Samuel Chiwale publicou há pouco tempo uma autobiografia com o título "Cruzei-me com a História".
O livro, editado pela Sextante Editora é a descrição de uma série de factos relacionados com a guerra de Angola, de que Chiwale foi um elemento muito activo, sempre ao lado de Savimbi, mesmo quando este o humilhou e lhe mandou queimar uma tia sob a acusação de feiticeira.
É uma pena que o livro não tenha um fio condutor e não se percebam muito bem os seus obejctivos. A narrativa dos seus primeiros anos de vida explica, de certo modo, o seu racismo, porque é reveladora da sua realidade pequena. Ele só conhecia o seu pequeno mundo onde os pequenos senhores se transformavam em grandes ditadores.
A sua vida dedicada à guerra, que ele, um pouco à maneira europeia, diz que foi feita para libertar a pátria (qual pátria?), foi, afinal, dedicada a expulsar os brancos. Foi, de resto, o objectivo de todos eles. E a política em Angola - em diria em toda a África - tem ainda como grande motivação esse ódio rácico.
No caso de Samuel Chiwale ele é muito evidente, sobretudo quando, tentando contrapor ao slogan do MPLA "Um só povo uma só Nação" ele diz que a UNITA considerava todas as etnias como tendo direito a governar o seu país. Mas... os brancos não faziam parte... para ele, os brancos eram o inimigo. Com duas excepções: os madeireiros com quem a UNITA negociou o transporte de abastecimentos e a venda dos seus produtos a troco da exploração das madeiras e em 1975, quando precisaram do dinheiro dos empresários portugueses para se instalarem no país.
As primeiras páginas do livro sugerem um texto de um candidato a candidato à Presidência da República, mas, depois, o texto fica tão confuso que se percebe como o grito de alguém à procura de um lugar a que se julga com direito (e certamente terá) mas a quem já ninguém reconhece autoridade.
Na descrição um pouco atabalhoada de combates e marchas, de intrigas e alianças, há uma outra grande preocupação: a defesa de Savimbi e da UNITA como movimento político, embora se perceba que Chiwale reconhece que a UNITA sempre foi um movimento militar. Daí que neste momento ninguém considere o ex- comandante geral das FALA como uma personalidade. Hoje é o tempo dos políticos. Os generais vitoriosos - os do MPLA - vão fazendo pela vida enquanto é tempo.
Ele também não se deve queixar, não deixará de ter um bom carro, uma boa casa e um bom dinheiro para gastar. O Presidente da República sabe tratar do "seu povo".