Os meus dois textos anteriores versavam as eleições angolanas e os respectivos resultados - alguma esperança também ( porque não dizê-lo, embora os "angolanos puros" me neguem esse direito ?).
Tenho acompanhado com muito mais interesse a evolução política angolna dos últimos tempos, convencido de que havia mudanças a acontecer.
Devo confessar que estou desiludido. A começar pelas regalias que continuam a ser concedidas aos parlamentares eleitos...
Mas, isso é a questão menor. A mais importante tem a ver com a constituição do novo governo. E não falo da qualidade, refiro a quantidade - o que, à partida, significa uma concentração enorme d em Luanda de um poder, que,na maioria das circunstâncias é perniciosos, porque apenas vai significar a existência de um maior número de pessoas a querer enriquecer e a favorecer os amigos e os conhecidos ...
Continua-se a pensar Angola como um país pequeno, igual a tantos outros e nunca mais se esquece a matriz colonial - uma das razões por que o racismo continua cada vez mais evidente e, em alguns casos, mais violento.
Trinta e cinco ministros e sessenta vice-ministros representam uma máquina ingovernável, incapaz de pensar o país. Todos eles vão apenas olhar para si próprios e para os mais próximos.
Seria inteligante perceber que o país é enorme e diverso, que não há apenas um povo, mas vários, e que é necessário, com todos esse povos, construir um Estado unitário.
Pensando desta maneira, o esforço que se está, erradamente, a desenvolver num governo altamente concentrado, faria mais sentido se fosse canalizado para um programa de descentralização, tendente uma verdadeira regionalização, capaz de governar cada região, de acordo com as suas caracteristicas próprias, com as suas idiossincrasias culturais e outras, dentro de um programa comum de unificação de um Estado.
Este seria o princípio para a constituição de um Estado Federal, tal como os Estados Unidos e de modo a evitar futuras tentações de separações autonómicas - que vão acontecer mais dia menos dia.
Esta oportunidade que o MPLA tem, depois de uma vitória eleitoral esmagadora e sem contestação significativa, não pode ser desperdiçada no esmagamento de pequenos adversários ou na construção de um poder faraónico. O MPLA tem - agora - a obrigação de perceber o país que governa -um país que tem um milhão de formas de organizar - e esquecer, de uma vez por todas, o medo de ser neocolonizado. É que essa neo-colonização já conteceu: foi efectuada pelos dirigentes do MPLA que têm estado no poder desde há trinta anos.
Este governo, com trinta e cinco ministros e sessenta vice-ministros, daqui a quatro anos é uma presa fácil de um grupo político que tenha alguma capacidade de organização e perceber que não tem que cumprir a agenda política do MPLA. Não estou a falar da UNITA, que, do ponto de vista político nunca foi nem é nada.