimbi), Vakulukuta, Wilson Pessoa, Altino Sapalalo, Antero Perestrelo, a tia de Chiwale, ele próprio salvo da morte certa, por circunstâncias pouco vulgares para Savimbi, e muitos ,muitos outros.
A UNITA é importante para Angola, mas tem que renegar o seu passado, em que o medo sememou a cobardia e ninguém foi capaz de , em nome do povo por quem diziam lutar, derrotar a fera que a si próprio chamava de "Jaguar".